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Perícia confirma que Andréia agonizou por horas antes de morrer

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DEPOIMENTO - Andrei surpreende polícia pelo fato de ter enterrado duas vezes o corpo

O depoimento da filha de 12 anos de Andréia Rosângela foi ratificado pelos exames preliminares realizados pelos peritos criminais e médicos legistas do Instituto Técnico Científico de Polícia (Itep). A criança disse que no dia do crime (22 de agosto) ouviu gemidos e batidas vindos de dentro do quarto de casa e temia que pudesse ser de sua mãe. O Itep confirmou ontem que Andréia foi morta com uma facada no tórax que fraturou pelo menos três costelas e perfurou o pulmão. A morte, pelos exames, foi lenta, sendo possível que os gemidos ouvidos pela menina tenham sido da mãe ainda viva.

Os peritos criminais Marcos Guimarães e Paulo Roberto acompanharam todas as perícias do caso. Eles disseram que Andréia foi morta com uma facada no tórax. A faca fraturou pelo menos três costelas e perfurou o pulmão direito, causando hemorragia. Esse tipo de ferimento provoca morte lenta e dolorosa.

Esse fato – da possibilidade de Andréia não ter morrido instantaneamente – ratifica o depoimento da filha da vítima. Ela disse ter ouvido gemidos vindos da casa por volta das 12 horas do dia 22 de agosto. A menina estava acompanhada de Andrei Thies, assassino confesso, e foi impedida de entrar no imóvel pelo padrasto. A criança contou ainda que viu pelo combogó do banheiro – visível pelo lado de fora da casa –  que a luz estava acesa. Nesse horário, segundo Andrei, a vítima já estava morta, o que será confrontado diante do depoimento da menina.

Outro fato que ratifica esse depoimento foi a localização de vestígios de material orgânico (que pode ser sangue) nas paredes do quarto e no banheiro da casa, onde Andrei e Andréia moravam. Os peritos explicaram que os exames realizados na casa do Cidade Verde – local do crime – não descartam a possibilidade da localização de vestígios de sangue. Isso vai de encontro à afirmação feita pelo diretor do Itep, Fábio Dantas, de que os exames deram negativo. Segundo Marcos Guimarães, fragmentos retirados da casa ainda seriam submetidos a exame de DNA no laboratório de criminalística da polícia técnica da Bahia.

Ainda segundo os peritos é falsa a afirmação de que os laudos atrasaram. “Os exames são demorados, não é que atrasaram. Realizamos nesse caso cinco perícias do tipo dinâmica. Ou seja, quando avançamos nos exames informamos os resultados ao delegado, sem a necessidade de ter um laudo assinado ou da peça formal. A perícia realizada ajudou a polícia a dar um norte para o caso e foi feita de forma integrada”, disse Marcos Guimarães. 

Liberação do corpo

O Itep ainda não definiu prazo para a liberação do corpo de Andréia. O cadáver passa por uma série de exames para identificá-lo através da arcada dentária e outros para definir a causa do crime. Um dos exames é o toxicológico. Amostras do fígado e cérebro da vítima são examinadas para saber se ela foi dopada. A irmã de Andréia, Priscila Rodrigues, disse que a família aguardará todo prazo solicitado pela polícia para não atrapalhar a investigação.

Delegado acredita que Andrei teve ajuda de alguém

O delegado Geral da Polícia Civil, Ben-Hur Cirino de Medeiros, acredita que Andrei não cometeu o assassinato sozinho. A par de todas as etapas da investigação, Ben-Hur disse que a polícia trabalha agora para individualizar o crime. “Acredito, como o delegado Rolim, que os pais têm participação, mas precisamos individualizá-la”, falou.

Segundo Ben-Hur, o depoimento de Andrei só foi surpreendente no tocante à informação de que ele teria enterrado o corpo de Andréia duas vezes, uma na Base Aérea de Natal e outra na casa dos pais, em Ponta Negra. “A confissão era esperada depois da localização do corpo, mas nos surpreendeu ele ter dito que enterrou o corpo duas vezes. Isso mostra frieza”, falou.

