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Plataformas de streaming locais buscam lugar ao sol

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Por Matheus Mans
AE

O mercado brasileiro de streaming está acirrado. Após a consolidação da Netflix, várias empresas começaram a se acotovelar para buscar um lugar ao sol. Já é possível assinar serviços como Prime Video, HBO Go e Apple TV+, enquanto Disney, Warner Bros. e Universal preparam o terreno. E apesar dessa briga de gigantes estrangeiros, serviços de streaming brasileiros tentam fisgar o público com conteúdo nacional, exclusivo e diverso.

À La Carte é a versão do Cine Belas Artes, de SP, que disponibiliza filmes de arte e clássicos como ‘As Damas do Bois de Boulogne’

Hoje, as plataformas verde-amarelas disponíveis para assinatura quase enchem duas mãos inteiras. Serviços como Globoplay, Telecine, Spcine Play, Looke, À La Carte, Lumine e PlayPlus produzem, importam e compram direitos de conteúdos que conversam com o seu público e, de alguma forma, não estão disponíveis em streamings estrangeiros. Assim, essas empresas usam o seu conhecimento de mercado local como uma “carta na manga”.

“Independentemente da empresa que está por trás, os streamings brasileiros possuem uma imensa desvantagem financeira na briga por mercado, conteúdo e publicidade”, explica Ítalo Tutóia, pesquisador em mercado de vídeo sob demanda. “No entanto, geralmente, são empresas que entendem mais o perfil do brasileiro do que as estrangeiras. Curadoria de conteúdo aliado a produções exclusivas parrudas devem colocar os nacionais na briga.”

Hoje, o principal streaming nacional a apostar na diversidade de catálogo é o Globoplay. ‘Filhote digital’ da Globo, a plataforma agrega produções próprias e exclusivas para o serviço, além de títulos estrangeiros e clássicos nacionais. Dessa forma, a empresa conquistou o posto de segunda maior plataforma de streaming do País com 396 milhões de horas de conteúdo consumidas ao longo de 2019 – 69% a mais do que em 2018.

Numa rápida olhada pelo catálogo, é possível ver o reality show Big Brother Brasil ao vivo, a série Sessão de Terapia, capítulos da novela Amor de Mãe e o filme O Lado Bom da Vida.

“Acreditamos que os grandes serviços de streaming globais irão conviver com as forças locais”, arrisca o diretor de produtos e serviços digitais e “pai do Globoplay”, Erick Brêtas. “Isso é particularmente verdade no Brasil, onde a população preza conteúdos na nossa própria língua e com nossa identidade cultural. O desafio é oferecer um mix de conteúdos que tenha afinidade com o nosso público, além de uma experiência de boa qualidade.”

Em 2020, o Globoplay planeja lançar 20 novos títulos originais com investimento na casa de R$ 1 bilhão em conteúdo, tecnologia, operações e marketing. O objetivo, segundo Brêtas, é claro: “No médio prazo, o plano é assumir a liderança do mercado de streaming no Brasil”.

Já o Telecine, que abandonou o prefixo Play e passou a oferecer assinaturas para quem não é cliente de canal a cabo, quer ser o streaming para quem gosta de cinema. Ou seja, sem séries por aqui. A ideia é trazer o máximo de conteúdo possível de longa-metragem, sejam eles nacionais, estrangeiros, inéditos, clássicos ou até aqueles que acabaram de passar nas salas de cinema em sessões mais limitadas ou de baixo alcane.

Dentre outras coisas, estão disponíveis todos os 24 filmes da série de James Bond; o inédito Consequências, com Keira Knightley, que não estreou nos cinemas brasileiros; e até Minha Irmã de Paris e Um Amante Francês, filmes que saíram há um tempo nos cinemas.

“Queremos levar cinema às pessoas, independentemente do canal e do meio que elas assistam”, explica Eldes Mattiuzzo, CEO do Telecine. E como fazer isso, costurando tantos acordos para disponibilizar o material? “Temos uma posição privilegiada por conta de sociedade com Universal, MGM e Paramount, além de acordo com Sony e Warner. Não queremos bater de frente com as plataformas de streaming. Queremos nos especializar apenas em cinema”, disse.

Por fim, existem os serviços brasileiros focados em uma curadoria fina, direcionado para públicos bem específicos. O À La Carte, por exemplo, foi a aposta do Cine Belas Artes no mundo digital. A ideia é fazer com que a curadoria do tradicional cinema de rua de São Paulo seja transposta para o streaming. Assim, são oferecidos filmes principalmente estrangeiros, por vezes independentes, que geralmente são distribuídos em poucas salas.

Já o Spcine Play é o único streaming público do Brasil. Sem cobrança de mensalidade, a plataforma possui em seu catálogo clássicos do cinema nacional, como a filmografia de Zé do Caixão e de Hector Babenco, e seleções de filmes de festivais, como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Há, também, conteúdos exclusivos, como shows realizados na cidade e até entrevistas com personalidades, como a atriz Fernanda Montenegro.

“Hoje, já são mais de 200 títulos na plataforma”, afirma Laís Bodanzky, cineasta e diretora-presidente da Spcine. “A Spcine Play é uma plataforma para dar voz aos conteúdos da cidade de São Paulo para todo o Brasil. Mas, ao mesmo tempo, queremos levar diversidade de conteúdo para as pessoas, evitando que a memória de nosso cinema nacional desapareça. Sendo pública e de graça, a Spcine Play tem papel importante nisso.”

Bodanzky, porém, chama a atenção para um assunto espinhoso: a regulação do sistema de streaming e vídeo sob demanda no Brasil. “É algo importante que ainda não foi feito e é pouco discutido”, afirma a executiva da Spcine.

“Mas, para isso, todas as plataformas devem ser ouvidas. Afinal, os serviços nacionais são mais frágeis, do ponto de vista econômico. E uma regulação ruim poderia quebrar todos eles e tirar o nosso protagonismo.”

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