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Plaquete versus livro

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woden madruga 
Sexta que passou, 9, foi o centenário do nascimento de Veríssimo de Melo, lua cheia da cultura potiguar. As celebrações vão ocorrendo e deverão se estender até o final do ano pois, na verdade, estamos no “ano do seu centenário”. A caminhada vai adiante e ele merece. Quem sabe a reedição de alguns de seus livros? Livros e plaquetes. Publicou mais de 60 trabalhos entre os anos de 1943 e 1994, portanto, mais de um livro (ou plaquete) por ano. Isso sem falar na sua vasta, oceânica epistolografia. Escrever cartas era um exercício quase diário.  Tenho em minhas gavetas mais de uma centena delas: cartas, bilhetes, cartões.
Algumas dessas cartas já publiquei e republiquei aqui para o deleite do leitor/ledor/cobrador.  Esta semana encontrei uma que fala exatamente sobre livros e plaquetes. Foi escrita em papel timbrado com um selo que reproduz a capa de seu livro “Patronos e Acadêmicos” (Academia Norte-Riograndense de Letras – Antologia e Biografia), volume I, publicado em 1972 pela Editora Pongetti.  Transcrevo-a na íntegra:
“Natal, 7.2.1993.
Mestre Woden, meu abraço.
Li, ontem, na TRIBUNA, a entrevista de Carlos Lima sobre a crise na editoração de livros. Com a recessão galopante, não há mais condições para um autor pobre publicar um livro em Natal ou qualquer outra cidade. Ninguém pode duvidar da palavra de Carlos Lima, que já editou mais de 200 livros de autores potiguares em Natal, muitas vezes bancando a própria edição.
Tudo bem, mas eu tenho uma solução para a crise. Você não acredita?
Ouça-me: Como não é mais possível editar-se livros de 200 páginas – pelo enorme custo do material gráfico e mão de obra – há contudo uma solução lógica: vamos editar plaquetes de 15 a 20 páginas. Prá quê maior número de páginas? E reduzir o número da tiragem das plaquetes. Bastam, no máximo, trezentos exemplares. Aprendi, com o poeta maior da língua portuguesa – Miguel Torga – que não há necessidade de edições superiores a 300 exemplares. Ele publicou quase toda a sua obra com esse número apenas. Vendeu tudo, alcançou a glória em vida e é candidato natural ao Nobel da Literatura – caso os acadêmicos suecos permitam.
Então, a salvação tanto para os autores quanto para os editores, é esta: editar plaquetes de no máximo 15 a 20 páginas, com tiragem não superiores a 300 exemplares.
Não lhe parece o “óbvio ululante” de Nelson Rodrigues?
É que pouca gente enxerga o óbvio. E como eu sou um escritor quase de plaquetes – já disseram isto – tenho autoridade suficiente para indicar a única solução viável para o problema.
Concorda comigo?
Abraço amigo de 
Veríssimo de Melo”
Oriano de Almeida
Mais um centenário neste mês de julho, agora no dia 15:  o de Oriano de Almeida, natalense nascido em Belém do Pará. Pianista, compositor, professor de música, dos maiores intérpretes mundiais de Chopin com apresentações consagradas nos teatros da Europa. Além de músico, escritor. Ouvi-lo ao piano, um deleite especial; ouvi-lo conversando, também. Lendo-o, idem. Publicou quatro livros:  “A música através dos tempos”, “Magdalena dona Magdalena”, “Um pianista fala de música” e “Paris… nos tempos de Debussy”. Delicioso passeio pelas margens do Sena.
Oriano ocupou a cadeira 13 da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, sucedendo a Luís da Câmara Cascudo, o fundador.  Sugestão de uma leitura fundamental: “O Céu Era O Limite”, a biografia de Oriano de Almeida  escrita pelo historiador Claudio Galvão, publicado em 2010 pela editora da UFRN, da qual Oriano foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa. Faleceu em Natal, dia 11 de maio de 2004, aos 82 anos.
Alma Patrícia
Está confirmado para o dia 15, quinta-feira, coisa das quatro e meia da tarde, na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, o lançamento da quarta edição (a segunda fac-similar) de “Alma Patrícia”, o livro de estreia de Luís da Câmara Cascudo como escritor. Isso foi há 100 anos. A edição foi organizada pela escritora Eulália Duarte Barros (Lalinha).
O lançamento marca a volta da Academia às suas atividades ditas presenciais.  Haverá uma rodada de conversa.
Livro
Bruno Villaça está com novo livro na praça: “Mariquita”. Romance escrito durante o isolamento (retiro) forçado pela pandemia. É o seu sétimo livro, capa e projeto gráfico de Beatriz Cruz.
Mestre Ambrósio
São Paulo do Potengi acaba de perder um de seus filhos mais ilustres e queridos: Ambrósio Araújo Azevedo, considerado pelos conterrâneos como “patrimônio da história viva de sua terra”.  Encantou-se no dia 2, sexta-feira, aos 93 anos. Para o saudoso Monsenhor Expedito Medeiros (1916/2000), “O Profeta das Águas”, Ambrósio “era o embaixador de São Paulo do Potengi, pois tinha todas as condições de representar nossa comunidade em qualquer situação”. O tratava sempre de compadre, “Compadre Ambrósio”.  Parceiros em múltiplos projetos sociais e culturais. Que dupla!
Ambrósio foi agricultor, comerciante, dono de mercearia e padaria, proprietário de cinema e de amplificadora (serviço de som), político, secretário de Educação, jornalista. Por mais de vinte nos participou de um programa político na Rádio Potengi, dividindo a bancada com o colega e amigo Silvério Alves. Audiência absoluta em toda a região.
Foi aluno do Seminário São Pedro, colega de turma do futuro médico e reitor da UFRN, Genibaldo Barros. Ambos nasceram no mesmo dia, mês e ano: 07/12/1927. Foi combatente na Segunda Grande Guerra, servindo na Marinha que o condecorou.
Contador de histórias, estórias e causos, Mestre Ambrósio – como sempre o tratei –  era um excepcional proseador (‘causeur’, segundo os franceses do outro lado). Ao seu redor as conversas não tinham fim, principalmente nos dias de feira, juntando gente de todas as ribeiras. Sempre bem-humorado, irônico, sabendo temperar com sal e pimenta, na dose certa, seus comentários.
Seu sepultamento aconteceu sábado no Cemitério Parque da Paz, em São Paulo, seguido por um cortejo que percorreu os vários pontos da cidade ao som da canção de Roberto Carlos: “Meu querido, meu velho, meu amigo”.
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