Para o delegado geral, o trabalho da polícia ainda não terminou. “A parte mais complicada foi resolvida que foi a localização do corpo, mas ainda precisamos esclarecer a participação dos pais e do irmão de Andrei no caso”, disse.

Hamilton e Mariana Thies, pais de Andrei, e o irmão dele, Rodrigo, continuam presos sob a acusação de terem ocultado o corpo de Andréia, no quintal da casa onde moravam, na Rua São Matias, em Ponta Negra. O advogado deles, Álvaro Figueira, vai entrar com um pedido de arbitramento de fiança para que os três respondam ao processo em liberdade. O crime de ocultação de cadáver prevê pena de um a três anos de reclusão.

Polícia encontra simpatia com nome de Rolim

Na busca realizada na segunda-feira na casa dos pais de Andrei, em Ponta Negra, os policiais da homicídios encontraram um material curioso. No congelador da geladeira foram encontrados 18 papéis com o nome do delegado Raimundo Rolim, que investiga o caso, e outro com a assinatura do policial.

Andrei Thies, ao ser questionado pelo delegado sobre o assunto, disse que era uma simpatia ou um tipo de macumba para esfriar a investigação. Os papéis foram encontrados no mesmo dia em que o corpo de Andréia foi localizado.

Base confirma acesso de Andrei

Andrei Bratkowski Thies falou a verdade ao afirmar que esteve na Base Aérea de Natal, no dia seguinte ao assassinato de Andréia Rosângela Rodrigues. Se de fato, ele enterrou o corpo dela na unidade da Aeronáutica ainda será investigado, mas o comando da Bant já tem em mãos os papéis do controle de acesso que demonstram a entrada do carro de Andrei no dia 23 de agosto.

Em entrevista coletiva concedida na tarde de ontem, o comandante da Bant, coronel aviador Carlos Eduardo da Costa, disse que o horário da entrada do sargento no portão de Emaús foi às 15h. Apenas uma hora a menos que a estimada por Andrei no depoimento em que confessou o homicídio à polícia. “Ainda vamos investigar, junto com o delegado, se ele estava sozinho”, ponderou o comandante.

Sobre a possibilidade de o sargento ter chegado a sepultar a mulher na Bant, o Cel. Av. Carlos Eduardo disse que não está descartada, já que a área da unidade é muito grande – 1340 hectares no total. Além disso, há de se levar em conta que fazem parte da Bant muitas áreas de bosque e Mata Atlântica, sendo acessíveis para os militares.

Porém, o comandante ressaltou que, particularmente, vê também a possibilidade de Andrei estar mentindo novamente, visto que o fez durante todo esse tempo, inclusive no primeiro contato que teve com ele. “Ele estava sentado na minha frente, olhando nos meus olhos e disse, frio, que ainda tinha esperança de que a mulher voltasse”, lembrou.

O Cel. Av. Carlos Eduardo da Costa contou que estranhou o fato de ninguém na Bant ter tomado conhecimento do desaparecimento de Andréia, antes que o caso chegasse à imprensa. “Foi quando o chamei para conversar. Perguntei porque não havia contado nada ao comandante dele, ou a mim. E ele respondeu que não queria trazer para cá os problemas de casa”.

Depois que a polícia assumiu o caso, o comandante da Base Aérea foi orientado a não falar mais sobre o assunto com Andrei. Depois que a trama foi descoberta, o coronel-aviador sentiu vontade novamente de conversar com o sargento, mas foi orientado a não fazê-lo. Ele disse que todos na Bant estão consternados pelo acontecido. “Nós temos orgulho de usar esta farda. Basta arranhá-la para que todos aqui fiquem chateados”, desabafou.

A Aeronáutica também vai investigar a entrada de Andrei Thies na base no dia 23 de agosto e já pediu à polícia a cópia do último depoimento dele. Segundo o comandante, a Bant sempre esteve, e continua à completa disposição do delegado Raimundo Rolim, cujo trabalho fez questão de classificar como “muito competente”.

