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Poesia em raros cantos

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Retalhos & Fragmentos – Lívio Oliveira
[Advogado público e poeta – [email protected]]

Quase nada sei sobre poesia. Nem sobre prosa. Nem sobre leis: prosa ou poesia. Nem sobre o meu nome ou o meu dia. Quase nada sei, nadas sobre o nada. Nada fora. Nem dentro, então. Tão pouquinho eu sei. Pouco sobre os conceitos e as teses que envolvem a existência de cada uma das coisas do mundo. Das pessoas, ih! Dessas eu nem quero saber da vida, já há tanta fofoca por aí… Sigo resignado disso, preferindo, talvez inconscientemente, a condição de poeta lacunoso. Louco ouso, como uma cárie que dói e que não passa. Urra Camões e suas vestes se incendeiam: “…fogo que arde sem se ver;/É ferida que dói, e não se sente”. É amor? Sei lá!

Sigo também cantando a canção galáctica que Haroldo de Campos me ensinou: “…ser cárie que pode ser estória tudo depende da hora tudo depende da glória tudo depende de embora e nada e néris e reles enemnada de nada e nures de néris de reles de ralo de raro e nacos de necas e nanjas de nullus e nures de nenhures e nesgas de nulla res e nenhumzinho de nemnada nunca pode ser tudo pode ser todo pode ser total…”. Totalmente translúcido esse ensinamento em Natal, país das caçambas e dos canteiros-florestas. Natal, terra de um fog estranho e nunca fomos mesmo da Comunidade Europeia.

E acho que vou continuar assim, até o final do meu tempo regulamentar nas dunas e nas arenas desta cidade gótica. É o goto do esgoto que me incomoda. Os jovens que se entregam ao tráfico e à burriceterna, os livros que se guardam em geladeiras, posto que as bibliotecas estão fechadas com portas de ferro de miliumquilos. Continuar sem os úberes dos saberes. É a sina, a vacina. O vaticínio do Vaticano, sem a Sistina. Talvez seja esta uma minha convicção que revela o gozo de viver sem a gigantesca responsabilidade dos pedantes desavisados nas pontas dos pés dos seus falsos títulos sobre os seus poucos saberes ou mesmo aquela dos verdadeiros sábios, sobre os ombros dos quais pesam os destinos do mundo e da humanidade desamparada de respostas e de caminhos seguros.

Malgrado o meu declarado diploma de ignorante eterno – é/ter/Natal – surreal, mantenho algumas convicções. E me atrevo a ter algumas sobre o conceito de poesia. O concerto. O conserto. Uma delas é a de que a poesia nem sempre está no poema, no sentido formal da coisa. Octavio Paz já o pacificou. E não estou falando de nenhum absurdo e nem voo relativista de contemplador da lua. Não sou o “poeta mais delirante” da canção de Chico Buarque. Infelizmente. O que quero dizer é que há inumeráveis textos poéticos que não se afirmam formalmente como tal, vestem-se de outras roupagens mais próximas à prosa. Mereciam, antes, ser intitulados “poemas”. Ou não mereciam? E eu sei lá!

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