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Ponta do Dourado e dos mariscos

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Nelson Mattos Filho – Velejador /[email protected]

Os dias passam e nossa temporada navegando pelas águas baianas se aproxima do final. Muitos lugares ficaram para ser navegados em outra oportunidade. É difícil seguir um roteiro nesse paraíso da vela de cruzeiro. São muitas praias, muitas ilhas e muitos rios. Um ano é muito pouco para conhecer tudo e cinco meses, tempo que reservamos para esse fim, não é nada.

Ainda não naveguei pelo sul do Brasil, nem pelo norte, mas acho muito difícil encontrar um lugar mais perfeito para a vela do que a Bahia. A Baia de Todos os Santos esconde lugares fantásticos e de incrível beleza. Suas águas mornas, os ventos sempre favoráveis. Não interessa o quadrante que venha o vento, para onde apontarmos nossa proa temos belas praias e ótimas ancoragens. Como moramos a bordo, nem a chuva é empecilho para navegar.  Muitas vezes cai um mundo de água em Salvador, mas em Itaparica está o maior sol. Então trocamos o quintal e mudamos a paisagem da “varanda”.

Vamos começar a subir a costa até Recife e participar da REFENO – Regata Recife – Fernando de Noronha. De Noronha voltaremos para Natal, chegando no começo de outubro. Mas até lá, ainda temos alguns dias na Bahia que tentaremos aproveitar o máximo.

Nessa temporada baiana, navegamos várias vezes entre Salvador/Itaparica/Salinas da Margarida, passando sempre no través da Ilha do Medo e se encantando com uma vasta faixa de areia muito convidativa. Muitas vezes procurei saber como navegar até aquela praia, mas as informações eram muito desanimadoras. Diziam que o canal era estreito, que era raso, que dependia de maré de lua, que tinha muitos bancos de areia, que se encalhasse não saia mais e mais um monte de coisas.

Será que iria sair da Bahia sem conhecer aquele pedaço de areia branca, tão próximo e tão distante? Acho que estava faltando mais empenho e um pouco mais de ousadia e coragem para ariscar. A vela de cruzeiro é feita de paciência e ousadia em desbravar as águas e descobrir novos lugares. Muitas vezes navegamos com um palmo de água em baixo da quilha, mas enquanto o barco estiver boiando o mundo não tem fronteiras náuticas. Essa é a essência da vela de cruzeiro e esse é o mundo que escolhemos viver.

Nossos amigos Davi e Vera, veleiro Guma, são grandes conhecedores dos segredos das rotas navegáveis da Baia de Todos os Santos. Não existe um só final de semana, no ano, em que eles deixem de navegar. Saem sempre às sextas-feiras e retornam na segunda. Davi tinha me prometido a ida até aquela praia, mas os dias iam passando é nada. Um dia a maré estava de vazante, no outro estava muito vento, no outro era o tempo e sempre a praia ia passando ao longe.

Lúcia ficou sabendo que a praia era rica em mariscos, chumbinho e taioba, então a promessa de Davi teve de ser cumprida de qualquer maneira. Se não fosse no Avoante teria que ser no Guma, que por ser catamarã tem o calado baixíssimo. O problema é que Lúcia se tornou uma eximia marisqueira. Acho até que deveria tirar a carteira de catadora de marisco. Nosso amigo não teve como escapar.

A maré estava morta e Davi resolveu que iríamos no Guma, assim ele me mostrava o canal, que gravei no GPS. Realmente a profundidade é muito baixa entre a Ilha do Medo e o continente, saindo de Itaparica. Passamos em lugares com 80 centímetros de profundidade, mas que numa maré de lua pode chegar a 1,8 metro. Nessas condições o Avoante passa folgado. Porém a maior parte do trajeto foi em profundidade de 5 metros. Se viermos por Salinas da Margarida o canal é todo profundo. Ótimo!

A praia, praticamente uma área particular, com um hotel em construção em visível estado de abandono. O dono teve problemas com o IBAMA, que embargou a obra. Uma vasta faixa de areia, praticamente deserta, e com um excelente banho de mar. O local tem tanta beleza que fico a imaginar como pode, ainda, estar daquele jeito sem nenhum grande grupo interessado. A ancoragem super tranqüila e quase nenhum barco se aventura pela região. Tomara que permaneça assim por muitos anos e que o IBAMA continue amuado com o dono.

Essa é a Ponta do Dourado, mais uma praia incrivelmente bela, por traz da Ilha do Medo, próximo de Itaparica e Salinas da Margarida e ainda virgem, com uma grande variedade de mariscos enterrados em suas areias. 

Sai tão entusiasmado para fazer esse passeio a Ponta do Dourado e marcar o trajeto no GPS, que infelizmente não levei a máquina fotográfica para registrar. Acho que o costume de estar sempre com o Avoante por perto contribuiu.

Um dia ele chega lá e a máquina vai junto!

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