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Poucas e boas de seu Dida

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Valério Mesquita
Escritor
O jornalista Alexandre Cavalcante em Brasília testemunhou fatos pitorescos e importantes da política do Rio Grande do Norte. Um deles foi quando Dinarte Mariz, escolhido senador biônico indicou o seu genro Moacyr Duarte para suplente biônico, evidentemente. Houve um mal-estar no Planalto e logo foi despachado o senador Petrônio Portela, amigo de Dinarte, para dissuadi-lo. Ao ser alertado pelo colega, Dinarte respondeu com aquele sotaque inconfundível de Serra Negra do Norte: “Ô Petrônio, e Lucidio Portela, seu irmão, governador do Piauí, foi indicado por quem, heim?”.
02) De outra feita, na escolha de governador, o candidato de Dinarte era Dix-Huit Rosado. Mas, Tarcísio Maia havia conjugado as forças do Planalto (Golbery do Couto e Silva) para o nome de Lavoisier. Como estava intransigente um grupo político foi procurá-lo para dissuadi-lo. O argumento utilizado foi acachapante: “Dinarte, você deve ter muito cuidado porque já há quem defenda junto ao presidente o nome de Jessé Freire para a senatória biônica”. Dinarte virando-se para Tarcísio foi conclusivo: “E a essa altura, há um nome melhor do que o de Lavoisier?”.
03) No seu primeiro governo José Agripino se deparou logo de início com a questão das nomeações para cargos de confiança no interior, como sempre acontecem. O primeiro foi com a chefia do Nure de Caicó. De um lado um candidato do deputado Vivaldo Costa, apelidado de “Aleijado”, que se elegera vereador. O do senador Dinarte Mariz, uma irmã do professor Genivan Josué Batista. As labaredas já subiam as janelas do Palácio Potengi, quando Vivaldo sentiu a gravidade do problema enviando o seu irmão Vidalvo (Dáda) como emissário à presença de Dinarte. Naquele jeitão característico, o velho senador explicou: “Meu filho, diga a Vivaldo que não vou brigar com ele por conta dessa nomeação não. Só quero que o candidato dele venha falar comigo”. Dia seguinte Dadá levou “Aleijado” à Fazenda Solidão. “Meu filho, por que você quer ser chefe do Nure de Caicó?”, indaga Dinarte no alpendre da sua fazenda. “Senador, eu preciso pagar as minhas contas da campanha”, responde o vereador. “E quanto é?. “Cinco mil contos, seu Dinarte”, completa “Aleijado”. O senador meteu a mão no bolso, puxou o dinheiro e pagou a importância. Em seguida, virou-se para Dadá e sentenciou: “Diga a Vivaldo que o candidato dele vendeu a vocação e a nomeada vai ser a irmã de Genivan”. E foi mesmo.
04) Todo o Rio Grande do Norte conhecia a obstinação e o destemor com que o senador Dinarte Mariz defendia um pleito em favor de um amigo ou de uma causa. A sua palavra tinha o lampejo de um cometa e o peso de um imenso asteróide. Mas se rendia à mística de uma palavra consorciada chamada “compadre”, porque espelhava as vertentes cristalinas da amizade seridoense, calcada na tradição e no respeito consuetudinário. Certa vez, Dinarte entregou ao então reitor Diógenes da Cunha Lima, um caudaloso currículo de um professor para ser nomeado diretor do CRUTAC/RN. Diógenes preocupou-se porque já havia escolhido “in pectoris” o seu amigo Fernando Lira. O dilema cresceu quando os dois percorreram página por página o alentado currículo do candidato senatorial que elencava cursos de toda natureza dentro e fora do Brasil. Ao final, Diógenes foi socorrido pela “lâmpada”. “Mas ele não tem um título que é o mais importante”, descobriu o reitor. “Qual, Diógenes?”, indaga Lira. “Você é meu compadre e é o que eu vou dizer a Dinarte”. Dia seguinte, preparado para o duelo, Diógenes procurou o senador e foi logo explícito e rápido: “Dinarte, eu vou nomear Fernando Lira para o CRUTAC porque ele é meu compadre”. Dinarte fitou-o em silêncio para, em seguida, no melhor sotaque caicoense, responder: “Diógenes, compadre a gente respeita”. Era o Seridó falando. O reitor tinha razão. E o velho também.
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