Na tarde de ontem, uma equipe do Itep esteve na Base Aérea de Natal, para que fosse feita uma “reprodução simulada dos fatos”, isto é, uma reconstituição. O que pode significar um sinal de que o sargento teria indicado o local em que teria enterrado, e ido buscar seis dias depois, o corpo de Andréia Rosângela. 

Irmã de Andréia espera liberação

A irmã de Andréia Rosângela, Priscila Rodrigues, programa retornar para o Rio Grande do Sul ainda hoje. No entanto, a única pendência para a viagem é a autorização judicial para conceder a guarda provisória da pequena Andriele, 1 ano, a filha da vítima com o militar da Aeronáutica.

A viagem de retorno será triste, mas em tom de alívio. “Pensei que iria sair daqui com mágoas. Mas as pessoas me receberam bem, a polícia, fiz amigos que me ajudaram, deixarei laços de amizades. Mas vou levar o que eu não queria: o corpo da minha irmã. Andrei já tinha dito isso que ela só voltaria para o Rio Grande do Sul morta, e conseguiu”, afirma Priscila, com a voz embargada de emoção.

A família já decidiu que o corpo de Andréia Rosângela será sepultado na cidade de Três Cachoeiras, terra natal da vítima. Mas ainda não há data definida. “Estamos dependendo da liberação do corpo, que está em análise. Não queremos apressar. Todos os exames serão feitos para evitarmos enterrar e depois ter que fazer exumação”, comentou Priscila Rodrigues.

Ela detalhou que já acertou com o delegado Bem-hur de Medeiros para ele providenciar os trâmites do traslado do corpo de Andréia Rosângela para Porto Alegre. Priscila Rodrigues diz que acredita na condenação do sargento: “Não ficará impune. A justiça tem que ser feita. Ninguém pode se esconder atrás de uma farda ou de um cargo”.

Ela explicou que  a sobrinha de 1 ano está com o irmão, Alexandre Marotzky, em Recife, mas o destino será mesmo a cidade de Tramandaí, no Rio Grande do Sul, onde Priscila reside. Sobre a separação do bebê e da irmã de 12 anos, filha de Andréia com um relacionamento anterior ao de Andrei, a tia explicou que a criança está com o pai, que mora em Porto Alegre. “Ela está conhecendo o pai agora. Mas já é grande e poderá escolher com quem quer ficar. Se ela quiser morar comigo receberei com todo amor. Mas também se quiser ficar com o pai poderá ver a irmã sempre, porque as duas cidades são próximas”, comentou Priscila Rodrigues.

Sargento poderá ser expulso

O sargento Andrei Thies está sozinho na cela da Base Aérea de Natal. Cela comum, com um beliche e um vaso sanitário. Lá dentro, uma pilha de livros, levados pela família do sargento. O comando não soube informar qual a leitura do sargento gaúcho que confessou ter matado a esposa e enterrado o corpo dela duas vezes.

O militar almoça com talheres de plástico e é mantido sob vigilância permanente de homens da Aeronáutica. Foram retirados dele os cadarços dos tênis e o cinto, um procedimento padrão para evitar que se suicide. E todos os dias, ele tem direito a um banho-de-sol de meia hora, pelo menos até que a justiça determine o contrário.

Caso seja condenado a mais de dois anos pela Justiça Comum, Andrei Thies perderá automaticamente a patente de sargento e será expulso da corporação, sem qualquer direito. Caso isso aconteça, o salário, que hoje gira em torno de R$ 2.500, será destinado à sua filha Andrieli, que hoje tem um ano de idade. A ficha de Andrei, em 17 anos de Aeronáutica não tem uma mancha sequer. Ele era considerado um militar padrão, que cumpria horários e fazia seu trabalho corretamente. Agora, uma sindicância no âmbito da Bant também será aberta, para investigar as circunstâncias da entrada dele na unidade em 23 de agosto.

