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População está à mercê de boatos

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LACEN - Laboratório avaliou sete tipos de virus respiratórios e leptospirose

Ao adotar a política do silêncio no que diz respeito à pneumonia hemorrágica, a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) deixou a população do Rio Grande do Norte à mercê de boatos e sem informações confiáveis, o que tem contribuído para espalhar uma atmosfera de temor.

A notificação do primeiro caso no RN foi em 10 de março deste ano e a Sesap ainda não estabeleceu a causa da doença ou mesmo se há um agente transmissor. Até agora, são 20 casos suspeitos registrados. Onze foram descartados e oito resultaram em óbito dos pacientes — todos eles crianças. Correm informações, no entanto, de que os sintomas têm aparecido também em adultos.

A TN recebeu uma informação dando conta de que na semana passada uma gestante teria morrido no Hospital da Polícia Militar com os sintomas da doença. O caso não foi confirmado nem desmentido. Ontem à tarde, o diretor da unidade não estava mais no local de trabalho e informou, por meio de um médico, que só falaria pessoalmente. Um funcionário do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), com vinte anos de experiência no setor de virologia, comentou que têm aparecido gente de todas as idades com os sintomas e que os especialistas estão tontos, sem saber bem o que fazer. 

Enquanto os boatos correm e o medo aumenta, a Sesap, por meio de sua assessoria de imprensa, encaminha aos jornais um comunicado informando: “Devido à grande demanda e procura dos jornalistas sobre informações acerca da doença denominada Pneumonia Hemorrágica Idiopática (PHI), a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) decidiu realizar, nas semanas em que houver algum fato novo, uma coletiva com a imprensa. As entrevistas serão concedidas pelo secretário estadual de Saúde, Adelmaro Cavalcanti Júnior, acompanhado da coordenadora de Promoção à Saúde, Lavínia Uchoa, e da subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica, Maria Antonieta Delgado Marinho”.

E continua: “A próxima coletiva será realizada nesta sexta-feira (02/06) no auditório da Sesap, no 12º andar, impreterivelmente às 9h. Cada jornalista terá direito a fazer duas perguntas. A ordem para os questionamentos será de acordo com a chegada de cada veículo. Após os esclarecimentos, será aberto um espaço para que os veículos de TV possam gravar suas sonoras”.

Com os postos e unidades de saúde, a Secretaria Estadual de Saúde passou a distribuir, há cerca de uma semana, um protocolo de vigilância e assistência de casos suspeitos, orientando a seqüência correta de procedimentos a serem adotados pelos médicos no caso de um paciente procurar assistência apresentando os sintomas da doença. As crianças que morreram e estão sendo investigadas apresentavam tosse aguda e dificuldade de respirar. Ao serem medicadas, não reagiram e passaram a apresentar sangramento. A morte se deu em questão de horas.

Exames foram enviados para Belém

Desde que se começou a falar na pneumonia hemorrágica, os únicos casos encaminhados pelo Laboratório Central de Saúde Púbblica (Lacen) para análise no Instituto Evandro Chagas, Centro Internacional de Referência Laboratorial para Leishmanioses e Arboviroses, em Belém do Pará, foram os das oito crianças que vieram a morrer, o que dá a entender que, depois delas, não apareceu mais nenhum outro caso suspeito.

A diretora do Lacen, Maria Goretti Lins de Queiroz, informou que o laboratório, em Natal, realiza análise de sete tipos de virus respiratórios e leptospirose, além de investigar dengue e um rotavirus que causa diarréia. Todos os testes foram feitos e não foi detectado, em nenhuma das crianças que morreram, qualquer uma dessas doenças.  “Os exames deram negativo. Não aparecendo nenhuma das causas que conhecíamos, encaminhamos o material coletado para análise no Instituto Evandro Chagas”, disse Goretti. Ela informou ainda que o Centro de Referência Laboratorial deve estar enviando o resultado das análises até o final da semana.

A diretora do Lacen falou que desconhecia casos de adultos que tenham sido acometidos por doenças com sintomas da PHI. “Não fiquei sabendo de nada nesse sentido. O que se tem até agora são esses casos das crianças. Nada mais se sabe”. 

Editorial: Atitude desastrosa e antipopular

Transcorridos 81 dias desde a primeira notificação dos casos de pneumonia hemorrágica no Rio Grande do Norte, a Secretaria Estadual de Saúde não estabeleceu, ainda, qual a origem ou mesmo se há um agente patogênico transmisssor da doença, que resiste a toda a medicação aplicada e mata em poucas horas. Apenas há, de concreto,  os 20 casos registrados como suspeitos e oito óbitos confirmados.

Não se pode negar que esforços, no sentido de diagnosticar as origens da PHI, têm sido feitos. Enquanto eles não alcançam sucesso, é fundamental que a população tome precauções, mantenha-se informada e contribua com o necessário apoio à identificação, ao controle e à não disseminação da doença. As autoridades de saúde podem e devem valer-se da imprensa para ajudá-las nesta tarefa. Ao receber e falar com os repórteres, diariamente, sobre a PHI, essas autoridades não estão prestando “um favor” aos meios de comunicação, mas sim “cumprindo com uma obrigação do agente público”: manter o cidadão inteirado do que vem ocorrendo.

Entretanto, talvez inspirada no método adotado para o atendimento à população, de procrastinar consultas e exames, a Sesap optou – através da sua assessoria de imprensa – em “conceder entrevistas apenas quando houver um fato novo’ e limitar, nestas ocasiões, as perguntas feitas pelos repórteres. É inconcebível,  para um governo democrático, uma atitude tão desastrosa e antipopular. 

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