sábado, 20 de abril, 2024
25.1 C
Natal
sábado, 20 de abril, 2024

Políticas públicas contribuem para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte

- Publicidade -

POBREZA - Realidade das famílias pobres do RN vem melhorando

Todos os dias a dona-de-casa sai de sua residência às 6h da manhã, da comunidade dos “Negros do Riacho” e caminha 12km até o centro de Currais Novos. A volta, normalmente por volta de 15h, acontece sob um sol escaldante e com alguns alimentos dentro de uma sacola que se acomoda na cabeça. O alimento será para a família de sete pessoas. O cenário está composto, Salete da Silva, representa grande parte dos moradores da área rural do Rio Grande Norte.

A vida dura da dona-de-casa é o retrato de quem vive sem recursos para plantar alimentos e prover a própria subsistência. Influências das condições do solo, do clima, da falta de infra-estrutura e principalmente de organização são suficientes para levar uma comunidade inteira para o estado de extrema pobreza. “Estamos vindo do centro da cidade (Currais Novos). Fomos pedir uma ajuda para a família. Temos que fazer isso para sobreviver, aqui não temos recursos”, lamentou Salete Silva, de 46 anos.

O Rio Grande do Norte é um dos Estados da região Nordeste que caminha para o desenvolvimento na área rural. Tal resultado é um efeito do despertar de políticas públicas para incentivar e oferecer alicerces para que as comunidades rurais possam se organizar para diagnosticar seus principais problemas e em seguida encontrar as melhores soluções para saírem da linha da pobreza.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das 687 mil famílias que vivem na zona rural no RN, 405 mil são economicamente ativas, enquanto 282 mil não são economicamente ativa (fonte Programa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD 2006). O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Norte em 2005 foi de R$17,9 bilhões. Um aumento de 4,3 em relação a 2004, o percentual é menor do que o do Brasil e menor do que o do Nordeste, que foi de 4,6%.

“É necessário buscar a ação do próprio beneficiário. Esse é o caminho certo, não basta apenas dar um donativo, como por exemplo doações do programa Bolsa Família. Estimular a ação, organização é imprescindível. Com o problema definido a comunidade pode buscar as melhores saídas. Aí sim estamos tratando de incentivo ao desenvolvimento rural”, explicou Gercino Saraiva Maia, presidente do Programa Solidário, que será lançado na próxima terça-feira no RN, em sua segunda etapa.

Para os organizadores do Programa Desenvolvimento Solidário é indispensável entender que o conceito de pobreza é muito mais complexo do que a sociedade está habituada a pensar. “Pobreza é não saber qual vai ser o seu futuro, em um mês, ano ou para o futuro. É ter milhares de presos nas cadeias de Brasil, é saber que o Iraque é rico em petróleo e pobre em qualidade de vida”, ressaltou Gercino Saraiva Maia.

Uma observação do presidente em exercício da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte (Fetarn) destaca a mudança do Nordeste em relação aos efeitos da seca. “Até o ano 2000 em todo período de seca no Nordeste, alguns atores se mobilizavam com shows e propagandas na TV para a arrecadação de donativos para os nordestinos que passavam fome. Hoje isso não existe mais essa mobilização dos brasileiros. Estamos conseguindo reverter a situação com programas sociais de desenvolvimento humano”, disse José Ferreira.

Comunidade sonha com assistência

Apesar do avanço do Rio Grande do Norte em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) decorrente do aumento das ações sociais, há comunidades que ainda sonham com uma oportunidade de assistência. É o caso dos moradores da Comunidade dos Negros do Riacho, em Currais Novos.

Na tarde da quinta-feira (17) a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE visitava o município e antes de chegar na localidade dos Negros do Riacho, uma cena chamou a atenção. Uma senhora caminhando sob o sol quente, com uma sacola na cabeça. Salete Silva (46) caminhava ao lado de Maria da Guia, sua filha de 18 anos, que por sua vez carregava alguns mantimentos numa lata.

Na casa de Salete moram sete pessoas e os donativos conseguidos no centro de Currais Novos durariam todo o final de semana. “Na segunda-feira iremos novamente. Saímos de casa às 6h e voltamos às 16h, sempre com alguma ajuda”, lamentou.

A 12km de distância do centro da cidade, a comunidade possui 200 moradores e o índice de pobreza é elevado. O problema para os moradores começa na estrada de 6km, que tem início na BR226. O longo percurso é feito à pé. O único carro que ainda pode oferecer uma carona aos moradores aparece às segunda-feiras, que leva leite para o povoado.

Para o morador mais antigo do povoado a busca por recursos ficou perdida na falta de esperança e descrédito da população com os políticos. Já pedimos muito, houve promessa, mas não temos nada. Temos o que você está vendo. Temos esses tanques de guardar água e todos estão vazios. Temos essa plantação, onde tudo já foi colhido. Acabou tudo, temos que esperar a época de plantar novamente”, lamentou João Elias Pereira de França, de 68 anos.

