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Pichações sujam cerca de 5% dos prédios da capital

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ARTE - Fagner José de Andrade, o Camaleão, fala sobre o trabalho da OnG que já ajudou muitos meninos

Uma situação que faz raiva a qualquer cidadão, com o mínimo de consciência, é ver prédios, escolas, monumentos e muros pichados. Os alvos dessa prática, que está se tornando cada vez mais comum nas cidades, são os mais variados. Quanto mais e mais difícil, melhor. Pouco importa se o muro faz parte da igreja ou é a casa de algum desconhecido. Como uma praga urbana, as pichações se espalham pela cidade, sem qualquer reação de autoridades ou vítimas.

A pichação é uma prática que interfere no espaço, muitas vezes desagradando os que são alvos dessa ação. A pichação subverte valores, é espontânea, efêmera e gratuita. Tem como sua base, as letras e formas diferentes que podem significar: protestos políticos, xingamentos aos que irão ler o que está no muro, protesto de gangs, simples vontade de sujar o espaço alheio entre outras coisas.

Em Natal, a situação não é tão caótica como em São Paulo, mas já está incomodando boa parte dos moradores e turistas da Cidade do Sol. Cerca de cinco por cento da capital possui pichações. É só dar uma volta pela cidade para encontrar muros, viadutos todos pichados. Até o viaduto do Quarto Centenário, que acabou de ser pintado pela prefeitura, já está marcado. O estádio de futebol Machadão, recém-reformado, também foi alvo dos pichadores.

A situação só não está pior porque a Guarda Municipal, responsável pela fiscalização desse delito, está começando a desenvolver um trabalho comunitário nas escolas das zonas da região de Natal. “Não tem outra saída, se não a educação das pessoas que comentem esse tipo de crime”, explicou o Comandante Ivanaldo Rodrigues da Cunha.

Com o intuito de facilitar a fiscalização, a Guarda Municipal criou uma espécie de perfil dos pichadores de Natal. Eles têm até um horário preferido para realizar a pichação. E se engana quem pensa que são os jovens das classes sociais menos favorecidas que agem dessa maneira. “Eles atuam, de preferência, na madrugada, entre uma e quatro horas da manhã, um horário complicado para que seja feita uma fiscalização. Além disso, andam sempre em grupo. Os menores preferem pichar patrimônios. Já os adultos gostam de expressar insatisfação política, religiosa”, disse o Comandante Manoel Lima de Menezes.

Os principais alvos desses pichadores são as escolas, públicas ou particulares, casas. Sabe-se que alguns participantes desses movimentos fazem parte de torcidas organizadas de futebol, como ABC e América, e se utilizam desse espaço para fazer apologia ao crime, as drogas. Juridicamente pichar, grafitar ou por outro meio manchar edificação ou monumento urbano é crime ambiental nos termos do art. 65, da Lei 9.605/98, com pena de detenção de três meses a um ano, e multa. Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada por seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena passa a ser de seis meses a um ano, e multa.

Porém, a mera existência de legislação punitiva não é suficiente para inibir estes atos, devendo existir do Poder Público vontade política de inibir a prática delituosa. Cabe ao Município exercer a sua autoridade administrativa e garantir o desenvolvimento urbano, e ainda o bem estar de seus habitantes.

Mas o que se observa, pelo menos em Natal, é um certo descaso com esse tipo de problema. Apenas, a Guarda Municipal é responsável pela fiscalização e punição dos pichadores, que aliás, são muitos e estão espalhados por toda a cidade. “Fazemos o que podemos, mas temos consciência de que a fiscalização não é intensa. E de madrugada, quando acontece a maioria dos casos, a situação piora”, disse o Comandante Ivanaldo.

Para tentar reverter esse quadro, a Guarda Municipal aposta na educação. Eles estão se organizando em grupo para dar palestras e orientações  nas escolas. O Comandante Menezes explica, que não se pode esquecer que é um trabalho que deve acontecer junto com as famílias.

“Não tem outra saída se não educar e conscientizar os nossos jovens. Esse é um trabalho que deve ser realizado em conjunto com o poder público e a famílias.”

A população pode acionar a Guarda Municipal através do disque-denúncia (0800 2810 153), que funciona até as sete horas da noite. Depois desse horário, a fiscalização fica a cargo da polícia.

Pichação é diferente de grafitagem

A necessidade de aparecer e ocupar um espaço no mundo é uma das principais características dos adolescentes, independente da cor ou da classe social. É nesse período, no qual acontece a formação da personalidade, que os jovens buscam maneiras para se expressar, que muitas vezes não são compreendidas e acabam reprimidas pela sociedade.

