O assassinato do empresário espanhol Francisco Angel Moreno Matellano, ocorrido em 23 de fevereiro deste ano, foi elucidado pela Polícia Civil. Em coletiva de imprensa, nesta quarta-feira (12), o delegado da 15ª DP (Ponta Negra), Graciliano Lordão anunciou que tem provas suficientes para indiciar criminalmente a ex-mulher do espanhol, Eliane Caetano Pereira, 23 anos, o irmão dela, o ambulante Francisco Pereira Júnior, e um segundo homem, cujo nome não foi revelado, que seria o autor do esfaqueamento. Lordão informou que deverá, ao final do inquérito policial, tipificar o crime como latrocínio – roubo seguido de morte.
O suspeito, que seria parente de Eliane, está preso na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Parnamirim, penalizado com a regressão do regime de prisão no semiaberto, após prática de novo crime. A prisão dele ocorreu dias depois do assassinato do espanhol. Graciliano Lordão disse que chegou ao suspeito depois da quebra do sigilo telefônico de “Lena”, como era conhecida a ex-mulher do espanhol. Ela está presa há 70 dias, acusada de ser mandante do crime e ainda de ter facilitado a entrada do suspeito no apartamento de nº 6 do espanhol, no primeiro andar do Edifício Porto Novo, onde ela também reside, no segundo andar.
Segundo o delegado a ex-companheira da vítima foi a mentora do crime, tendo planejado, facilitado e ordenado a morte do espanhol. O relacionamento do casal teve início em 2009, mas há algum tempo não moravam na mesma casa. No começo das investigações, segundo Lordão, a ligação desse segundo homem com o crime foi relegada a segundo plano, porque “a polícia não dispunha de elementos e nem supunha-se que ele tivesse alguma relação com o caso”.
Segundo Lordão, durante as investigações a ex-mulher da vítima e uma irmã dela, tentaram negar que o suspeito fosse parente delas, mas depois da “escuta” telefônica do aparelho celular de Eliane Pereira, descobriu-se que ela tinha feito ligações para o suspeito. O delegado informou que falta apenas obter a quebra do sigilo telefônico do celular do suspeito, para, finalmente, relacionar sua participação no crime como a pessoa que esfaqueou o espanhol, que residia há nove anos no Brasil.
Se o Ministério Público acolher a tipificação de latrocínio, os acusados terão um julgamento singular na 1ª Vara Criminal do Distrito Judiciário da Zona Sul, e não a julgamento no Tribunal do Juri Popular. “Lena” continua cumprindo prisão preventiva e, segundo Lordão, já foi solicitada a prisão temporária do terceiro acusado, embora ele já esteja preso.
Segundo o delegado, a intenção da ex-mulher de “Paco”, como era conhecido o espanhol, era matá-lo para tomar posse dos bens. Esses bens incluem dois apartamentos no Edíficio Porto Novo e outros três apartamentos, sendo que dois ele havia perdido em mesa de jogo e outro tinha sido vendido por cerca de R$ 100 mil, quantia que, segundo a polícia, chamou a atenção dos acusados. Testemunhas também informaram ao delegado que “Paco” deixou a casa de jogo com R$ 2 mil no bolso, dinheiro que não foi encontrado com a vitima quando ele foi encontrado, caído no banheiro de seu apartamento.
Um dia antes do crime, continuou o delegado, “Paco” teria registrado Boletim de Ocorrência na Delegacia de Ponta Negra em decorrência de uma briga que teve com a ex-mulher, quatro dias antes de ser morto, por questões financeiras. Lordão disse que ainda aguarda a quebra do sigilo bancário da vítima, para saber se os R$100 mil foram depositados em sua conta-corrente ou alguma importância foi retirada do banco.
Detalhes do crime
Ao longo do inquérito, que já soma 312 páginas, o delegado Graciliano Lordão fez oitiva com mais de 30 pessoas, entre as quais moradores do Condomínio Porto Novo e de pessoas que estiveram com o espanhol na casa de jogo Meza, em Ponta Negra, na noite da sexta-feira (22/02) que antecedeu o dia do crime. “Paco” foi morto a facadas entre 4h30 e 4h45 da madrugada do sábado (23/02). Matellano teria deixado a casa de jogo por volta das 4h15 ou 4h20 e o percurso que ele fez a pé até o condomínio não teria levado mais que dez minutos.
Na coletiva com a imprensa, Graciliano Lordão revelou alguns pormenores do inquérito policial e dos vestígios que apontam para a participação dos acusados. Segundo ele, foram detectadas marcas de sangue no ralo do banheiro e na pia do apartamento de Eliana Caetano, mas ainda não há resultados dos exames laboratoriais do material colhido. Além desses vestígios, contradições no depoimento da acusada e alguns detalhes de como se deu o crime são indícios da participação dela no assassinato. “A cena do crime mostra que quem entrou no apartamento do espanhol entrou com a permissão dele”, frisou. O corpo do espanhol foi encontrado pela polícia no banheiro da residência dele, coberto por muito sangue.