Vicente Serejo
Aviso, antes que seja tarde: Miguel-Manso, com hífen, é poeta. Um português da nova geração, ali do fim dos anos setenta. É nascido em Santarém, hoje vivente da pequena aldeia portuguesa de nome Sertã. Sua vida de poeta começa em 2008, bem dizer ontem, com o livro “Contra a manhã burra”. O mais recente, que se saiba, é ‘Persianas’. Leio Manso e amanso a vida numa paráfrase da belíssima canção de Luiz Melodia, ele que cantava para amansar a dor.
Sua impressão, deixada numa entrevista à Folha de S. Paulo, é de que as pessoas vivem hoje de “olhos arregalados com as atitudes absurdas e barbaridades ditas pelo chefe da Nação”. As declarações do presidente Jair Bolsonaro – ela não pronuncia o seu nome – chegam aos ouvidos dos brasileiros cheias de ódio. É um governo eleito pelo voto que trata a arte, a cultura e as ciências como inimigos. E ela quer enfrentar a violência com serenidade, sem exaltações.
Aliás, um dos instantes melancólicos do monólogo está no desabafo do seu colega de direção do espetáculo, quando diz: “As tempestades continuam, com elas eu me acostumo. Mas não posso me acostumar com o tempo nublado o tempo todo. Há que buscar claridade”. É bom melhor avisar logo que a melancolia tem sido um dois nichos vigorosos do mercado editorial brasileiro. De autores não apenas nossos, mas de grandes nomes hoje consagrados no mundo.
Ao todo, entre citações curtas e longas, a platéia ouve cerca de trezentas histórias. E Denise Fraga explica: “As pessoas iam escrevendo suas melancolias e nós fomos juntando”. E depois: “O esforço – diz ela – é trançar a vida cotidiana e levá-la ao patamar da poesia”. Ou, para usar a mesma frase de Denise que acaba sendo um instante de algum esplendor diante da vida áspera e sem graça de muitos brasileiros: “Subir ao degrauzinho do sublime”. Subiremos?
RETRATO – O MDB do Rio Grande do Norte é lua em quarto minguante. Encolheu tanto que sua convenção, dia 21, vai caber no salão no edifício de sua sede. Longe do passado de fulgor.
VALOR – Vem ai, pela editora Alfaguara, a obra completa do poeta João Cabral de Melo Neto. Livros, discursos, ensaios e textos inéditos. Além de uma fotobiografia no Brasil e no mundo.
SÉCULO – A homenagem a João Cabral, no próximo ano, é pelos cem anos de nascimento do poeta. Em entrevista a Edla Van Steen chegou a declarar ter horror a reviver fatos de sua vida.
VISÃO – A poetisa Diva Cunha largou no criado mudo os alfarrábios literários e atravessou o Atlântico. Foi vista rezando no Vale de Los Caídos e depois tomando vinho num bar de Toledo.
ÍCONE – O escritor Manoel Onofre Jr. na revisão da biografia intelectual de Antônio de Souza, o governador – duas vezes – que foi um dos mais importantes ficcionistas do Século XX no RN.
ARTES – Mãe Luiza reúne as forças da comunidade e realiza a I Semana de Artes entre os dias 17 e 19 próximos. Aquarelas, fanzines, quadrinhos, fotografias, teatro, dança, mídias e agitos.
TOM – A estratégia da senadora – levará seu discurso ao maior fórum político do país, que é o Senado – teve o bom cuidado de falar ao lado de um empresário de grande porte, herdeiro da Coteminas, Josué Alencar, filho de José Alencar, vice de Lula nos dois mandatos presidenciais.
NEURO – O advogado Daniel Pessoa foi uma das estrelas do seminário sobre ‘Neurociência e decisão judicial’. É autor da primeira tese de doutor sobre a contribuição da neurociência à explicação da decisão jurídica. É professor da Universidade Federal, a UFERSA, em Mossoró.