quinta-feira, 28 de março, 2024
29.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

“Precisamos de um calendário de longo prazo para leilões”

- Publicidade -

Entrevista -João Carlos De Luca
Presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP)

Vinícius Menna
Repórter

Em um contexto mundial em que o Brasil ganhou destaque com as reservas de pré-sal, entre os dias 15 e 18 de setembro o país sedia o Rio Oil & Gas 2014. A expectativa da organização é que 55 mil visitantes de todo o mundo visitem o Rio de Janeiro para discutir as transformações na produção energética mundial e a abertura de novos mercados. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), João Carlos De Luca, conta detalhes sobre o evento e ainda faz uma análise tanto do atual cenário como do futuro do Brasil dentro da indústria de petróleo e gás. Destaca ainda a importância das rodadas de leilão para o setor e defende a necessidade de estabelecimento de um calendário para as licitações.
João Carlos De Luca, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP)
Quais são os principais desafios da indústria de óleo e gás na atualidade? É um bom momento?
O Brasil dispõe de diversificadas e abundantes fontes de energia e a descoberta do pré-sal foi um marco importante para consolidar ainda mais a segurança energética do país. O setor de petróleo e gás, especialmente as áreas de Exploração e Produção, tem investido somas expressivas no Brasil que hoje ultrapassam US$ 35 bilhões anuais. Como consequência, o país se beneficia por meio da geração de empregos, da criação de novas tecnologias e da demanda de bens e serviços da cadeia de fornecedores nacional. Essa cadeia de valor representa quase 12% do Produto Interno Bruto. Para que esses investimentos continuem a acontecer, entretanto, é importante a manutenção da realização das rodadas de licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Elas são a mola propulsora do setor. Por isso, a adoção de um calendário de longo prazo, contínuo e transparente dos leilões é um dos principais pleitos do mercado.

Como está esse mercado? Está aquecido?
No ano passado foram realizados três leilões. Eles contaram com a participação de 70 empresas de várias partes do mundo, inclusive do Brasil. Só com bônus de assinatura, as rodadas arrecadaram cerca de R$ 18 bilhões para o governo. Além disso, o investimento exploratório previsto ofertado foi de cerca de R$ 8 bilhões. As rodadas são fundamentais para a indústria de petróleo e gás se manter e ter um horizonte de planejamento necessário. É a oferta constante de novos blocos exploratórios que impulsiona essa cadeia.  O setor de óleo e gás em atuação no Brasil mostrou em 2013 como a realização de rodadas para exploração e produção pode ser positiva para todo o país.

E no que diz respeito ao refino, como está o Brasil hoje? É preciso mais investimentos em refinarias?
Nas principais economias do mundo, mesmo nos países não produtores, existe a preocupação em manter a capacidade de refino equivalente ao tamanho da demanda. O Brasil sempre procurou ter uma capacidade de refino de petróleo para atender a demanda nacional de derivados. Em 2013, o país registrou um consumo médio de derivados de petróleo de 2,4 milhões de barris/dia. Pelos dados da ANP, foram processados 1,8 milhão de barris/dia de petróleo. Com a política de preços vigente, a atratividade para a construção de refinarias no país é muito pequena. As empresas dificilmente terão interesse em fazer um investimento desse porte se não podem estabelecer o preço do produto que colocam no mercado. Contudo, para viabilizar os investimentos na área de abastecimento, é necessário, sim, construir e modernizar refinarias de petróleo no Brasil, estabelecer políticas públicas para atrair investimentos na área, e liberar os preços dos combustíveis, de acordo com as regras do mercado internacional.

Qual é a situação no Brasil, atualmente em novas frentes, como o pré-sal, mas também em águas profundas, que ainda está em fase de exploração em algumas regiões do país?
A descoberta do pré-sal mudou as perspectivas internas e externas em relação ao Brasil e elevou o país à posição de destaque, como um dos de maior potencial na atração de investimentos na indústria mundial de petróleo e gás. Apenas oito anos após a primeira descoberta, já são mais de 500 mil barris de petróleo produzidos por dia no pré-sal. A camada do pré-sal tem grandes acumulações de óleo leve, de excelente qualidade, e com alto valor comercial. Atualmente, a produção no pré-sal corresponde a cerca de 20% do total da produção brasileira e as projeções são que em 2018 respondam por mais da metade da produção de petróleo do país.

Pensando em futuro, quais são os gargalos que precisam ser superados para que a Petrobras e a indústria de óleo e gás como um todo cresça a contento nos próximos anos?
Garantir a sustentabilidade do suprimento de energia, a preços competitivos, para viabilizar o crescimento do país, é hoje um dos principais desafios do setor. Por essa razão, o desenvolvimento da indústria exige marcos regulatórios que estimulem a atração de investimentos. No caso das atividades de exploração e produção, por exemplo, a descontinuidade das atividades, sem a realização de leilões, é outro desafio. Sem esse estímulo, há risco da interrupção nos investimentos na cadeia de fornecedores. Neste caso, a adoção de um calendário de longo prazo, contínuo e transparente, de rodadas de licitações permitiria às companhias planejar com antecedência a alocação de recursos.

