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Povos

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Dácio Galvão

O dia 19 de abril passou e não me dei conta dos povos indígenas. Passei batido com afazeres profissionais. Fiquei desconectado. Nos dias feriados que sucederam a quinta-feira estava horas e mais horas literalmente dentro da mata trilhando com amigos veredas semiabertas e campinas em verduras. Fato é que no fluxo de memória há avanços nas conquistas de espaços políticos. Mas penso para além dos grupos inseridos no difícil diálogo com a civilização capitalista. Afinal existem vários deles ainda vivendo sem contato com o branco portanto detentores de um capital humano cada vez mais raro no planeta que é a vida em consonância com o meio ambiente equilibrado e respeitado sem código ou lei alguma escrita. Mais próximos da caracterização do período paleolítico uma vez que não conhecem o metal, por extensão o vil metal, numa labuta coletora e caçadora cantando, dançando e cultuando Deuses das Florestas.

Desde o Marechal Cândido Rondon, os irmãos Orlando e Cláudio Vilas Boas e mais o antropólogo Darcy Ribeiro ( autor de Culturas e Línguas Indígenas no Brasil ) especialmente, que o tratamento e respeito as etnias desses povos de origens passaram a ter outros olhares ainda que prepondere a leitura preconceituosa e não inclusiva das classes dominantes.Sequer se dão conta! Deve ser depositada aí nessa conta a ação visionária de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro elegendo pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT, para Deputado Federal, o primeiro e único índio,: o Xavante, da aldeia Namakura, Mário Juruna. E noutra frente o negro Abdias Nascimento ( autor entre outros, do livro, Genocídio do Negro Brasileiro ). Nascimento viria depois a assumir com a morte de antrpólogo,  o mandato de senador da República  ( 1997-1999 ). Foi ele quem criou o Teatro Experimental do Negro.

Andando nas ribeiras do sertão e nas praias do litoral potiguar pisou o guerreiro Tapuia, Janduí, retratado e imortalizado na memorável tela de Albert Eckhout, pintor e botânico que compunha a comitiva de artistas e cientistas do conde Maurício de Nassau. Isso nos anos de 1637-1644. O Tarairiú  endocanibalista, se trajava em penas de emas. Muito dista a memória consistente, levantamento sistematizado e aprofundado das tribos que habitavam a Capitania do Rio Grande. Os seus troncos linguísticos, a arte plumária, fazeres e saberes, fortuna crítica… Algumas pontuações aqui e ali mais não um ajuntamento ordenado e linear que possibilite um conteúdo didático e formador.

Ná Ozzetti um dia fez gravar sua voz acompanhada do piano e composição de André Mehmari, a poética que escrevi referendando as primeiras comunidades de remanescentes indígenas no Rio Grande do Norte, por ato da Assembléia Legislativa, no ano de 2005. Assim, Ozzetti soltou no canto: “…Tapiocas nas matas e pauis / Mel de mudanças e perdas / Sonhadores de onças, timbus / Potiguaras de ritos e plumárias. / Eleotérios do Rio Catu / Mendonças do Amarelão / Caboclos do Riacho, Açu / São povos, indígenas sãos / É sangue, é índio nos desvãos.” Em versos emplaquei também com Zeca Baleiro a récita que evoca o Cacique que um dia, nas terras de Poti, pactuou com os invasores holandeses. A voz inconfundível do maranhense surfa sobre a trilha de Gereba Barreto: “Janduí, vinde comigo / A Praia do Meio o mar é encapelado / E miraremos as ondas!” Na verdade, nada mais que uma alegorização de importante personagem da saga colonial potiguar. Um mexido, ou sequestro de épica desrecalcada, não histórica, nem bélica. Em tom conciliatório e idealzado sob evocação da canção trovadoresca ( Sec.XXIII ) do galego Martin Codax.

No começo do ano li uma notícia animadora que a Câmara Federal iria agilizar o processo que vai institucionalizar o Estatuto do Cigano, proposta do senador Paulo Paim ( PT ). Luta grande pela frente! Dados da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), diz que há no Brasil três etnias Ciganas: Calon, Rom e Sinti. A chegada de Ciganos ao Brasil remonta de 1574. Os acampamentos Ciganos pipocam em 291 municípios, fixados em 21 estados da federação. Estimados em mais de 500 mil Ciganos, muitos dos quais vivem sem acesso a educação, saúde e em acampamentos sem saneamento básico. Reconhecimento quase zero.

Ora, se a questão afro-índígena que tem inserção histórica de maior peso na constituição da cultura brasileira e enfrenta situações de segregação, como sabemos, imagine os obstáculos conservadores que irão de encontro aos povos Ciganos na busca do reconhecimento e legitimação cultural!

Como todo dia é dia de índio, de preto, de branco, de amarelo, de cigano… Vamos celebrar cotidianamente nossa mistura, diáspora absorvida, miscigenação gilbertofreyreana, romances alencarinos, degradados personagens da Expedição Montaigne, de Antonio Callado focando na centralidade narrativa um personagem Camaiurá…

Salve o trabalho indigenista de Marluí Miranda e a OCA contemporânea de Bené Fonteles!!! Salve o Hino “Demarcação Já” ( https: // youtu.be / wbMzdkaMsdO ) homenagem de mais de 25 artistas aos povos indígenas do Brasil. Pelo direito à terra, pelo direito à vida! Vamos hastear essas bandeiras!

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