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Pioneiros da ecologia

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Diogenes da Cunha Lima 
Advogado, escritor e presidente da ANL

Um homem cívico e outro santo, insubmissos ao modo de vida do seu tempo, são pioneiros da ecologia. São Francisco (1182-1226) e Henry David Thoreau (1817-1862). Sou devoto deles. Por isso, quis visitar a basílica da cidade de Assis na Úmbria italiana. Surpreendeu-me o afresco em que Giotto humaniza o santo. Senti, na perspectiva do quadro, a presença de Deus. A intuição segredou-me a definição pouco ortodoxa: santo é a pessoa que tem intimidade com Deus.

São Francisco é hoje o patrono do meio ambiente e dos animais (incluo nestes os humanos). O santo ensina que todos os homens são iguais pela sua origem, seus destinos naturais e divinos. Devem viver em paz! Ele próprio pediu a Deus que o fizesse um instrumento da paz. A sua visão cósmica, ecológica, o faz irmão do sol e das estrelas, do vento e da água, útil e humilde, e mesmo do bravo fogo. Concebia que a terra é sua (nossa) irmã. Lembrar que ecologia, na origem grega da palavra, já significa nossa casa.

Em Assisi, ele criou as Ordens franciscana e das Clarissas para serem essencialmente anticonsumistas. Ele percebia a unicidade homem – natureza – Deus.

Séculos depois, Thoreau também pregou (e praticou) a simplicidade e o anticonsumismo. Formado na Universidade de Harvard, foi morar isolado na lagoa Walden, pertencente ao seu amigo Ralph Waldo Emerson, acerca de 30 km de Boston, lá viveu por dois anos. Edgar Barbosa, meu mestre, indicou-me a leitura do revolucionário livro “Dá Desobediência Civil”. Fui ver Concord, onde nasceu e a lagoa onde construiu uma cabana com as próprias mãos, e onde praticou o vegetarianismo moderado, alimentando-se da pesca e de batatas que plantava.

Foi precursor da ética ambientalista. Seus livros e sua ação influenciaram homens que mudaram a concepção de grandes nações, como: Gandhi, Martin Luther King.

Explicou que foi morar na floresta circundante para “sugar o tutano da vida”. Assim se tornou autossuficiente.

Emerson conseguiu retirá-lo do exílio voluntário para atuar no jornalismo. Arranjou para ele um trabalho em jornal. Logo depois de publicar o primeiro artigo, foi preso por ordem judicial. É que ele havia recomendado que ninguém pagasse impostos a um país escravocrata que invadia e tomava territórios do país vizinho. Sabedor da prisão, Emerson vai visitá-lo e pergunta: “Por que razão você está preso? ” A resposta foi: “Eu quero saber por que você não está aqui também”.

Thoreau, desde 1960, teve afixada a sua efigie no Panteon dos Heróis norte-americanos da Universidade de Nova York, ao lado dos pais da pátria George Washington, Benjamin Franklin, e seu parceiro Emerson.

Neste ano do seu bicentenário de nascimento, estão havendo expressivas comemorações, seminários, estudos, publicações. Entre esses eventos, destaco a biografia do livro escrita por Robert D. Richardson. O biógrafo revela valores de Thoreau pouco conhecidos, como o prazer, a alegria de viver. Esclarece que era influenciado por Goethe e Schiller. Lia em latim, grego, francês, italiano e espanhol.

O poeta da lagoa, para seus fiéis, é um novo São Francisco, um dos santos da mais significativa pureza ecológica.

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