João mora com a esposa, Maria de Fátima e com dez filhos, o mais novo vai completar um ano no mês de agosto. Sobre a dificuldade de comprar alimentos, João informou que é impossível comprar carne. “Às vezes compramos um osso para misturar ao feijão. A carne está muito cara, não temos R$12,00 para dar em um pedaço”, disse. A água para a família consumir é conseguida através de muitas viagens de baldes da cisterna mais próxima.

Projetos mudam realidade do Seridó

O Seridó é a região do Rio Grande do Norte, onde é possível perceber que o incentivo e união realmente podem revolucionar toda uma tradição decorrente do clima e da geografia. Toda a região recebeu 14 milhões de reais em projetos de infra-estrutura, de produção e sociais do Programa de Desenvolvimento Solidário. Com o valor destinado a 734 famílias, o Seridó liderou a lista de recursos recebidos, com R$1,13 milhão.

“O programa tem como principal objetivo fortalecer o nível de organização social, acabar com a desorganização para que os problemas sejam localizados e a solução estudada, para que não fique no surrealismo”, disse o presidente em exercício da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do RN, José Ferreira. “É fornecida capacitação para a comunidade. É preciso conhecer a tecnologia para o resultado dar certo”, completou.

O município de Serra Negra do Norte teve a oportunidade de perceber que os problemas do solo, com pequena profundidade, susceptibilidade à erosão e alto teor de sódio aliado a longos períodos de estiagem não eram suficientes para deixar que essa situação fosse a única saída para os moradores. “O valor recebido pelo município foi alto porque em 2004, quatro barragens foram destruídas e precisaram de obras”, disse Eraldo Alves, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Serra Negra do Norte.

Com uma população de 7.505 habitantes, o município apresenta metade sendo rural. “Podemos considerar que metade da população daqui vive de agricultura”, disse a secretária do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, Diana Wanderley Marins, de 24 anos.

A 10 km do centro de Serra Negra do Norte, está a primeira comunidade beneficiada com uma das dez barragens que servem para guardar águas do rio Espinharas (bacia do Rio Piranhas), que antes iam para o oceano Atlântico enquanto a cidade via a água passar. “Posso dizer que nossa vida hoje mudou 100% para melhor. Hoje temos água todo o ano. Esse verde todo que está aqui em nossa volta só existe agora, com esse reservatório de água”, ressaltou o agricultor Paulo Álvares de Farias.

O projeto foi estudado de forma que o reservatório receba água da barragem entre 21h e 6h da manhã, para que os moradores tenham um desconto na conta de energia. Assim, cada residência paga apenas R$15 reais mensais de energia. Ao apresentar o resultado da primeira plantação de sua família, Paulo não conseguia conter a emoção de produzir o sustento da família. “Já passei muita necessidade. Até fome já passamos”, lamentou o pequeno agricultor, do projeto de fruticultura irrigada.

A comunidade de Frutuoso dispõe dos benefícios da barragem criada com o projeto de infra-estrutura do Governo, com recursos do Banco Mundial. Raimunda Maria da Silva orgulha-se de ser filha da “terra”. “Moro aqui há 80 anos e hoje posso dizer que vivo muito mais feliz, do que nos anos anteriores. Temos peixe pescado no açude para o almoço”, destacou. “Hoje podemos plantar capim para nosso gado, podemos irrigar nossa plantação. Está tudo mais fácil. Tudo hoje é possível”, disse o aposentado Apolônio da Silva, marido de Raimunda.

Beneficiário indireto

Às 11h da manhã da última quinta-feira (17) uma cena se destacava em um dos áridos caminhos de Serra Negra do Norte. O operário Reinaldo Soares Cândido, de 36 anos voltava para sua casa carregando uma vara de pescar e uma sacola com 3 quilos de peixe traíra. Os peixes foram pescados no açude de Curral Queimado. “O peixe vai servir para dois dias de almoço lá em casa. Já tratei, agora é só preparar”, salientou Reinaldo, que mora com a esposa e dois filhos.

Reinaldo não tem a família diretamente envolvida nos projetos sociais do programa, mas é um dos beneficiários indiretos das barragens do município. As famílias diretamente beneficiadas moram nas margens do rio. Os moradores do município de Serra Negra do Norte são beneficiados pelos programas do Desenvolvimento Solidário, Luz para todos e um milhão de cisternas. O município possui hoje 200 cisternas, que são compartilhadas entre os moradores.

Exemplo de fartura na cidade de Acari

Ao longo da região seridoense é possível observar que a folhagem que cerca as estradas estão verdes, decorrentes dos intensos momentos de chuva que caem no Estado. As plantações que normalmente acompanham o inverno chuvoso, permanecem até hoje, com a ajuda de irrigação dos riachos e açudes No trecho do município de Acari o funcionário do Sítio Maracujá, José Justino da Silva, de 57 anos é o exemplo de agricultor que planta para a subsistência. Metade da colheita plantada para o patrão é dada para o agricultor sustentar a família.

“Trabalho há dois anos aqui e usamos a água do açude para plantar. Não vendemos o que é plantado porque serve para nosso consumo. Fico muito feliz por ter metade da colheita já que assim sustento minha família. A fartura é uma alegria e garantia de sobrevivência para muitas famílias de agricultores dessa região”, ressaltou José Justino da Silva enquanto plantava ramas de batata, às margens da BR264

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas