Ricardo Araújo
Repórter
Sob o argumento de que “honestidade não serve para nada”, os policiais militares presos na Operação Novos Rumos, deflagrada pelo Ministério Público Estadual na última terça-feira(29), não somente extorquiam traficantes para que estes comercializassem os ilícitos livremente. Os militares também repassavam drogas para tais traficantes revenderem. O lucro era dividido entre eles. “Se a gente pega 100 gramas e colocasse na sua mão você desenrola?”, questionou um policial militar a um traficante da Comunidade Beira Rio, na zona Norte da capital, em abril deste ano. “Pode ser até um quilo! Homem pegue logo desenrola!”, respondeu o traficante. A prática de tortura e a invasão de domicílios de pessoas ligadas ao crime para a subtração de objetos de valor também era uma prática comum dos integrantes da Viatura 924, do 9º Batalhão da Polícia Militar, alvos da investigação.
O detalhamento das ações ilícitas está no pedido de decretação de prisões preventivas, indisponibilidade de bens e afastamento de sigilo de dados fiscais contra os policiais militares investigados entregue pelos promotores de Defesa do Patrimônio Público à Justiça. O sigilo de parte do processo foi levantado quarta-feira passada pelo Juízo da 11ª Vara Criminal.
A partir de denúncias de que os policiais militares que se deslocavam na Viatura 924 recebiam semanalmente “comissão” para o “lanche da rota policial diária” e também para fazer vista grossa ao funcionamento de estabelecimentos de jogos de azar na Cidade da Esperança, o MPRN requereu ao Judiciário autorização para interceptação ambiental na Viatura e interceptação telefônica dos PMs suspeitos de praticarem atos criminosos diversos.
#SAIBAMAIS#No documento obtido pela TRIBUNA DO NORTE, o MPRN aponta que “no período entre 17 de outubro de 2014 e junho de 2015, com condutas praticadas em diversos bairros do Município de Natal, os policiais militares CB Ivan Ferreira da Silva Tavares, SD André Luiz da Silva Pereira e SD José Cherls Firmiano da Silva associaram-se para o fim específico de cometer diversos crimes”.
No dia 17 de outubro do ano passado, eles cometeram, segundo o Ministério Público, o crime de corrupção passiva por terem aceito receber “dinheiro ou vantagem indevida” dos traficantes Eduardo Rodrigues e Joel Rodrigues para liberarem José Macário Rodrigues de Oliveira, o Zé Macário, e Ivonaldo Galdino do Nascimento, o Biita, ligados aos dois traficantes. O MPRN registrou a ação em fotos.
Numa das interceptações telefônicas, o diálogo entre o policial militar e o traficante traduz a aproximação entre eles. “Tá com diabetes é? Tá magro”, questionou o PM. Com esse mesmo traficante, o policial militar acerta o repasse de drogas, sem especificar a origem delas, para que o comércio ilegal fosse feito e o dinheiro dividido. Adiante, o agente público de segurança diz ao traficante que “queria pegar um negócio logo bom para passar uns três meses sem passar aqui (na Comunidade Beira Rio)”.
O traficante diz que “desenrola”, mas é cauteloso porque teme voltar para a cadeia em menos de dois meses após ser solto. No mesmo dia desse diálogo, os PMs receberam cinco telefones modelo Iphone e mais R$ 2 mil para não prenderem uma pessoa com itens roubados. Os policiais usaram a viatura para comercializar os aparelhos, por até R$ 8 mil, em Felipe Camarão e Alecrim.