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Ponte não traz frutos esperados

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Valdir Julião – Repórter

Já se passaram dois anos e três meses da inauguração da Ponte Newton Navarro, que ligou  os dois lados do rio Potengi entre as Zonas Norte e Leste da cidade, mas a obra tida como a redenção econômica do litoral ao Norte de Natal não trouxe, ainda, os frutos esperados para o desenvolvimento turístico, por exemplo, para os nove municípios daquela região, inclusos entre os 16 que compõem o Pólo Costa das Dunas, dos quais sete estão ao sul da capital.
Representantes de vários setores acreditam que a zona Norte precisa mais do que uma ponte
Às vésperas de inaugurar a ponte Forte-Redinha, o que ocorreu em 20 de novembro de 2007, a governadora Wilma de Faria chegou a dizer que os novos empreendimentos de lazer e entretenimento deveriam gerar “cerca de 90 mil empregos nos próximos quatro anos”.

Na época, a governadora enfatizava: “Esta não é a obra mais cara realizada pelo nosso governo, mas certamente é a mais emblemática”.  Tanto otimismo também contagiava o secretário estadual de Turismo, Fernando Fernandes, que estimava em 100 o número de  novos projetos de empreendimentos imobiliários e turísticos a serem construídos no Litoral Norte.

O secretário de Turismo ainda falava na ampliação do número de leitos da rede de hospedagem do Rio Grande do Norte em 120 mil, triplicando a capacidade atual de 45 mil e a geração de 400 a 500 mil empregos com a construção e dos empreendimentos, que, depois de comercializados gerariam negócios em torno de dois bilhões de euros.

Agora, o secretário Fernando Fernandes ressalva: “Naquele momento era a estimativa que nós tínhamos, os empresários do setor estavam todos interessados, infelizmente, logo depois veio a crise imobiliária na Espanha e a crise econômica mundial”.

Fernandes afirmou que, em decorrência disso, todos os grandes projetos que estavam previstos “nenhum saiu do papel”. Segundo ele, estão na gaveta, por exemplo, projetos de empresários espanhóis, noruegueses e irlandeses nas praias de Caraúbas, Jacumã, Pitangui, Rio do Fogo, São Miguel do Gostoso e Zumbi. “Naquela época a realidade econômica era outra, havia um boom imobiliário”, reafirmou Fernandes, citando o fato de que no Instituto Estadual de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (Idema-RN), havia até 20 cartas consultas de campos de golfe: “A ponte era uma condicionante, depois veio a crise econômica e ninguém tem o dom de controlar a economia mundial”.

Como Natal foi escolhida uma das cidades sedes para a realização de jogos da Copa do Mundo de 2014, o secretário acredita que isso possa contribuir para a retomada desses projetos: “Pelo menos dois já disseram que começariam as obras até o meio do ano”. Fernandes declarou que “confia nessas informações”, oriundas do Grupo Sanchez, espanhol, que está se associando a parceiros holandeses para a construção do Elegance Natal Golf. Outro grupo espanhol também está fazendo parceria com o Hotel Meliá para iniciar a construção do segundo empreendimento até junho deste ano.

Segundo Fernandes, agora se tem uma “expectativa muito boa” da divulgação de Natal como destino turístico, a partir da campanha mundial que o governo brasileiro fará no próximo dia 11 de julho para o Campeonato Mundial de Futebol no Brasil.

Região precisa de estrutura viária

O presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-RN), Waldemir Bezerra de Figueiredo, disse que a ponte Forte-Redinha “foi um sonho acalentado de muitos anos”, mas, ele disse que não é só a ponte, “obviamente”, que vai cumprir o papel de desenvolver o litoral Norte.

Para ele, é importante a construção dos anéis viários de São Gonçalo do Amarante e de Extremoz, que também estão dentro do projeto de construção do novo aeroporto comercial da Grande Natal, que vai substituir o aeroporto Augusto Severo, em Parnamirim.

Assim mesmo, Waldemir Bezerra considera que já houve um ganho com a ponte, porque até sua inauguração “havia uma dificuldade terrível de se sair de um lado para outro da cidade”.

Segundo Bezerra, superado este aspecto, surgiu a crise econômica mundial “que afetou todos os projetos em andamento”, os quais “vão demandar mais tempo para serem concluídos”.

Com relação à Zona Norte de Natal, mais especificamente, Bezerra acredita que só haverá um crescimento mais explícito daquela área urbana, se a revisão do Plano Diretor de Natal (PDN) vier com mudanças no gabarito para construções de empreendimentos na região.

Já a respeito da Redinha, Redinha Nova e Santa Rita, como se tratam, praticamente, de praias urbanas, ele acredita que é mais difícil o surgimento de grandes empreendimentos turísticos e imobiliários, por conta do pouco espaço existente e a divisão de suas áreas em pequenos lotes.

Afora isso, ele crê que a fragilidade de infraestrutura naquela área também contribui para inibir o crescimento imobiliário, como a falta de drenagem e saneamento da Redinha Nova, onde o terreno é baixo e ocorrem inundações em períodos de inverno.

Ainda assim, o presidente do Creci-RN acha que a Zona  Norte de Natal “começa a ter vida própria”, em função da instalação de uma rede bancária, restaurantes e shoppings, e outros equipamentos que ali estão chegando, como a construção do complexo River Side pela construtora Metro Quadrado.

