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Povo exige renúncia de Mubarak

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Cairo (AE) – Depois de enviar o Exército às ruas, ordenar o corte de serviços de comunicação – como internet e telefones celulares – e anunciar seu apoio às medidas de força adotadas pelas forças de segurança, o presidente do Egito, Hosni Mubarak, anunciou  a dissolução do gabinete de ministros e se comprometeu a adotar reformas, numa tentativa de conter a insatisfação popular, cada vez mais latente nas ruas das grandes cidades. Apesar disso, milhares de manifestantes manifestantes antigoverno voltaram às ruas neste sábado, gritando slogans contra o presidente. Mubarak recusou-se a renunciar e prometeu nomeará um novo ministério ontem mesmo.

Em cima de um tanque do Exército, soldados acompanham a ação de manifestantes, que saíram às ruas neste sábado para protestar contra o presidente Hosni MubarakA visão de manifestantes em confronto com a polícia pelo quinto dia consecutivo indica que o discurso de Mubarak, levado ao ar pela televisão logo depois da meia noite local, não conseguiu amainar os ânimos da população, que protesta contra a pobreza, o desemprego e a corrupção. Ao menos 53 pessoas morreram durante a onda de protestos, segundo informações da rede de televisão Al Jazeera. Correspondentes do canal disseram ontem que ao menos 15 pessoas morreram em Suez e 23 em Alexandria. Outras 15 teriam sido mortas na capital, Cairo. O governo admite a morte de 35, dez das quais policiais enviados para conter os protestos.

O toque de recolher foi ampliado neste sábado. Agora ele vale a partir das 16 horas no horário local até as 8 da manhã, mas a medida não impediu confrontos no Cairo, Alexandria e Suez.Os choques de sexta resultaram na morte de pelo menos 29 pessoas, 16 no Cairo e 13 em Suez, segundo fontes médicas.  Mubarak, que conta com apoio das forças militares (ao contrário do que aconteceu na Tunísia)  determinou ainda uma onda de prisões em massa. Mohamed ElBaradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e integrante da oposição, foi colocado em prisão domiciliar.

A Irmandade Muçulmana, mais importante movimento islâmico do Egito, informou que cinco líderes do grupo e cinco ex-deputados também foram presos. Walid Shalaby, porta-voz da organização, afirmou que o número de membros detidos é muito maior.

A principal reivindicação da população é o fim do regime. “O que queremos é uma coisa só: fora Mubarak!”, gritavam os manifestantes pelas ruas. “O governo não pode frear a democracia”, disse Tamer Nabi, professor  e um dos que se colocou diante dos tanques para impedir a passagem dos blindados, na sexta.

Os protestos haviam começado pacificamente depois das orações de sexta-feira. No fim do dia, porém, as coisas fugiram do controle. A policia espancou dezenas de pessoas, fez novas prisões e continuou a lançar bombas de gás lacrimogêneo para tentar – sem sucesso – dispersar os manifestantes. Temendo o fim de seu governo, Mubarak aumentou a repressão, pôs o Exército nas ruas e decretou um toque de recolher, que inicialmente era apenas para o Cairo, Alexandria e Suez, a partir das 18 horas. A medida foi ampliada para todo o país.

Bloqueio à internet é o pior da história

Paris – A escala do bloqueio à internet e à telefonia celular em curso no Egito não tem precedentes na história de ambas as tecnologias, disseram especialistas. Do presidente norte-americano, Barack Obama, aos milhões de integrantes das redes sociais e grupos de defesa dos direitos humanos, quase todos condenaram a decisão das autoridades egípcias. A derrubada de ambos os serviços tinha o objetivo, não alcançado, de impedir a organização dos protestos que reuniram centenas de milhares de pessoas em várias cidades do país.

“É a primeira vez que isso acontece na história da internet”, afirmou Rik Ferguson, especialista da Trend Micro, terceira maior empresa de segurança de computadores do mundo. Julien Coulon, cofundador da Cedexis, francesa de monitoramento e gerenciamento de tráfego na web, confirmou: “Em 24 horas, perdemos 97% do tráfego da internet no Egito”.

De acordo com a Renesys, companhia norte-americana de monitoramento da web, os quatro principais provedores do Egito cortaram o acesso internacional a seus clientes quase que simultaneamente, na noite de quinta-feira.

Cerca de 23 milhões de egípcios usam a internet de forma regular ou ocasional, de acordo com dados oficiais, o que representa mais de 25% da população. “Em uma ação sem precedentes na história da internet, o governo egípcio parece ter ordenado que os provedores derrubassem todas as conexões internacionais”, afirmou James Cowie, da Renesys, em seu blog pessoal.

