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Polícia investiga novo grupo de extermínio em Natal

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SUBSECRETÁRIO - Maurílio Pinto fala sobre as execuções

De acordo com o subsecretário de Defesa Social, Maurílio Pinto de Medeiros, há um novo grupo de extermínio agindo em Natal. Formado por policiais militares e civis e agentes penitenciários, o bando executa suas vítimas sumariamente, a serviço do tráfico de drogas. O experiente delegado conta que as investigações sobre o grupo estão adiantadas e que as provas estão sendo coletadas para desbaratamento.

“Pode até demorar, mas uma hora a gente pega eles”, frisou Maurílio. Segundo ele, vários crimes ocorridos nos últimos dias foram cometidos pelo grupo, que também conta com a ajuda dos próprios traficantes. Além de dados que chegam via informantes, a forma de agir acaba servindo como  indício da autoria. Abordagens em grupo, o uso de  armas típicas de policiais e a brutalidade com que as vítimas são mortas são traços em comum entre os crimes observados.

“Não há mais dúvidas sobre isso. Muitos desses crimes já têm informações adiantadas”, revelou o subsecretário. De acordo com Maurílio, muitas vezes seu gabinete recebe ligações com detalhes de crimes que acabaram de ocorrer. “Eles não se identificam mas informam nomes, motivação e outros dados sobre o homicídio. Mas uma coisa é você saber quem foi e outra é você conseguir as provas. Por isso demora um pouco”.

Pelo menos quatro crimes ocorridos nos últimos vinte dias – mais um ocorrido em novembro de 2006 – são bastante parecidos em alguns detalhes. As vítimas foram executadas com vários tiros de pistolas de calibres 40 ou 380. Em pelo menos três casos houve a participação de um grupo de homens em um carro branco. Três das vítimas também tinham sinal de espancamento ou tortura.

Soma-se aos quatro casos observados, o assassinato do ASG João Bosco, há cerca de dois meses. Raptado em Mãe Luíza  e encontrado morto em Tabatinga uma semana depois, João Bosco havia denunciado a existência de um grupo de matadores formado por PMs. Após o assassinato do ASG, autoridades chegaram a falar sobre o envolvimento de policiais, mas por vingança.

O subsecretário Maurílio Pinto revelou ainda que uma das vítimas, o soldado reformado da PM Rivelino Estevam de Andrade, 34, chegou a procurá-lo várias vezes para avisar que seria assassinado. Rivelino estava assustado, mas chegou a denunciar nominalmente os policiais que o perseguiam. “Ele dizia muito assim: Doutor, eles vão me matar”, explicou o delegado. De fato, o militar reformado foi morto a tiros no dia 05 deste mês, no Panatis, próximo a sua casa.

O soldado Rivelino foi afastado da PM sob a alegação de problemas mentais, mas sua carreira na polícia foi marcada pelo envolvimento em vários delitos. Somente nos últimos cinco anos, Rivelino foi preso duas vezes, suspeito de integrar a quadrilha que assaltou três bancos em Macau em 2002 e em 2005 por surrar um taxista em Lajes. Ele ainda era suspeito de ter assassinado o vigilante Francisco Belmiro.

“Os caras estavam monitorando ele. Iam matá-lo de um jeito ou outro”, revelou o subsecretário. Maurílio Pinto contou que em algumas vezes que Rivelino esteve na subsecretaria, no mesmo momento os acusados telefonavam informando que o soldado reformado tinha armas no carro. “Nós fazíamos revistas e não encontrávamos nada. Era só pra saber se Rivelino estava armado, pra saber da facilidade da execução”.

De acordo com Maurílio Pinto, este bando que vem agindo em Natal conta com a participação de policiais acusados de fazer parte do último grupo de extermínio desbaratado no RN, mas que respondem às acusações em liberdade. “Na maioria esta turma é outra. Mas tem alguns homens daquele grupo que estão soltos e voltaram a agir”, revelou.

Crimes apresentam traços semelhantes

O primeiro, e talvez mais emblemático dos homicídios com a suspeita da participação do grupo aconteceu em novembro do ano passado. O auxiliar de serviços gerais João Bosco Fernandes foi capturado em um ponto de ônibus no Tirol, por quatro homens em um carro branco. O ASG havia denunciado a existência de um grupo de policiais que estava matando pessoas em Mãe Luíza. O corpo dele foi encontrado cerca de 20 dias depois em um matagal na praia de Búzios. Um dos dedos das mãos estava decepado.

No dia 27 de dezembro foi a vez de Diego Carlos da Silva, de 19 anos, morto na comunidade da Guarita. O estudante foi abordado por quatro homens em um Tempra de cor branca e assassinado com oito tiros de pistola.  Um dia depois, a vítima foi o servente de pedreiro Edson Silva de Lima, 23. A vítima foi atingida por seis tiros também de pistola, no peito e no pescoço. O crime aconteceu em Nova Natal e os acusados mandaram que a vítima se deitasse no chão, mas não esperaram que a ordem fosse cumprida.

No dia 03 deste mês outro assassinato  ajudou a reforçar a suspeita dos investigadores, sobre a ação do grupo de extermínio. O ex-soldado da PM Rivelino Estevam de Andrade, de 34 anos, foi assassinado perto de sua casa, no conjunto Panatis. Rivelino saiu de casa por volta das 21h para pegar a esposa em uma academia. Mas dois homens em uma moto o atingiram com dois tiros de pistola. Os assassinos recebiam apoio de um grupo que estava em um carro da mesma cor branca dos casos anteriores.

A última vítima foi encontrada na manhã do dia 11 deste mês. Lindomar Simão de Lima , de 30 anos, foi encontrado com o corpo crivado de balas em uma estrada próxima a Pitangui. Nos pulsos havia marca de algemas, na cabeça, vários cortes e nas costas, hematomas, o que indicava o espancamento antes do homicídio. Alguns dos tiros foram dados na região do ouvido direito.

Coordenador defende ação conjunta com poder judiciário

O coordenador de Direitos Humanos, Marcos Dionísio, lamentou pela suspeita da existência de mais um grupo de extermínio agindo em Natal. “A gente lamenta que continue  acontecendo essa mortandade. Sobretudo de homens jovens que poderiam estar contribuindo para o desenvolvimento do Estado”, disse o coordenador.

Segundo Marcos Dionísio seria necessário um trabalho integrado entre as polícias, o poder judiciário e o Ministério Público, para que o problema fosse amenizado. O coordenador acredita que o número de homicídios é inversamente proporcional ao de casos resolvidos, com culpados atrás das grades. “Isso acontece devido ao alto grau de impunidade, que incentiva aqueles que não sabem resolver suas diferenças, a não ser apontando uma arma de fogo”.

Marcos Dionísio defende ainda a realização de um trabalho de geoprocessamento, a ser realizado pela Polícia Militar. No estudo, seriam observados os principais pontos como bares e casas de show, ruas, bairros e horário dos crimes, a fim de que o policiamento pudesse ser direcionado às áreas críticas. O coordenador de direitos humanos também lembrou  das causas sociais da violência, e ressaltou que sempre é necessário um investimento cada vez maior nas áreas de saúde, educação, moradia e saneamento. “O Estado, ao elucidar e punir os crimes, mostra que matar não é o caminho para resolver seus problemas. É a força do Estado que deve fazer com que novos crimes não sejam cometidos”.

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