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Ponte histórica é destruída

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RIBEIRA - Restam no local apenas ruínas do que já foi uma relíquia

Trata-se de uma pontezinha ao lado da rodoviária velha, na Ribeira, praticamente esquecida pelo tempo e pela população. O canal que ela sobrepunha foi soterrado há muitos anos e hoje ela liga nada a coisa alguma. Mas continuava em seu lugar, após mais de cem anos, como um pedaço do passado encravado no presente.

Até o início do século passado, a área onde hoje estão o Teatro Alberto Maranhão e a rodoviária era um grande pântano. A obra “Caminhos de Natal”, 2002,  da pesquisadora Jeanne Fonseca Leite Nesi, traz citações da época, que descrevem a região. A ponte original foi construída em 1905, sobre um canal na Praça Augusto Severo.

Mas quase ninguém conhece tal história. E muitos, ao longo do tempo, sequer  notaram a ponte. Esta semana, quase tudo do que ainda restava foi derrubado, para ser reconstruído nos mesmo moldes, pela obra de revitalização da Ribeira. A estrutura interna dos guarda-corpos estava enferrujada, e segundo os responsáveis pelo serviço, uma restauração não era viável.

A medida gerou polêmica. Arquitetos da cidade ficaram revoltados com a atitude. Segundo eles, a retirada dos guarda-corpos deveria ser discutida mais amplamente, devido a um incalculável prejuízo ao patrimônio histórico da cidade. E que, mesmo a estrutura nova imitando a original, a obra já perdeu valor.

Paulo Nobre, professor do curso de Arquitetura da UFRN está indignado. Ele passou pela Ribeira na última quarta-feira e viu que as duas estruturas laterais da ponte haviam sido derrubadas. “O problema não é o fato em si, mas o procedimento. Será que um outro engenheiro não teria outra opinião?”.

Segundo Paulo, a importância histórica da ponte tonava necessária uma discussão mais ampla, com órgãos que cuidam do patrimônio e profissionais especializados em obras históricas. “Isso significa preservar as marcas do passado. É assim que se constrói a história”, disse.

A chefe do Setor de Projetos da Secretaria Municipal de Meio-Ambiente e Urbanismo (Semurb) – secretaria que fiscaliza as obras -, Cecília Crispim, contou que a intenção inicial era apenas de uma restauração. Mas ela contou que na quarta-feira foi visitar o local e foi avisada por um engenheiro sobre a necessidade da derrubada.

“Na reunião feita no local foi definido que o guarda-corpos seria derrubado. Tinha inclusive uma parte que estava bamba e poderia até oferecer riscos”, explicou Cecília.

Segundo ela, a chefe de setor de patrimônio histórico também particiou da reunião. Cecília informou ainda que os pilares e o piso serão restaurados.

Guarda-corpos estariam completamente deteriorados

Na manhã de ontem, alguns pedreiros trabalhavam no que restava da ponte – os quatro pilares de sustentação dos guarda-corpos. Os moldes da nova estrutura eram instalados, no mesmo formato do que foi derrubado. Os guarda-corpos ainda estavam no chão, completamente enferrujados.

Um rapaz disse que era engenheiro da Certa – empresa responsável pelas obras da revitalização da Ribeira – e esclareceu porque parte da ponte foi derrubada, porém, não quis se identifcar nominalmente. “O local da ponte será o mesmo, mas tivemos que derrubar os guarda-corpos porque estavam totalmente estragados”, informou o homem.

O rapaz confirmou que a nova estrutura será nos moldes da antiga e garantiu que a medida tomada já estava planejada. “A derrubada estava prevista no projeto, sim”, informou o engenheiro. Segundo ele, a ferragem interna estava tão desgastada que não adiantaria modificar apenas a parte externa, de concreto.

O ocorrido acabou gerando um conflito de opiniões dentro da Semurb. Florésia Pessoa, chefe do Departamento Urbanístico e Ambiental da secretaria,  também se assustou com o que houve com a ponte e  reafirmou o compromisso inicial de manter a estrutura original. “O projeto visava não só a conservação como a valorização da ponte”, disse. Para ela, faltou sensibilidade por parte do engenheiro que determinou a derrubada dos guarda-corpos. “A Semurb tem inclusive planos para se criar uma escola para os profissionais que irão trabalhar com este tipo de obra. Desde o peão até o chefe”.

 “É uma pena ela ser derrubada”

A chefe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no RN, Jeanne Fonseca Leite Nesi, foi ponderada ao avaliar o que aconteceu com a antiga ponte. A pesquisadora preferiu não dar pareceres enfáticos por não conhecer o projeto da revitalização e por não ter visto o que foi feito com a estrutura.

Mas Jeanne Fonseca ressaltou a importância de se aproveitar o máximo possível de cada monumento antigo e condenou o fato de se reconstruir algo que imite o que existia originalmente. A chefe do IPHAN lembrou ainda que há correntes que vêem de forma diferente algumas estruturas, segundo sua funcionalidade e lamentou a falta de informações sobre a ponte, no local em que ela está.

TRIBUNA DO NORTE – Seria correto a retirada da ponte?
Jeanne Nesi – Na verdade isso depende muito do ponto de vista de cada um, de cada profissional que trabalha com o patrimônio. Eu não conheço o projeto, mas acharia uma pena ela ser derrubada. Mas tem gente que defenderia a retirada porque ela não teria mais funcionalidade, pela não existência do canal.

Qual seria a forma ideal para agir naquele caso?
JN – O que for possível preservar, você preserva, mantendo as características originais. O que não é correto é você reinventar o antigo, como destruir a rodoviária, que já faz parte da paisagem e construir de novo. Reconstituir o antigo é enganar o visitante.

Da forma que a ponte se encontrava, estava bem cuidada?
JN – É preciso levar em consideração o projeto, que repito, não conheço. Mas seria adeqüado que ali houvesse um totem com informações sobre a ponte. Da forma que ali estava, era completamente sem sentido. A leitura era muito confusa para quem não conhecesse a história.

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