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Por curiosidade

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Vicente Serejo
Leio todos os dias e, algumas vezes, o dia todo. Não por mérito, nobreza ou erudição, mas porque nasci com a alma curiosa. Só por isso. Ou, se é necessário uma boa referência, não estou entre eruditos e entusiastas solitários, os sedentários e concentrados, como diria Virgínia Woolf. Estou entre os outros que ela mesma viu como aqueles com vontade apenas de saber. E tenho a paixão pela procura, isto sim, mas livre e desinteressada de qualquer glória. 
Por isso, não sou e nunca desejei ser intelectual. Se não chocasse tanto aos doutos até diria, compungido, mas sem arrogância, um “Deus me livre!”. 
Interesso-me pelo que os outros se interessaram. Sou repórter vinte e quatro horas por dia, enlouquecido pela descoberta de um detalhe que seja, mas que seja aquele detalhe com a força de soprar vida no texto jornalístico. Meu mister, nobre ou pobre, eis a rima, é buscar informação e enxergar tudo, com os outros. 
Claro que essa corrida é muitas vezes inútil, mas é que tenho comigo as lições teóricas e práticas de um jornalismo que exerço há cinquenta anos. Aprendi, modéstia à parte, com quem sabia fazer. E de todas as lições, a mais determinante foi exatamente a mais simples: aprender com o mundo e nunca tentar ensiná-lo. Faço assim. Sou observador do fato com a liberdade de tentar vê-lo antes e depois, entre causas e efeitos, e posto que o fato, em si, às vezes, não basta.
E tudo é muito simples. Se cai nas mãos e nos olhos um livro inédito, para um prefácio, por exemplo, refaço sem pressa todo seu caminho, procurando saber a razão de todas as coisas que ali estão reunidas e, sobretudo, se houve caminho igual antes daquele. Se é só leitura, terço armas com sua história e vou seguindo a trilha, sem pressas e sem demoras. Faço e refaço todos os caminhos, até que sobrem intactos os espantos e as dúvidas e, quem sabe, novas descobertas.
É por vício de repórter que não acredito na leitura única dos fatos e das narrativas, e se a desconfiança é a forma perfeita para encontrar o fio da meada.
Que as certezas peremptórias fiquem com os doutos e os intelectuais de quatro costados. Prefiro as dúvidas porque com elas é mais fácil fazer o bom alinhavo das suspeições, e, às vezes, encontrar no embainhado ou no forro dos bolsos, a explicação interessante que revela o pecado e a virtude, a glória e o horror.  
Uma vez, nunca esqueci, Djair Dantas trouxe a Natal o jornalista Walder de Góes, então um dos editores do Jornal do Brasil. O diretório convidou e ele foi ao Xeque Mate, um programa de entrevistas ao vivo da Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza, hoje deformado. De repente, veio, não lembro de quem, a pergunta: “Por que é tão difícil ser jornalista no Jornal do Brasil?”. E Góes, sem demora: “O JB não precisa de jornalista. Precisa de repórter”. Deu pra entender?
RUÍNAS – Como na área cultural nada muda, há anos e anos, a não ser a renovação do mando dos seus capitães-mores, resta o furdunço dos festejos vendidos às hordas como ação cultural. 
PERIGO – Ninguém duvide: do outro lado do falso moralismo que defende a faxina nas redes sociais, está o pior: o pacto do Estado com os oligopólios dominadores dos controles da opinião. 
PIOR – Não parecia fácil imaginar que poderia haver para a democracia, algo pior que Donald Trump. Mas, há: oligopólios virtuais aliados ao Estado amordaçando a quem desejar silenciar. 
OU… – Seja: para a própria democracia, pior que o autoritarismo deplorável de Donald Trump é o poder do oligopólio censurar até Donald Trump. Regular a liberdade é um disfarce hediondo.   
EXCESSO – O projeto editorial do livro de Antônio Fagundes – ‘Tem um livro aqui que você vai gostar’ – transformou a edição em catálogo. Deixou que colocassem suas leituras num palco. 
COMO – Salpicado de pequenos textos, todos muito óbvios, e das capas em cores de todos os livros indicados ou citados, Fagundes mostra que é bom leitor, mas um crítico literário amador. 
LUTA – Mossoró arregimentada, de punhal e clavinote, para fazer de David Leite, que um dia já declarou ser seu ombudsman, o novo imortal da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.  
OLHO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, sensual como nunca: “Há sempre uma alça de sutiã que foge, como uma metáfora, e revela a renda fina dos desejos escondidos”.  
META – A área econômica do governo faz conta e pode antecipar o pagamento das parcelas das duas folhas de pessoal. Uma delas é a do décimo-terceiro de 2018 que agora paga a primeira. A ideia, mantida sem divulgação, é quitar tudo antes do último dia útil de junho. Há quem aposte.
RUIM – Se a governadora, em dois anos e meio, quitar quatro folhas atrasadas – já quitou duas – sem atrasar as folhas dos quatro anos do seu governo, mostra que foi a má gestão do passado. Daí a sentença das urnas que derrotou o então governador Robinson Faria no primeiro turno.
CORAGEM – O desastre do governo na área de pessoal – mais de mil obras, mas financiadas pelo Banco Mundial que o cofre do Estado vai pagar – não impedirá a candidatura a deputado federal do ex-governador Robinson Faria. Fábio, o filho, abre a vaga e tenta o Senado em 2022. 
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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