Os provedores Link Egypt, Vodafone/Raya, Telecom Egypt e Etisalat Misr ficaram fora do ar. A exceção foi o Noor Group, que ainda tinha 83 linhas em operação, segundo Cowie.

As redes de telefone celular voltaram a funcionar de forma parcial na manhã de sábado, mas ficaram completamente fora de operação por várias horas. A britânica Vodafone, que opera no país, disse que todas as empresas foram “instruídas” a suspender os serviços na sexta-feira.

A pior interrupção de serviços de que se tinha notícia até agora ocorreu em 2007, em Mianmar, durante uma onda de protestos contra a junta militar que governava o país. Em 2009, nos protestos contra a reeleição do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, o governo proibiu os acessos ao Twitter e ao Facebook.

Obama conversa com Mubarak e pede reforma

Washington (AE) – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, convocou o mandatário egípcio, Hosni Mubarak, a dar passos concretos em direção a reformas políticas e a manter a promessa de trabalhar pela democratização do país. Ambos conversaram por telefone na sexta-feira à noite, após Mubarak dissolver seu gabinete de governo e prometer “mais democracia e liberdade.” “Eu disse que ele tem a responsabilidade de dar significado a essas palavras, de dar passos concretos e executar ações que cumpram essas promessas”, disse Obama.

A conversa entre ambos durou cerca de 30 minutos. Foi a primeira vez que o presidente norte-americano falou publicamente a respeito dos violentos protestos no Egito, que neste sábado entraram no quinto dia.  “O povo do Egito tem direitos que são universais. Isso inclui o direito de associação e de se reunir pacificamente. O direito à livre expressão e à possibilidade de determinar seu próprio destino. Estes são direitos humanos”, disse Obama, durante entrevista na Casa Branca. Ele também pediu que o governo egípcio dê fim ao bloqueio ao acesso à internet e à telefonia celular. “Uma nova geração de cidadãos tem o direito de ser ouvida”.

Na sexta-feira, a secretária de Estado  Hillary Clinton havia pedido que o governo do presidente Mubarak contivesse suas forças de segurança no uso da violência contra manifestantes e lembrava que os Estados Unidos querem “ser parceiros do povo egípcio”, bem como de seu governo no desenvolvimento de reformas políticas e econômicas no maior país árabe do mundo.  “O povo do Oriente Médio, como o povo de qualquer lugar, quer uma chance para contribuir e participar das decisões que vão afetar suas vidas”, disse Hillary. “Os líderes precisam dar respostas”, disse a chefe da diplomacia dos Estados Unidos, ao comentar os acontecimentos no Egito.

Ongs receberam dinheiro dos Estados Unidos

Oslo (AE) – Os Estados Unidos enviaram dezenas de milhões de dólares para organizações pela democracia no Egito, segundo documentos diplomáticos obtidos pelo site WikiLeaks e publicados por um jornal norueguês na sexta-feira. A Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) planejava enviar US$ 66,5 milhões em 2008 e US$ 75 milhões em 2009 para programas egípcios de promoção de democracia e da boa governança, segundo um telegrama diplomático vazado pela embaixada dos EUA no Cairo, datado de 6 de dezembro de 2007.

“O presidente (Hosni) Mubarak é bastante cético quanto ao papel dos EUA na promoção da democracia”, afirma um texto da embaixada norte-americana datado de 9 de outubro de 2007, publicado no site do principal jornal norueguês, o Aftenposten. “Apesar disso, os programas (do governo dos EUA) estão ajudando a estabelecer instituições democráticas e fortalecer vozes individuais para a mudança no Egito”, acrescenta o documento.

Segundo o Aftenposten, que obteve todos os mais de 250 mil documentos diplomáticos vazados pelo WikiLeaks, os EUA contribuíram diretamente para “construir as forças que se opõem ao presidente” Mubarak.

O segundo telegrama diplomático publicado pelo Aftenposten afirma que o dinheiro gasto pelos EUA para a promoção da democracia era destinado a programas controlados pelo próprio governo egípcio e por organizações não governamentais egípcias e dos EUA.

O ministro da Cooperação Internacional egípcio, Fayza Aboulnaga, enviou uma carta à embaixada pedindo que a USAID parasse de financiar dez das organizações, argumentando que elas “não estavam apropriadamente registradas como ONGs”, afirma um documento datado de 28 de fevereiro de 2008. Considerado como o sucessor designado de Mubarak, seu filho Gamal é descrito em um quarto telegrama diplomático, como “irritável diante da democracia dos EUA e do financiamento pelo governo (de Washington) de ONGs egípcias”.

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