Itamar Ciríaco
Editor de Esportes
A realidade regional, exposta pela pesquisa da Pluri Consultoria, com dados referentes a 2019, também é reproduzida no rio Grande do Norte e alguns números alarmantes corroboram estes problemas levantados. Apenas 41% das cidades nordestinas contaram com clubes de futebol disputando competições profissionais em 2019. No caso específico potiguar, apenas 3,8% dos 167 municípios possuem clubes profissionais.
Esses números colocam o RN apenas como a 19ª unidade de federação (entre as 27) com mais clubes de futebol em atividade em 2019, ao todo foram 13, e a 21ª em número de cidades que contaram com algum desses clubes, 7.
A capital potiguar, de acordo com o estudo é o município potiguar que conta com mais clubes profissionais em atividade no estado (6), em 2019. Curiosamente, São Gonçalo do Amarante, cidade conurbada com Natal, aparece como a mais populosa do Rio Grande do Norte (102.400 habitantes) a não contar com um clube profissional em atividade no ano de 2019. Para piorar, o município que possui o aeroporto é também o mais rico (1,4 bilhões de R$ de PIB” a não contar com uma equipe profissional.
São Gonçalo chegou a ter uma das equipes mais fortes a disputar o Campeonato Estadual do Rio Grande do Norte. O time que levava o nome da cidade e tinha o apelido carinhos de “Touro” chegou a fazer frente à ABC e América várias vezes, no entanto, sumiu do mapa tão repentinamente como teve sua ascensão.
O presidente da Federação Norte-rio-grandense de Futebol, José Vanildo considera que o desaparecimento, ou afastamento dessas equipes do interior se deve ao sumiço de alguns beneméritos que deram força econômica e política a esses times. Nas demais situações, de acordo com o dirigente, os problemas locais são semelhantes ao que acontece nos demais estados brasileiros.
“Sou do tempo do Coríntians de Caicó campeão com a força do vereador Lobão, a força do atual prefeito de Natal, Álvaro Dias, tínhamos o ASSU com um prefeito forte, Daílson Machado, que também foi campeão estadual, o Potiguar de Mossoró com a tradição de apoio empresarial, tínhamos o Baraúnas de João Dehon. Ou seja, o problema foi o desaparecimento de beneméritos. Na proporção que esses somem pelas dificuldades econômicas e pelo avanço e profissionalização do futebol no contexto geral do esporte, há uma tendência natural ao prejuízo dos clubes. Lembrando que todos aí tinham a força política. Quando você soma isso, as coisas são diferentes. Tivemos por exemplo o Santa Cruz com o deputado Tomba, tínhamos Marconi Barretto, muito forte em Ceará-Mirim. Então, existe apenas a diferença de ABC e América devido a presença maior do profissionalismo, mas no geral as dificuldades são falta de apoio, amadorismo, falta de investimento nas bases e o desinteresse público, que poderia aproveitar a ferramenta futebol como instrumento de divulgação”, explicou.
Na visão do dirigente da FNF, a associação entre o público e o privado ajudariam no desenvolvimento do futebol nas cidades interioranas. “Quantas vezes fui assistir jogos em Santa Cruz e a cidade estava lotada para ver jogos do ABC e América. Ou seja, gera emprego e renda, comunicação, divulgação, destino da cidade. Tem que haver um entendimento dessa importância. Mas essa dificuldade no interior se assemelha a situação da pequena empresa, que também passam por dificuldades”, disse.
As categorias de base são apontadas pela FNF como a saída para a formação de clubes profissionais no Interior e também para consolidação de times na capital potiguar. “Os clubes têm que se voltar para as bases, rever seus conceitos. Temos um exemplo clássico. A dificuldade do Alecrim não é diferente da do time de Mossoró. A dificuldade do Palmeira, que é na área metropolitana também não é diferente. Tínhamos antes ilhas de prosperidade. Futebol é muito mais que o momento, é um negócio que deve ser tratado com planejamento, obediência a regra e ações que consagrem o produto dentro do Estado”, analisa José Vanildo.
Calendário
Outro problema recorrente e que acaba refletindo no todo quando o assunto é futebol é o calendário nacional. Dez em cada 10 pessoas ligadas ao esporte têm críticas a distribuição das competições no País.
A pesquisa realizada pela Pluri Consultoria coloca mais um ponto negativo nesse calendário. Além de confuso, poucos clubes conseguem estar inseridos 100% na programação anual do futebol brasileiro. Ou seja, a maioria dos times, ainda que profissionais, são sazonais.
O estado foi o 12º em utilização do calendário, com média de 34,0%. O Rio Grande do Norte contou com 4 clubes disputando alguma divisão do Campeonato Brasileiro em 2019. Enquanto de janeiro a abril, 62% das equipes potiguares estiveram em atividade, em agosto apenas 15% delas disputaram algum tipo de competição, segundo dados da Pluri.
Nordeste
Apenas 41% das cidades nordestinas contaram com clubes de futebol disputando competições profissionais em 2019.
Na Bahia apenas 2,6% das cidades contaram com algumas dessas equipes, ou seja, mais de 67% da população baiana vive em cidades que não contaram com futebol profissional no ano passado.
No Piauí e em Sergipe, a taxa de utilização do calendário útil do futebol foi inferior a 20%. Significa que aqueles poucos clubes, que conseguiram atuar, jogaram, em média, apenas 2 meses do ano.