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PM patrulhava área sem autorização

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O soldado PM José Nelson Fernandes, 35, conhecido como J. Fernandes morto na madrugada de ontem, por um suposto traficante, no Loteamento Dom Pedro I, na Zona Norte, não havia recebido determinação do oficial de serviço para fazer patrulhamento naquela região. A área de atuação do soldado compreendia a localidade de Nova Natal.

Francisca Lúcia Lopes Dantas, mulher do suposto traficante, foi executada logo após depoimentoA viatura 410, onde estava os policiais, Talles Medeiros, J. Fernandes e “Jerry” só poderia ter se deslocado da área de atuação com a determinação do oficial de serviço ou então, por meio, do Centro de Operações Integradas da Secretária de Segurança Pública e Defesa Social  (Ciosp), o que não teria ocorrido.

O major Lenildo Melo de Sena  que era comandante do soldado e responde pelo 4º Batalhão da zona Norte disse que questionou o oficial de serviço: “Perguntei se ele havia determinado que a viatura fosse àquele local. A resposta foi negativa. Também não tenho conhecimento de que a ordem tenha partido do Ciosp, porque, automaticamente, o oficial seria informado, mas, mesmo  assim, vou  averiguar”.

O major explicou que a maioria dos veículos da Polícia Militar está equipada com GPS, porém, não soube dizer se na viatura 410 havia o equipamento.

Questionado sobre a denúncia da população do Loteamento Dom Pedro I de que os policiais haviam ido até à casa de Jackson Michel da Silva, 20 (que foi baleado e está internado) para extorquir a família, o major disse que não descarta nenhuma possibilidade e que vai abrir um inquérito policial administrativo para, paralelamente, à investigação da Polícia Civil apurar os fatos.

Sobre o assassinato de Francisca Lúcia Lopes Dantas, 32 (mulher de Jackson) que foi executada, horas depois do soldado J. Fernandes ter sido morto, o major disse que não descarta a possibilidade da participação de policial no crime. “Algum policial pode ter se exaltado com a morte do colega e  matado a mulher, mas também pode ter sido um grupo rival de Jackson que aproveitou para matá-la”.

Major Lenildo contou que após a morte de Francisca ordenou que policiais da Ronda Ostensiva com o Apoio de Motocicletas (Rocam) fizessem a guarda de Jackson, no Hospital Santa Catarina. “Por questão de segurança também determinei a transferência de Jackson para o Hospital Walfredo Gurgel. O major disse que não tem informação de que tivesse sido realizado exame residuográfico em Jackson. A  TN tentou contato com a corregedoria da PM para verificar se existe processo contra o soldado J. Fernandes, no órgão, mas não teve êxito.

Mulher de traficante é executada

O assassinato do PM José Nelson Fernandes foi apenas o início de uma sexta-feira violenta em Natal. O homicídio, ocorrido por volta da 1h30 da madrugada, no loteamento Dom Pedro I, em Pajuçara foi seguido de um outro crime onde Francisca Lúcia Lopes Dantas, mulher do suposto assassino do PM foi executada.

De acordo com o capitão Eriberto Rodrigues, comandante da 1ª Companhia do 4º Batalhão da PM,  o soldado teria morrido cumprindo o dever social de garantir a segurança. Ele já havia apreendido duas pequenas quantias de crack, na quinta-feira (4), no loteamento Dom Pedro, e estava realizando uma abordagem na madrugada de ontem ao ser atingido por um tiro que perfurou o ombro e, em seguida o coração. O disparo foi fatal. O PM não usava colete à prova de balas.

Ainda, segundo a versão da polícia,  J. Fernandes estava na calçada de uma casa (onde acreditava-se que funcionava uma boca de fumo) localizada na rua Wilma de Faria, quando percebeu que um rapaz estava na janela. Ele se aproximou para ver quem era quando foi alvejado. Talles Medeiros e Jerry (que estavam com J. Fernandes na viatura) revidaram os disparos e chamaram reforço.

“Isso mostra como está violenta a cidade. A Polícia Civil precisa  ter  mais rigor nas investigações. A PM não pode entrar em certos locais. É um risco. Sabemos onde tem boca de fumo, mas não podemos fazer nada. Dependemos da Polícia Civil que precisa agir integralmente com a Polícia Militar”, afirmou o capitão.

Já a versão dos moradores da localidade é diferente da PM. “Os policiais invadiram a casa  e começaram a atirar. Foram mais de 50 tiros nas paredes internas da residência onde morava o casal  Jackson e Francisca”, afirmou uma moradora da região.

José Lopes Dantas, irmão de Francisca Lúcia afirmou que a irmã não era envolvida com droga. “Ela tinha os problemas dela, mas não era traficante. Nem Francisca, nem Jackson, que trabalhava como pedreiro”.

Jackson foi atingido por três disparos, um de raspão na cabeça e dois no abdômen. Passou por uma cirurgia e está em estado grave no hospital, informou o diretor técnico da unidade hospitalar, Damião Nobre.

Francisca Lúcia e um adolescente de 16 anos, que estaria com sete pedras de crack foram encaminhados para a Delegacia de Plantão da zona Norte, para prestarem depoimento. Um menor de 15 anos que foi baleado na perna durante a ação foi socorrido, medicado e liberado.

Policial era acusado de outros crimes

O soldado J. Fernandes respondia na justiça, uma ação criminal desde julho de 2008, na 11ª Vara Criminal por lesão corporal leve – contra o casal Francisca de Fátima do Nascimento e Francisco de Assis Câmara. No ano seguinte (2009), o PM se envolveu em outra confusão: foi encontrado junto a dois seguranças – Nijson Dênis de Oliveira, 36, e Luís Fidélis de Medeiros, 30 -dentro do motel Dolce Amore, em Ponta Negra, zona Sul. Os três portavam armas de fogo sem registro e, após serem conduzidos à 15ª Delegacia de Polícia, apenas J. Fernandes foi autuado por porte ilegal de arma – ele assumiu ser o dono da pistola 380 e dos dois revólveres calibre 32 encontrados na ação.

J. Fernandes também é suspeito de ter participado de uma ação de policiais militares no Alto da Torre, onde três PMs teriam invadido uma casa onde moravam idosos.  Os policiais teriam quebrado os móveis da residência, agredido fisicamente os velhinhos e antes de fugirem terem feito um lanche na residência. Três policiais foram detidos. A suspeita é de que o quarto policial fosse J. Fernandes.   

José Nelson era natural de Lagoa Nova, onde será sepultado na manhã de hoje. O soldado tinha se mudado para Natal em 2000, quando passou no concurso da PM. No interior, trabalhava como professor, mas teve que abandonar a profissão, por uma “confusão política”, conforme contou o irmão dele, José Cícero Fernandes. O PM deixa dois filhos, ambos de sete anos.

O delegado geral da Polícia Civil, Elias Nobre, afirmou que em nenhum dos dois homicídios  haverá inquérito especial. O assassinato do PM José Nelson Fernandes será investigado pela 6ª Delegacia de Polícia de Pajuçara, enquanto a execução de Francisca Lúcia Lopes Dantas, em Santa Catarina, ficará por conta da Delegacia da Mulher.

Elias Nobre confirmou também que é possível uma relação – ainda não confirmada oficialmente – entre os dois casos. “Há um indício forte, mas ainda não podemos dizer com certeza que estão relacionados. Até porque ainda não temos a confirmação de quem matou a mulher”, afirmou o delegado geral.

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