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Pesquisas eleitorais indicam que Maduro será reeleito

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Héctor Madera leva sua batalha pela revolução socialista da Venezuela para as ondas de rádio semanalmente. A salsa inunda o estúdio de uma pequena estação na favela de San Agustín, em Caracas, enquanto ele se inclina para o microfone e abre seu programa de entrevistas. São duas horas de transmissão. Madera diz aos fiéis ouvintes que os Estados Unidos, agressores imperialistas, estão travando uma guerra econômica contra seu país.

Nicolas Maduro é acusado de governar a Venezuela através de um regime totalitário há décadas

“A ameaça que a Venezuela representa é porque coloca as pessoas em primeiro lugar”, afirma, contrastando o império americano impiedoso com seu governo, que forneceu lares para mais de um milhão de famílias. Apesar dos apoiadores engajados, a revolução chavista da Venezuela hoje é testada como nunca antes em suas quase duas décadas de poder.

As pesquisas apontam que a maioria da população acredita que o atual presidente, Nicolás Maduro, será eleito para um segundo mandato nas eleições do próximo domingo, mas ele terá um trabalho árduo para convencer venezuelanos e governos estrangeiros de que a votação foi justa. Funcionários do governo impediram que seus principais oponentes participassem da corrida eleitoral.

Os principais partidos de oposição boicotarão a disputa, e o maior oponente de Maduro é Henri Falcón, um ex-chavista. Muitos suspeitam que a candidatura de Falcón tenha anuência do governo e não teria autorização para assumir o cargo, mesmo que conseguisse vencer.

A economia da Venezuela também enfraqueceu o humor dos eleitores. Os anos de má administração corroeram a indústria petrolífera, que já foi robusta e é a principal fonte de renda do país. A produção é menor do que há 70 anos e as sanções econômicas impostas pela administração de Donald Trump sufocam o governo, faminto por dinheiro, enquanto se esforça para alimentar sua população.

A favela de San Agustín foi uma fortaleza para Maduro, que liderou os votos da vizinhança com 20 pontos de vantagem na última eleição. Desde então, as fileiras de apoiadores viram um fluxo constante de desertores. Dentre esses, está Emilio Mujica, dono de um café, que apoiou Chávez e Maduro fielmente.

Desta vez, no entanto, ele vai votar em Falcón por sua promessa de dolarizar a economia, afetada pela inflação anual, atualmente estimada em 14000% em 2018, segundo o FMI. “Isso é uma tragédia” diz Mujica, apontando para a rua em San Agustín, de dentro do seu negócio. “Toda crise tem uma solução.”

Os sinais de decadência estão por toda parte em San Agustín. O lixo acumulado nas ruas não é recolhido, criando enxames de moscas e um fedor intenso. A água das torneiras vai e vem.

O desespero se torna óbvio dentro do café, quando possíveis fregueses vão até o balcão e perguntam os preços das empanadas ou da sopa. Os valores são modestos, mas incapazes de pagar por qualquer coisa, as pessoas se viram e vão embora, alguns pedindo ajuda aos clientes que estão comendo no local quando saem.

Mujica detesta Trump, mas diz que os venezuelanos estão pagando o preço pela liderança fracassada de Maduro. “Chávez representou a mudança, mas ele morreu”, afirma. Ele acredita, porém, que o sistema eleitoral da Venezuela vai corrigir a crise do país.

Moradores mais céticos dizem que a máquina do governo fraudará a votação, garantindo o poder a Maduro através do uso da alimentação como uma arma política e através de ameaças.

Em comícios diários transmitidos pela TV estatal, Maduro dá um “prêmio” aos eleitores que vão aos locais de votação com seus “cartões de pátria”, que foram emitidos a mais de 16 milhões de partidários. Maduro diz que está estimulando a participação dos eleitores, mas críticos caracterizam a ação como suborno em massa.

Seus opositores também apontam para sua retórica durante um discurso recente, afirmando que a fala foi uma tentativa de intimidar os eleitores. “Se um dia um governo for instaurado e tentar entregar as riquezas de nossa nação, eu serei o primeiro a pegar um rifle em nome da revolução armada”, disse o presidente.

Em San Agustín, os moradores disseram que militantes pró-Maduro checaram os cartões de votações nas eleições para prefeito no ano passado, em estações colocadas ao lado dos locais de votação. Há ainda os que temem perder as entregas de alimentos subsidiadas pelo governo ou mesmo seus empregos, caso não votem em Maduro.

Outro lembrete ainda mais agourento do poder do governo está no topo de San Agustín: o prédio em forma de hélice, sede da temida polícia de inteligência, a Sebin, local onde dezenas de opositores estão presos.

“A verdade é que a revolução é um pesadelo”, disse o carpinteiro Luis Sosa, de 36 anos, enquanto reformava a madeira de um sofá, numa oficina. “Em eleições limpas, o governo perderia”, acrescentou.

Outro morador da região ­- que concedeu entrevista sob a condição de anonimato porque teme retaliação – disse que recebeu telefonemas ameaçadores no ano passado, depois de arrancar cartazes pró-governo que estavam do lado de fora da sua casa e postar mensagens no Facebook em apoio à oposição. Ele suspeita que as ameaças vieram de um “colectivo”, grupos de apoio ao governo, frequentemente armados e que circulam pela vizinhança em motocicletas, à noite, instigando medo nos moradores.

Outros ainda defendem Maduro ferozmente, apesar dos desafios óbvios.

Eles apontam para um teatro, construído na década de 1940, que foi reformado e agora é a joia da comunidade. Também existem programas governamentais de saúde e educação. As casas pintadas em cores brilhantes são enfeitadas graças a um programa do governo para decorar bairros pobres.

Uma linha de teleférico construída pelo governo transporta os moradores. Aos finais de semana, pais enchem as arquibancadas da praça principal de San Agustín, torcendo pelos garotos que jogam na liga de basquete do bairro e vestem uniformes novos, também fornecidos pelo governo.

No entanto, o ex-ministro do Comércio da Venezuela e colunista do ‘Estado’, Moisés Naím, disse que as páginas dos livros de história estão cheias de pessoas presas a ideias mortas, o que ele chama de “necrofilia política”. Naím é o criador da minissérie de TV “El Comandante”, crítica a Chávez, que foi proibida na Venezuela.

Para ele, uma das políticas mais prejudiciais de Chávez foi assumir grandes áreas da economia e encolher os negócios privados. “Você experimenta o açúcar e ele te satisfaz por um tempo, mas não te nutre”, afirma Naím. “Isso é o que aconteceu com o Chavismo.”

O apresentador de rádio Madera lembra às pessoas que encontra nas ruas do sonho revolucionário que Chávez lançou. Ele leva a mensagem de porta em porta, com um grande megafone.

Madera está confiante de que 10 milhões de revolucionários comparecerão aos locais de votação no domingo, para impulsionar Maduro numa disputa justa e honesta. Eles não vão votar em Maduro, o homem, mas na personificação dos ideiais de Chávez, que representa a batalha para libertar a Venezuela do poder do capitalismo.

“Claro, nós temos problemas profundos. Mas é por causa desses desafios que lançamos a revolução”, diz Madera, acrescentando que depois de uma geração no poder, o Chavismo agora faz parte do tecido social da Venezuela. “Como você pode duvidar que sua mãe é sua mãe se você a conheceu a vida toda? Como você pode duvidar do ar que você respira?”

Estadão Conteúdo

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