Família aguarda decisão sobre guarda da criança

A família de Andréia Rosângela Rodrigues, a mulher assassinada pelo sargento Andrei Thies, está na expectativa da concessão da guarda provisória da pequena Andriele, 1 ano, filha da vítima com o militar. O advogado Francisco Sandro dos Santos já fez o pedido ao juiz da 2ª Vara da Infância, mas a Justiça ainda aguarda o parecer do Ministério Público para poder analisar o caso.

O advogado Francisco Sandro acreditava que o pedido seria deferido ainda ontem, no entanto, o parecer do Ministério Público não foi enviado para o Judiciário.

A guarda provisória não é o único pedido feito pelo advogado da família de Andréia Rosângela. No mesmo processo também consta o pleito de que Andrei Thies seja destituído do poder familiar. Na prática, o que a família de Andréia Rosângela quer é que o sargento perca os direitos de pai sobre a criança.

“O pedido liminar sairá para os dois casos: a destituição do poder familiar e a guarda provisória”, comentou Francisco Sandro.

Enquanto o advogado da família de Andréia Rosângela busca a guarda provisória da criança, o advogado da família do sargento Andrei Thies, Álvaro Filgueira, trabalha em outra “vertente”.

Ele entrará hoje com o pedido de liberdade provisória para os pais do militar, Hamilton e Mariana Thies, e o irmão dele, Rodrigo Thies. A tese que o advogado sustentará é o fato de que os três familiares não participaram da ocultação do corpo. “Eles sabiam que o sargento havia matado a mulher, mas não tinham conhecimento onde ele enterrou. disse.

Professor ajudou a polícia com detector de metal

O trabalho da polícia para encontrar o corpo da dona-de-casa Andréia Rosângela Rodrigues teve um capítulo curioso. Um jovem de 30 anos, professor de Ensino de Arte da rede municipal de ensino, atuou voluntariamente no trabalho. Um docente que comprou um detector de metal para tentar encontrar uma “botija”, mas terminou atuando como figurante no trabalho para desvendar um crime de grande repercussão em Natal.

O docente prefere não ser identificado por questão de segurança. Mas contou que, ao saber por uma colega de trabalho que o delegado Raimundo Rolim havia dado declarações à imprensa afirmando que iria aguardar a chegada de um detector vindo da Bahia, resolveu procurar a delegacia. “Liguei para a delegacia, disse que tinha um detector de metais e deixei meu telefone”, contou.

Na tarde de segunda-feira, o professor recebeu a ligação do delegado questionando se ele teria mesmo interesse em ajudar a polícia. Com a resposta positiva, o jovem seguiu com a polícia para a casa dos pais do sargento Andrei Thies. O grupo logo se dirigiu para o quintal da casa.

O primeiro disparo do detector de metal ocorreu quando identificou a presença de um arame no solo. Mas foi o segundo alarme que ajudou a polícia. “Quando soou eu olhei para a terra e com uma colher de pedreiro vi que a areia estava fofa. Os policiais começaram a cavar”, comentou o professor.

E por que o professor comprou um detector de metal? Ele lembrou que durante o estudo na universidade fez uma pesquisa sobre Mitos e Lendas Norte-rio-grandenses. Com o conhecimento de que jesuítas haviam enterrado tesouros, o professor resolveu ir atrás e tentar encontrar as riquezas.

E o primeiro passo foi comprar um detector de metais. A negociação foi feita pela Internet e o equipamento Ace 2000 foi adquirido por R$ 1.100. O primeiro lugar a procurar botija foi o Parque das Dunas. “Lá eu só encontrei lixo enterrado, latas. Depois fui para Extremoz e ainda fui para o Forte dos Reis Magos. Só encontrei lixo”, disse o professor.

O equipamento agora está inutilizado e o desejo do docente é comercializá-lo. “Bem que a polícia daqui poderia comprar o detector de metais. Está à venda”, comentou.

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