O que esperar do futuro da indústria de óleo e gás? O Brasil tem um futuro promissor?
O desenvolvimento econômico do país está ligado à disponibilidade de energia. E, na história recente do país, essa demanda tem aumentado significativamente. Quando a economia global cresce, uma das questões mais críticas é a segurança energética. Esta é uma preocupação que aflige, principalmente, países europeus e asiáticos, como a Alemanha, o Japão e a China. Grandes consumidores de energia, essas nações não têm, dentro de seus limites, reservas energéticas que atendam à demanda das populações e das indústrias de forma competitiva. O Brasil não vive este problema na mesma intensidade. O país conta com uma base energética abundante e diversificada, sobretudo de energia hidráulica, responsável por 80% da geração de energia elétrica no país.
Como falei anteriormente, a descoberta do pré-sal foi um marco importante para consolidar ainda mais a segurança energética do Brasil. Em paralelo, o país está empenhado na expansão do seu parque de refino, o que resultará em uma diminuição das importações de derivados do petróleo. Soma-se o grande potencial petrolífero no país em bacias sedimentares pouco exploradas, o que, certamente, levará a novas descobertas de reservas de petróleo e gás natural. Adicionalmente há o enorme potencial de produção de biocombustíveis.

A Rio Oil & Gas vai discutir este ano as transformações na produção energética mundial dentro de um novo cenário geopolítico. Que transformações são essas e que novos mercados se abrem nesse contexto?
Relatórios recentes da Agência Internacional de Energia (IEA) apontam uma série de mudanças no cenário geopolítico mundial. Dados levantados pela IEA indicam que, nos próximos anos, os Estados Unidos serão o maior produtor mundial de gás natural – superando a Rússia – e um dos maiores de petróleo, deixando para trás a Arábia Saudita. Irã, Noruega, Reino Unido e México enfrentarão, até 2020, queda na capacidade produtiva. O México estuda uma reforma energética no país, o que possibilitaria a atração de investimento estrangeiro e a Venezuela, pela primeira vez, cogita importar petróleo.
Ainda conforme as previsões da IEA, o maior potencial de produção deve se concentrar no Iraque, nos EUA, no Canadá e no Brasil. Quando se fala em Brasil, o pré-sal coloca o país em situação privilegiada. A exploração nas jazidas nos alçará ao patamar de um dos maiores exportadores de petróleo do mundo. A expectativa é de que o excedente de óleo seja superior a 1,5 milhão de barris por dia. Diante da previsão de mudanças tão significativas como essas, decidimos trazer a discussão para o centro dos debates do evento deste ano.

A programação também pretende focar no “profissional do futuro”. Que perfil vem se desenhando ao longo de profissionais da indústria de petróleo e gás?
O gargalo da mão de obra no setor é, reconhecidamente, um problema mundial. O cenário atual mostra uma mudança no perfil profissional deste mercado e traz uma estimativa alarmante: em cinco anos, mais da metade dos profissionais ativos na indústria estarão aposentados. Precisamos, cada vez mais, de profissionais com conhecimento técnico e especializado. A rápida evolução tecnológica e as exigências regulatórias do setor demandam a necessidade de atualização constante. O Profissional do Futuro é uma maneira de mostrar para os jovens a inovação tecnológica, a importância e a força da indústria de petróleo no país.

Neste ano, 30 países estarão representados, entre palestrantes, visitantes e expositores. Também haverá 14 pavilhões internacionais. Qual a importância disso?
A Rio Oil & Gas se tornou uma referência mundial para o setor de petróleo, gás e biocombustíveis. A participação estrangeira ajudou a consolidar o evento como o maior do mercado na América Latina e um dos principais do mundo. Este ano, a Rio Oil & Gas ganhou ainda mais destaque com o desenvolvimento do pré-sal no Brasil que, por atrair muitos olhares para o país, aumenta a relevância do evento como um espaço de discussão de soluções e problemáticas da indústria mundial.

O evento começou em 1982. Qual foi a evolução nesse período?
 Certamente o evento cresceu e se fortaleceu junto com as mudanças da própria indústria de óleo e gás no Brasil e no mundo. Nessas mais de três décadas de Rio Oil & Gas, o mercado brasileiro se tornou cada vez mais representativo e isso fez com que nos tornássemos mais exigentes em relação ao evento, buscando sempre trazer os melhores experts para elevar os níveis das apresentações e debates.  Como consequência, fortaleceu-se a participação na exposição, através do aumento de expositores internacionais e pelas soluções apresentadas nos estandes. É perceptível que as empresas buscam, cada vez mais, trazer a tecnologia para seus estandes, como forma de vender sua expertise e conhecimento aos visitantes.  E o resultado disso fica claro quando, ao final de cada evento, já temos 80% das reservas de espaços confirmadas para a próxima edição.

Formação
Engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Paraná, se especializou em Gerência de Petróleo em Massachussets, nos Estados Unidos.

Carreira
Em 40 anos de experiência na área, atuou como consultor da Vice-Presidência Executiva da Petrobras Internacional, foi diretor da Petrobras, membro do conselho da companhia e superintendente do Serviço de Planejamento do Departamento de Produção da Região de Produção do Sudeste. Atualmente é diretor da Barra Energia.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas