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Portugueses e Espanhóis voltam à América Latina

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Lisboa (AE) – Espanha e Portugal foram durante as últimas duas décadas um ímã que atraiu imigrantes pobres das suas ex-colônias. Agora está ocorrendo uma inversão nesta corrente e os dois países colonizadores, que no passado mandaram milhões de imigrantes para a América Latina, estão vendo multidões de jovens frustrados imigrando para os antigos destinos em busca de uma vida melhor. A dívida e o desemprego na Península Ibérica estão alterando os padrões imigratórios das últimas duas décadas e fazendo com que uma nova geração de profissionais formados no Velho Mundo tente viver uma vida mais digna e melhor em continentes que desprezaram nas últimas décadas.

Os portugueses buscam Angola e Moçambique, assim como o Brasil, onde faltam engenheiros no momento em que o país sul-americano se prepara para organizar a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro. Os espanhóis, por sua vez, se encaminham às suas ex-colônias na América Latina. Embora os especialistas digam que é difícil medir a escala desta nova onda de imigração porque ainda não existem estatísticas oficiais, já é possível verificar alguns dados reveladores.

O Observatório da Imigração de Portugal diz que a quantidade de portugueses inscritos nos consulados no Brasil subiu de 678.822 em 2009 para 705.615 no ano passado. Já a quantidade de permissões de residência concedidas por Moçambique a portugueses em 2010 foi de quase 12.000, 13% a mais que em 2009.

Ao mesmo tempo, os registros eleitorais da Espanha mostram que 30 mil cidadãos espanhóis imigraram à Argentina entre junho de 2009 e novembro de 2010, o que representou um aumento de 11% sobre o mesmo período do ano anterior. Outros 6.400 espanhóis foram viver no Chile na mesma época, um aumento de 24% sobre o período anterior, enquanto 6.800 se mudaram para o Uruguai (aumento de 16%).

Na Espanha, onde atualmente uma em cada cinco pessoas não tem trabalho, as oportunidades que a América Latina oferece são um poderoso atrativo para os que viram suas carreiras interrompidas pela recessão. Em Portugal, as oportunidades são escassas e o país mergulhou em profunda crise financeira.

“Os mercados emergentes são os lugares onde existe trabalho”, disse Jorge Borges, engenheiro civil português de 35 anos. Desapontado com a falta de oportunidades em Portugal, Borges cruzou a fronteira e foi para a Espanha há cinco anos, aproveitando o fim do boom na construção civil espanhola. Mas agora a economia espanhola também desmoronou e Borges ficou sem trabalho. Por isso, quer imigrar novamente, mas não para outro país europeu, e sim para o Brasil, ou então para Angola. “Vou embora na primeira oportunidade que surgir”, disse Borges em Zaragoza, Espanha, onde mora atualmente.

O Brasil oferece atrativos especiais porque está recrutando engenheiros civis e arquitetos para trabalhar nas obras públicas que deverão surgir nos próximos anos. O governo do país planeja investir US$ 200 bilhões em infraestrutura de energia. A economia brasileira cresceu 7,5% em 2010 e a expectativa é de que cresça mais de 5% ao ano até 2014. “Todos querem ir para o Brasil”, afirmou Carlos Matias Ramos, presidente da Associação de Engenharia de Portugal. “A maioria é gente jovem” que deseja partir, disse.

Recessão e taxa alta de desemprego

A Espanha já entrou no segundo ano seguido de recessão, desde que estourou a bolha imobiliária. Portugal, enquanto isso, tem taxa de desemprego de 11,2% e uma dívida monumental. Irlanda e Grécia, outros dois países altamente endividados, e até mesmo a França e a Itália, também registram um aumento na imigração de profissionais jovens. “Os primeiros que vão embora, em épocas de crise, são sempre as pessoas tem talentos valorizados”, diz Demetrios Papademetriou, presidente do Instituto de Políticas Migratórias em Washington (EUA). Papademetriou dirige o grupo de estudos imigratórios do Fórum sobre a Economia Mundial.

A imigração de profissionais jovens é “uma das consequências da crise” que vive a Europa, assinalou Papademetriou. Segundo ele, conter a imigração de jovens talentos é quase tão importante quanto combater o endividamento. “Eles estão perdendo pessoas que poderiam ajudar a sair da crise ou que será necessária para a recuperação”, disse.

O arquiteto espanhol Xavier Casas bem que poderia ser uma eessas pessoas. Ele fechou sua empresa em Barcelona há um ano por causa da falta de trabalho e se mudou com sua esposa argentina, Luciana, para a cidade de Rafaela, 530 quilômetros ao norte de Buenos Aires. “Temos muito trabalho aqui” disse Casas, de 31 anos. Ele disse que o continente sul-americano está “florescendo”.

Marta López Tappero, especialista em imigrações da agência de recrutamento internacional Adecco, em Madri, diz que para os espanhóis a América Latina virou como um “El Dorado” moderno. Segundo ela, o espanhol típico que imigra atualmente é homem, com idade entre 25 e 35 anos, muito qualificado, principalmente em engenharia, arquitetura ou tecnologia da informação.

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