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Polos extremos

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Vicente Serejo
Sabe-se que um dos maiores artifícios da palavra, principalmente para fins políticos, é sua plasticidade. É servir-se para dizer e não dizer. Declarar bem é um atributo para o dito e o não dito diante de certas circunstâncias. O político, às vezes, fala para não deixar de falar, mas na sua fala nada expressa se a expressividade é a forma de emitir juízo de valor. É mais ou menos aquilo que o velho saber popular explica como o jeito de alguém “falar, falar para no fim não dizer nada”.  
Tem sido esse o quadro da retórica política desde que Lula, por decisão do Supremo, deixou de ser inelegível até que seja julgado duas vezes por colegiados superiores. Não declaram, os dois, ele e Bolsonaro, a busca de uma tensão de tal ordem que já agora se torna inevitável o confronto no ano que vem. Mesmo que Lula declare não falar em eleição este ano, em razão da peste, e ainda que Bolsonaro, por sua vez, tenha declarado, inclusive, que está se lixando para a luta de 2022. 
Sejamos sinceros na dialética explicação da insinceridade: eles jogam pôquer e cada um, a seu modo, faz do blefe uma forma de adiar e ao mesmo tempo alimentar o jogo do confronto que julgam ser o melhor para os dois. Esta coluna afirmou, logo depois da anulação dos processos que condenavam Lula, que não parecia, na prática, desagradar tanto assim a Bolsonaro mesmo ouvindo o presidente esbravejar contra o ministro Edson Facchin e Lula vestir a surrada fantasia de vítima. 
O fato restabeleceu, em bases claras, a polarização que os dois desejavam e a disputa será no sentido de um tentar vestir no outro a couraça do mal. Lula, como o imperdoável, com a vida exposta nas graves acusações de corrupção; Bolsonaro, o genocida do demônio com seu tridente que já espetou milhares de vítimas. Serão estes os argumentos centrais das suas retóricas e assim não haverá espaço para uma terceira força, a menos que um milagre faça surgir uma alterativa.
Dois fatos estatísticos revelam a solidez, mesmo precoce, da polarização: estão empatados numa pesquisa e Lula vitorioso noutra, e agora, o desgaste de Bolsonaro tornou-se palpável via “Índice de Popularidade Digital”, o IPD, da Consultoria Quaest: Lula, nas redes sociais, quebra a hegemonia que sempre pertenceu a Bolsonaro. Segundo foi publicado pela Folha de S. Paulo na edição do dia 8 passado, Bolsonaro está com 63.3% e Lula 61.1%. Um rigoroso empate técnico. 
Nesse quadro, é incrível, um é o melhor adversário para o outro e os dois cravam, juntos, o confronto com preferências superiores a 60%. Uma polarização que consagra o maniqueísmo que marcou a luta do bem contra o mal desde que surgiu a figura de Jair, o Messias. O Brasil irá às urnas dividido entre esses dois líderes populistas. Um, exaurido, como a única esperança dos que enxergam; o outro, o adversário do horror e da ameaça à democracia. Estamos fritos ou não?
JUSTO – Henrique Alves lidera a pesquisa para deputado federal do IP/Sensus e é seguido por Natália Bonavides, Fernando Mineiro e Eliéser Girão. Henrique colhe os frutos de servir ao RN.
FOGO – A projeção do gestor e do político Álvaro Dias, dizem as pesquisas e não apenas este seu velho amigo, ferve em fogo alto, apesar da chama branda com que tem se posicionado sobre 2022. 
COVID – É tão pouco o que há a festejar contra o Covid-19 que é bom saber: o hospital Gizelda Trigueiro está acima da média nacional no tempo de UTI. Honra o brilho de quem lhe deu o nome. 
MAIS – Tive o privilégio de jantar com Dra. Gizelda quando ela decidiu tomar uma posição dura que só sua forte coragem como médica podia garantir. Uma mulher de um brilho firme e marcante. 

ALIÁS – Hoje, na área da medicina tropical, o Estado já conta com o brilho científico de outra mulher: professora Selma Jerônimo, UFRN. Discreta, Selma é um nome conhecido fora do Estado.  
MARCA – Isaura Rosado mostra que é boa de luta: Mossoró executou, na gestão Rosalba, 99,8% dos recursos garantidos pela Lei Aldir Blanc. Enquanto o Estado só conseguiu executar 55,69%. 

ESTALEIRO – Obrigado ao silêncio convalescente em razão de cirurgias dentais e pobremente dado a usar redes sociais, o cronista está no estaleiro, vivendo a mesmice do já desusado e-mail. 
CAÇADA – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, dando uma de intelectual naquela solidão da tarde: “McCullers tem razão: o coração muitas vezes não passa de um caçador solitário”. 

LUTA – As catilinárias do Ministério Público apostam que três nomes estarão na lista sêxtupla: Fernando Vasconcelos, Érika Canuto e Eudo Leite. E arriscam que há conspiração no calabouço da luta para afastar logo da lista sêxtupla, para o Tribunal de Justiça, o nome de Anísio Marinho. 
SÉCULO – O livro de estreia de Câmara Cascudo, ‘Alma Patrícia’, faz um século neste 2021. E é justamente por isso que sairá uma quarta edição. Depois da segunda, pela Fundação José Augusto, prefácio de Sanderson Negreiros; e da terceira edição que foi lançada pela Coleção Mossoroense. 
PRELO – O professor José Lacerda Felipe já mandou aos prelos o seu romance ‘Constança’, sua estreia como ficcionista, ele que é a maior e mais consagrada produção intelectual na condição de professor e doutor em geografia. Um romance que é rural e nordestino, uma saga de amor e ódio. 
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