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“Poema Sujo” recebe edição comemorativa

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Por Ubiratan Brasil – De Paraty/RJ

Forçosamente exilado em Buenos Aires pela ditadura militar e temendo engrossar a lista dos desaparecidos, o poeta Ferreira Gullar iniciou, com sofreguidão, a obra que representaria seu testamento e seu protesto. Surgiu  “Poema Sujo”, poema capital da literatura brasileira e que agora completa 30  anos de publicação, comemorados com a palestra que Gullar apresentou na  4ª Festa Literária Internacional de Paraty.

“Achei que podia desaparecer, assim pensei em escrever um poema que dissesse isso, que se parecesse como a última coisa que eu faria na vida”, explica ele, cuja obra traz uma reflexão vigorosa e penetrante sobre a infância, a perda e o resgate. Por sua importância, “Poema Sujo” ganhou agora uma edição comemorativa  pela José Olympio Editora, que vem acompanhada de um CD em que Gullar declama os versos.

O registro oral, aliás, não é meramente ilustrativo – impossibilitado de deixar  a Argentina, pois a embaixada brasileira não renovou seu passaporte, Gullar gravou em fita cassete os mesmos versos naquela tenebrosa década de 1970, que foi trazida escondida por Vinicius de Moraes.

O poetinha começou a divulgar o poema, fazendo cópias da fita até que uma chegasse às mãos do editor Ênio  Silveira, da Civilização Brasileira, que decidiu publicar o livro. “Esse movimento todo me ajudou a voltar ao Brasil”, conta Gullar.

O poeta lembra que escreveu “Poema Sujo” em alguns meses, mas, durante esse período, só se preocupou com isso. “Foi algo completamente alucinante, pois  fui tomado pelo poema. Mesmo tendo escrito apenas cinco páginas, eu já sabia que ele chegaria a cem.” Além da urgência, Gullar viu-se convencido também a variar radicalmente no estilo e nas estruturas. “A construção revela sua semelhança com uma sinfonia: são  vários movimentos e que refletem a forma como trabalhei com a inspiração. Tudo o que havia sido movimentado dentro de mim para fazer aquele poema, a matéria  que ia dar forma, era volumosa, muito rica. Havia uma tonelada de matéria. Era  minha vida inteira.” A vida é a fonte geradora da poesia de Gullar que parte de algo que o espante,  que o surpreenda, para então começar a criar. “O poema é fatalmente inspirado  na casualidade, que pode ser uma imagem, uma conversa e até mesmo um cheiro”,  diz.

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