São Paulo (AE) – O ex-ministro Gilberto Carvalho foi ouvido ontem, pela Polícia Federal, em um inquérito da Operação Zelotes, que investiga a suposta compra de Medidas Provisórias para favorecer o setor automotivo. Documentos apreendidos pela PF revelam que o ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República no Governo Dilma (2011/2015) e assessor do ex-presidente Lula no Palácio do Planalto teria recebido ‘um kit’ do esquema de consultorias envolvidas com o suposto esquema das MPs.
A PF questionou lobistas presos ou conduzidos coercitivamente sobre o conteúdo do ‘kit’. Os investigadores também encontraram outros documentos durante buscas realizadas nas etapas anteriores da Zelotes. Um desses documentos aponta para uma reunião entre o consórcio formado pelas consultorias SGR e Marconi & Mautoni e Gilberto Carvalho e do qual constam especificações de valores e momentos de pagamentos, segundo os investigadores.
A Zelotes sustenta que Gilberto Carvalho “atuou em conluio” com Mauro Marcondes “quando se trata da defesa dos interesses do setor automobilístico”.
Relatório de inteligência da Polícia Federal diz, ainda: “Constatamos que as relações mantidas entre empresa (Marcondes) e Gilberto Carvalho são deveras estreitas. Documentos fortalecem a hipótese da compra da MP 471 para beneficiamento do setor automotivo, utilizando-se do ministro que ocupava a ante sala do então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, responsável direto pela edição de Medidas Provisórias.”
Gilberto Carvalho foi ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, no Governo Dilma (2011-2015), e assessorava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto.
#SAIBAMAIS#O ex-ministro foi intimado a prestar depoimento e compareceu espontaneamente à PF. Ele não foi alvo dos mandados de buscas e nem de condução coercitiva que atingiram investigados na nova fase da Zelotes deflagrada hoje pela PF, Receita e Ministério Público Federal.
Segundo investigadores, Gilberto Carvalho foi citado por vários personagens envolvidos no suposto esquema de compra de Medidas Provisórias. O nome do ex-ministro consta de uma agenda do lobista Alexandre Paes dos Santos, o ‘APS’, relacionado a informações sobre a MP 471.
Empresário garante que vai esclarecer
São Paulo (AE) – O advogado criminalista José Roberto Batochio, que defende o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, do grupo CAOA, diz seu cliente foi ouvido pela Polícia Federal na condição de testemunha e que ele “esclareceu todos os pontos abordados”. “Havia, sim, um mandado de condução coercitiva para CAOA, mas o mandado nem precisou ser executado. Meu cliente compareceu espontaneamente, até porque tem o máximo interesse em que tudo isso seja esclarecido”, afirmou Batochio à reportagem.
Segundo o advogado, a PF quis saber do empresário se ele teve casos submetidos ao Conselho Administrativo de Recursos Federais (Carf). Oliveira Andrade respondeu que sim, mas ressaltou que “perdeu dois recursos”. O empresário também afirmou ter patrocinado eventos de futebol americano “com uma pequena verba, coisa de R$ 200 mil ou R$ 300 mil”, disse José Roberto Batochio, realizados por Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sobre a Medida Provisória 471, o empresário foi taxativo, diz o advogado. “Ela favorece indústrias automobilísticas e todas as outras que se estabeleceram no Nordeste e no Centro-Oeste. Essas MPs não são direcionadas a empresa A, B ou C, mas a todas as indústrias.”
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) suspendeu ontem, por prazo indeterminado, o vice-presidente tesoureiro da entidade, Mauro Marcondes Machado.
De acordo com a Anfavea, a decisão foi tomada pelo presidente da associação, Luiz Moan, após as reportagens publicadas sobre a Operação Zelotes. Em nota assinada por Moan, a entidade informou que a suspensão se dará “pelo período necessário para defesa e conclusão do processo investigativo pelos órgãos institucionais”.