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Por Dina

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Vicente Serejo

Dina serejo

Como diria um bom guarda-livros, daqueles oficiantes da palavra escorreita e austera, em que pesem os percalços do ciúme, estou com Valério Andrade: a beleza mais encantadora não é necessariamente aquela que se expressa pelas formas físicas tão evidentes, mas, às vezes, aquelas suavemente sugeridas. Talvez por isso, Dina Sfat tenha caído tão perdidamente nestes olhos do cronista, embora a tenha contemplado só uma vez, de longe, sem coragem de tocá-la.

Foi no Rio, há muitos anos. Ela estava sobre almofadas no chão de uma loja, numa das galerias que atravessam os edifícios com seus caminhos luxuosos. Rejane a viu primeiro, do outro lado da vidraça. Quis entrar e dizer do encantamento, mas veio a sensibilidade feminina de Rejane, dosada da inegável malícia das fêmeas, e sempre acima dos homens: “Não entre”, disse. E completou: “Ela pode não gostar, receber com frieza, e você vai ficar decepcionado”.
Terá sido um erro, se é verdade que a ousadia atrai as mulheres, quem sabe. Ou não. Vai, se por alguma razão íntima, Dina pouco desse do seu olhar felino à minha admiração anônima? Há nas mulheres, e ainda que de forma discretamente dissimulada, um certo desprezo no olhar quando não se interessam por um homem. Ou, tanto pior, se este homem, ainda que interessante, não possa ou não queira amá-las. Os olhos se aninham, vagamente, e fogem.

Anos e anos depois, quando de um dos primeiros festivais de cinema de Natal, pedi a Valério Andrade que tentasse convidar Dina Sfat. Estávamos ai por volta de 1987 ou 1988. Valério convidou, e ela aceitou. A passagem chegou a ser expedida, mas dias antes do festival ela ligou para se desculpar. Não daria certo naquele ano. Ficaria para o próximo. Só que algum tempo depois veio a triste e discreta razão da sua grade ausência: Dina estava com câncer.

Não diria que o desfecho não espantou. Um tumor tirou a vida de Dina, colocando-a num lugar inalcançável. Uma mulher ousada para o seu tempo. Quando a nudez era castigada, como sentenciava Nelson Rodrigues, Dina posou em nu frontal, janeiro de 1982, para sair nas páginas de Playboy. Sua beleza de falsa magra explodiu em todo Brasil, entre volutas de uma manta vermelha esvoaçante que revelava e ao mesmo tempo escondia o fervor de sua carne. 

De tudo, e como se não fosse antes, ficou apenas essa historia triste do encontro que não foi possível. E tudo porque Outro dia encontrei nesta tela uma mensagem de Valério Andrade, crítico de cinema, que faz tanta falta a Natal nas páginas desta Tribuna. Ele tem razão. Parece ser mesmo dos taurinos, ainda que este cronista não seja dado a horóscopos, esse destino de perder suas musas. Com esse mistério encantado de sempre perdê-las, sem jamais tocá-las. 

FACÇÕES – Policial-militar, com atuação nos batalhões do Choque e do Bope, e que assina C. S. Barbosa, conta no seu livro toda ‘a história de sangue e morte’ nas masmorras de Alcaçuz.

RUÍNAS – A restauração das ruínas centenárias da Samaritana, na Dr. Barata, para ser museu, é a boa da água é a notícia. Ruínas só são imprestáveis caídas na insensibilidade ou na ambição. 

MÁRIO – Muito bem cuidada a edição da biografia de Mário de Andrade – ‘Em Busca da alma brasileira’ – de Jason Tércio. Ele que é também o biógrafo do cronista José Carlos Oliveira.

SAUDADE – Margones Barros Figueiredo, de Paris, lembrando os dias felizes, ele anfitrião seridoense de Lalinha e Genibaldo Barros, dirigindo e singrando as terras da França profunda.

VINCI – Do poeta Diógenes da Cunha Lima num galope de versos louvando o Cavalo de Da Vinci: ‘Este cavalo de Da Vinci noutro tempo /Comeu a estrela-d’alva /Para lhe pintar a testa’.

DEBATE – Hoje, 14hs, na Assembléia, a audiência pública proposta pela deputada Eudiane Macedo sobre as obras do pró-transporte para uma integração das cidades em torno de Natal. 

AVIÕES – Dias 6,7 e 8 desse setembro, em São José de Mipibu, bem em torno do Museu do Vaqueiro, o encontro dos aviões. Com as acrobacias no ar e as ousadas piruetas de Waldonys.

SÚPLICA -Do Indormido, de bom humor, tomando seu gim destilado do suco das laranjas de Sevilha, ao encontrar aqui, ontem, o Coração de Jesus, um velho ícone familiar: ‘Só Deus!’.

AVISO – Convenhamos: é uma tolice heroica e cheirando a populismo o Governo do Estado rechaçar peremptoriamente a privatização para garantir pagamento dos três meses atrasados. É carregar a espingarda de soca só com a pólvora fácil e feita do sacrifício dos mais fracos.

PERDA – Seria discutível vender patrimônio e gastar com salários. O ideal seria investir. Mas se essa resistência não fosse injusta, sobre a fraqueza dos servidores sem poder de reação. O socialismo verbal dos petistas locais nunca enfrenta, com posição severa, o abuso dos fortes.

RISCO – Nenhuma estratégia de governo, vivendo um estado de calamidade financeira que a própria governadora Fátima Bezerra chegou a decretar, tem o direito de sonhar em ter na sua cabeça a coroa feita dos espinhos dos que ganham menos e enfrentam as maiores incertezas.

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