Secretário lembra a questão do meio ambiente

Para os setores turístico e imobiliário, o governo estadual já cumpriu o seu papel com a construção da Ponte Forte-Redinha, que encurtou em 11 quilômetros, por dentro de Natal, o  trajeto de veículos entre os litoral Sul e Norte de Natal. A opinião deles é que outras ações precisam ser implementadas na área de infraestrutura para a indução do desenvolvimento turístico do litoral Norte, inclusive relacionadas a questões ambientais que são objeto de discussão judicial, como a Área de Proteção Ambiental (APA) de Jenipabu, no município de Extremoz.

“A ponte foi importante como ferramenta para disparar o negócio do  turismo, mas todos os projetos em Extremoz estão travados na Justiça”, disse o secretário municipal de Turismo, Fernando Bezerril, apesar da APA de Jenipabu já ter sido criada por lei estadual: “Agora são necessárias obras menores, que a gente está vendo que serão trabalhadas”.

Bezerril lamenta que há 120 dias o município aguarda uma decisão da Justiça para que saia a regulamentação da APA de Jenipabu. “É preciso separar o joio do  trigo, porque Extremoz é a bola da vez”, disse ele, dando o exemplo de um projeto que se encontra emperrado por causa disso, do grupo Valero Brasil, representando um investimento de R$ 40 milhões.

O secretário estadual de Turismo, Fernando Fernandes, afirmou que todos os investimentos relacionados ao Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur I) foram feitos. Quanto ao Prodetur II, todas as obras e ações foram iniciadas, inclusive em dezembro de 2009 foi fechado um acordo com o Ministério Público Estadual (MPE) a respeito da ação judicial que tinha embargado as obras de saneamento em Cotovelo, Pirangi e Pium, que também fazem parte do Pólo Costa das Dunas.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio Grande do Norte (ABIH-RN), Enrico Fermi Torquato Fontes, informa que atualmente “não existe nenhum empreendimento em vista para ser inaugurado” no Estado.

Enrico Fontes disse que o turismo do Rio Grande do Norte cresceu em cima do turista estrangeiro, mas com a perda de turistas de 2006 para cá, o problema atingiu os mercados dos litorais Norte e Sul de Natal, que terminou se voltando para o mercado  interno:. “Natal tinha de ser vendido para os dois destinos”.

Na opinião de Fontes, a construção da ponte foi um pleito atendido, mas também é preciso se voltar para a construção das vias de acesso e a solução de questões ambientais nas praias da  Redinha Nova e Santa Rita. “A ponte fortaleceu o corredor turístico, tirou parte do tráfego de veículos da ponte de Igapó, esse objetivo foi cumprindo,  mas havia uma indefinição sobre política ambiental e faltam também drenagem e saneamento básico em algumas regiões”, disse Fontes.

Um exemplo, citou Fontes, foi a Via Costeira, que só ganhou saneamento básico no governo Garibaldi Filho (1995/1998 e 1999/2002) e depois disso recebeu   dois hotéis cinco estrelas dos grupos Pestana e Serhs.

Comerciantes lamentam a perda dos consumidores

Ao longo do corredor turístico urbano de Natal de 17 quilômetros entre Ponta Negra e a Redinha, que se abriu com a construção da ponte Newton Navarro, uma cena comum: a placa de venda de imóveis, sobretudo terrenos, como na avenida Café Filho, Praia do Meio, ou casas de veranistas e pousadas na avenida Litorânea, Redinha Nova.

Na avenida Litorânea o comércio se resume, praticamente, aos pequenos mercadinhos e poucas pousadas, os dois únicos hotéis três estrelas da área estão fechados: o Redinha Hotel e o Atlântico Norte.

Quanto a restaurantes, uma grife criada em Natal ainda resiste, uma filial da “Peixada da Comadre”, que é tocado por Gilson José de Morais, filho: “Nós esperamos muito tempo por essa ponte”.

A ponte foi inaugurada, mas Gilson Morais disse que o movimento no restaurante já havia caído bastante com o fechamento dos dois hotéis. “Pode ser que na Copa as coisas melhorem”, otimiza ele, que na época das “vagas gordas”, a partir das 17 horas, diariamente, não tinha como atender tanto turista que chegava ao restaurante.

Morais afirma que abriu o restaurante – “para ter voo próprio” – há 11 anos, mas muita gente que conhece a matriz da  “Peixada da Comadre”, na Ponta do Morcego, na Praia do Meio, ou a outra que existe em Ponta Negra gerenciada por outro irmão,  ainda aparece na sua peixada.

Na Praia do Meio, alguns hotéis e restaurantes e o Centro de Artesanato ainda funcionam, mas já depois da rótula da Ladeira do Sol, cinco terrenos têm placas de venda. Num delas, a imobiliária informa que uma das áreas, de 802 metros quadrados já possui um projeto aprovado para a construção de um edifício com 26 flats.

Afora isso, continua fechado o antigo Hotel dos Reis Magos, a primeira unidade hoteleira construída no governo Aluízio Alves (1961/1965) em Natal para receber turistas e visitantes de fora. Hoje pertencente a um grupo pernambucano, obteve esta semana a liberação da licença ambiental para a sua reforma. 

Caseiro do Atlântico Norte há mais de cinco anos, Ambrósio Rodrigues da Silva, disse que na avenida Litorânea ainda existe algum movimento por causa  do “Aquárius”.

Ele acha que depois da ponte “melhorou alguma coisa por aqui”, mas disse que ouviu os patrões falarem que o hotel vai ser reconstruído para a Copa do Mundo de 2014.

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