As pichações e os grafites são algumas dessas formas de expressão. A grosso modo, os dois tipos de manifestação são encarados, por muita gente, como semelhantes. Na maioria das vezes, os grafiteiros de hoje foram os pichadores de ontem, que mudaram de lado graças a trabalhos sociais e educativos desenvolvidos por organizações não-governamentais. “A galera que não conhece diz que é tudo a mesma coisa, mas não é não. O grafite é uma arte, enquanto que o picho (resultado da pichação) é um crime, uma vergonha que deixa a cidade mais feia”, explica Pedro Paulo de Lima, o Pepê, um dos coordenadores da ONG Posse de Hip Hop Lelo Melodia, que desenvolve trabalhos  com jovens do bairro dos Guarapes, na zona leste de Natal.

A principal diferença entre as duas manifestações  seria a intenção da atitude. A pichação é considerada um ato de vandalismo e, o grafite, é encarado como uma forma de arte, feita com autorização do proprietário do local grafitado. “O grafite dar um sentido político e ideológico aos desenhos. Não é apenas uma assinatura para sujar o local. Tem toda uma mensagem por trás dos desenhos. Nosso movimento coloca o grafite como uma arte”, explicou o representante do movimento Hip Hop do Maranhão, Lamartine Silva.

Além disso, o resultado da pichação não é benéfico para a cidade, ao contrário do grafite, que contribui para o embelezamento das metrópoles e para a popularização das artes visuais, que desta forma não fica restrita a espaços fechados e elitizados, como os museus. E algumas dessas pinturas estão cada vez mais sofisticadas e complexas, que acabam se tornando verdadeiras composições.

Posse Hip Hop Lelo Melodia atende 70 jovens dos Guarapes

Pensando em  retirar os jovens do mundo do crime e das drogas, um grupo de amigos do bairro dos Guarapes criou  a Posse Hip Hop Lelo Melodia, uma Organização Não Governamental que atende, diretamente, cerca de 70 jovens do bairro. São diversas atividades, que vão de acesso gratuito a Internet a oficinas de dança.

“A ONG foi fundada em 2004 e desde então já tiramos muitos meninos do crime através do Movimento Hip Hop Organizado do Brasil (Mobe). No início foi muito difícil, tivemos que quebrar muitos tabus”, disse  um dos coordenadores da ONG, Fagner Andrade, o Camaleão.

Um outro trabalho que a ONG desenvolve está ligado a grafitagem. Eles buscam pichadores ligados à gang para transformá-los em artistas do grafite. “Depois que começamos com a grafitagem diminuiu muito o número de pichações no bairro. A galera respeita a arte. Onde tem o grafite ninguém picha”, explicou o Pepê.

O grafiteiro Bruno Fernando, mais conhecido como Mau-Mau, é um exemplo dessa mudança. Durante seis anos, ele se dedicou a pichação. Segundo ele, os pichadores buscam status e fazem isso para marcar território.

“Para o pichador quanto mais difícil o alvo melhor e mais moral ele vai ter com os outros. Quando se está envolvido com o picho não se tem idéia de que é um ato de vandalismo, um crime”, disse Mau-Mau.

Só depois que conheceu a arte do grafite, ele parou com a pichação e passou a enxergar a grafitagem como uma forma de arte, que vai além da beleza da obra. “O grafite tem um lado social e cultural muito importante. Através dos nossos desenhos conseguimos expressar nossos pontos de vista e até nossas reivindicações”.

Para Natan Fernandes, guarda municipal e um dos fundadores da ONG, a grafitagem vem melhorando as condições de vida dos moradores do Guarapes. “Estamos realizando diversos eventos para a comunidade. Palestras, apresentação de filme, oficinas de dança e de grafitagem. Tudo isso para levar um pouco de cultura e afastar da violência esses jovens marcados pela dificuldade”.

Atualmente, os grafiteiros da Posse estão mudando a cara de alguns prédios do bairro. O posto de saúde é um deles. Eles estão fazendo desenhos nas salas de atendimento a pedido da diretora do posto, que quer dar uma decoração mais moderna ao local e ainda ajudar a divulgar o trabalho da ONG.

O próximo projeto da Posse é o Mutirão de Grafite, que vai pintar diversos muros do bairro. Para isso, a ONG vai oferecer oficinas de grafitagem aos jovens da comunidade, para que todos possam participar dessa ação.

Para saber mais informações sobre a Posse Hip Hop Lelo Melodia, seus projetos e ações é só mandar um e-mail para o endereço [email protected] .

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