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Porto, Portugal

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Nei Leandro de Castro
Escritor

A cidade do Porto, norte de Portugal, me traz fortes e inesquecíveis lembranças. Foi lá, no ano 2000, onde estive com o poeta Luís Carlos Guimarães, em andanças e esbórnias. Depois de percorrer seus becos e ruas tortuosas, depois de visitar o seu centro cheio de beleza e história (berço do Infante dom Henrique, que ali nasceu em 1394), a gente fazia ponto no famoso bar Majestic. Certa vez, nos sentamos para o almoço cheio de prosa e o garçom perguntou o que iríamos pedir. Lula, já meio triscado, disse com aquela voz arrastada: “Eu quero tudo que engorde e que faça mal.”  O garçom não achou graça nenhuma,

Numa manhã de outono, enfrentei com o poeta uma ladeira três vezes mais íngreme do que a ladeira do Baldo, rumo a uma das pontes  que levam à Vila Nova de Gaia. No meio do caminho, Lula parou sem fôlego, pálido, e eu tomei um grande susto e me lembrei do seu poema premonitório: “Se vier o enfarte/ atravessarei a ponto de safena?” Não houve enfarte, chegamos sãos e salvos à Vila Nova de Gaia, a pequena cidade vizinho ao Porto, onde são produzidos os vinhos famosos. E passamos a tarde num barzinho  à beira do rio Douro, falando da poesia alheia. Agora, nesta viagem, voltei a atravessar a ponte altíssima, rumo à Vila Nova de Gaia, e fui para o mesmo bar em que Lula e eu conversamos e bebemos há 16 anos.

O Porto me lembra outro poeta, morto em 2005, aos 82 anos de idade. Eugênio de Andrade, pouco conhecido no Brasil, é um dos grandes poetas de Portugal. Dono de uma poesia forte, lírica, muitas vezes dramática: “Já gastamos as palavras pela rua, meu amor, / e o que nos ficou não chega/para afastar o frio de quatro paredes./ Gastamos tudo, menos o silêncio./ Gastamos os olhos com o sal das lágrimas.”

A chegada do Porto, depois de uma viagem de uma hora e meia de trem, a partir de Lisboa, me trouxe a poesia de Eugênio de Andrade e a saudade do meu amigo Lula, poeta muito querido, que um ano depois daquele nosso encontro não atravessaria a ponte de safena. Não quis visitar o Majestic para que a saudade não doesse ainda mais. E conheci, graças a Jorge Araújo, meu editor em Portugal, um lado da cidade que não conhecia: o mar, a praia de Matosinhos, que lembra muito aquele trecho de Areia Preta, com ondas investindo contra as pedras. Pelo banquete que me ofereceu, com lagostas, sapateiras, santolas e outros frutos domar, o editor está acreditando muito na venda das Pelejas de Ojuara.

No Porto, numa conversa informal, tomei conhecimento de algo quer incomoda muita gente, em toda parte: os arrumadores. Esses malandros, aqui conhecidos como flanelinhas, estão sofrendo uma dura campanha da administração daquela cidade. Há uma postura municipal que proíbe a atividade desses parasitas. Além disso, nos pontos de estacionamento, há cartazes pedindo aos motoristas que não dêem dinheiro aos arrumadores. Com isso, houve uma redução drástica no número desses pilantras, que foram baixar noutro terreiro. Será que virão para Natal? Cabe outra pergunta: não seria o caso de se imitar o exemplo lusitano e combater essa praga que já se espalhou por todos os becos, ruas e praças do nosso país?

Citação da semana:

 “A Igreja é uma instituição milionária sem fins lucrativos.” (Roberto Rodrigues Roque)

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