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Perdidos na livraria

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Ramon Ribeiro
Repórter

No difícil mercado livreiro, um dos pontos mais complexos é o da distribuição. Em Natal, mesmo com a aquecida produção literária, fazer o livro chegar no leitor é um desafio que tem feito as editoras se aperfeiçoar. Das várias situações de venda, as que dão melhores resultados continuam sendo o evento de lançamento e a participação em feiras literárias. Apesar do baixo movimento em livrarias, o espaço continua sendo de grande importância e não pode ser descartado. No entanto, na maior livraria de Natal, a Saraiva do Midway Mall, um grupo de editores tem encontrado tantas dificuldades em manter uma parceria, que alguns já estão repensando se vale a pena continuar com obras na loja.

Com oito títulos em consignação na livraria, o editor da Caravela Selo Editorial, José Correia Neto, diz que há um ano busca conseguir informações sobre as vendas, mas não obtém retorno, seja por telefone, e-mail ou presencialmente. “Nossos livros não estão em exposição nas prateleiras, nem no sistema de busca e a prestação de contas não é feita”, afirma. O editor então solicitou seus livros de volta, mas até isso está complicado, pois foi informado pelos funcionários que as obras não estão no sistema, o que dificultaria encontrá-los.

Editoras locais, como a Caravela Selo Cultural, reclama do relacionamento do livraria: “Obras sequer foram cadastradas no sistema”
Editoras locais, como a Caravela Selo Cultural, reclama do relacionamento do livraria: “Obras sequer foram cadastradas no sistema”

Quem também tem problemas com a livraria são as editoras CJA Edições e a Jovens Escribas. Com 15 títulos na Saraiva, Cleudivan Jânio conta que também já buscou informações sobre a situação das obras e em pouco mais de um ano, as notícias são poucas. No entanto, ele se diz surpreso, pois, em abril, notou que havia um depósito da livraria em sua conta. “Ele fizeram um depósito. Mas a prestação de conta ainda não foi feita. Quando procurei saber quais e quantos livros foram vendidos, não obtive resposta”, comenta. Insatisfeito, ele está atrás dos livros não vendidos de volta. “Essa prática deles desestimula os editores a deixar obras lá. Parece que estamos pedindo um favor. Quero retirar o que ainda resta”.

Procurada, a assessoria de comunicação da Livraria Saraiva informou que está apurando a situação para dar os devidos esclarecimentos.

A Saraiva era vista pelos editores como ponto estratégico na distribuição de livros na cidade. Mas com a falta de trato com os editores, a parceria enfraqueceu. Editor da Jovens Escribas, Carlos Fialho conta que sempre teve um bom relacionamento com a loja, no entanto, a situação mudou a partir de 2016. “Ano passado deixamos um cota de livros para serem vendidos, mas, até onde fui informado, as obras não foram cadastradas no sistema. Eles mudaram o relacionamento com a gente de forma repentina. Quando a gente procura informações sobre os livros em consignação eles não dão retorno”, comenta Carlos Fialho.

O que deixa os editores ainda mais chateados é que mesmo com todo o tratamento dado, o preço de venda cobrado pela livraria continua elevado. “Chega a cobrar 40% do preço de capa. É muita coisa. Dessa forma os custos com a livraria ficam maiores do que com a impressão”, reclama Correia Neto.

Os editores procurados pela reportagem contam que os problemas encontrados com a Saraiva não se repetem com as outras livrarias da cidade. “Existe uma burocracia, claro, mas anda. A prestação de conta é feita, a exposição nas prateleiras acontece”, diz José Correia. Ele explica que a praxe é manter um contato com a livraria de três em três meses, quando é feito o pagamento e o acervo é renovado. “A relação editora e livraria tem que ser bilateral, se algo está dando errado, eu prefiro me afastar”.  Os três editores apontaram a Cooperativa Cultural da UFRN como a livraria com melhor relação com as editoras e autores locais.

Distribuição alternativa
Na tentativa de driblar as dificuldades de distribuição dos livros na cidade, as editoras locais têm buscado a ampliação das atividades na internet. Uma novidade é o surgimento da Trairy Book, plataforma que aglutina livros de autores independentes e de várias editoras locais, ampliando o encontro dos leitores com a literatura potiguar. “Criamos a Trairy Book para transpor o obstáculo da distribuição. Estamos com um catálogo na Amazon. Quando algum dos livros é solicitado somos informados e nós mesmos mandamos a obra para o cliente”, diz Cleudivan Jânio, um dos criadores da plataforma.Além das vendas virtuais, a Trairy também tem atuado em feiras de livros, principalmente a Feira de Livros e Quadrinhos de Natal e a Feira do Livro de Mossoró.

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