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“Precisamos modernizar o América”

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Vicente Estevam
Reporter

A entrevista para TRIBUNA DO NORTE foi concedida horas antes dele aceitar a tarefa de conduzir os destinos do América pelos próximos seis meses, mas Hermano Morais em muitos momentos falava como novo homem-forte do clube. A principal meta da sua administração será trabalhar para união de todos os grupos de americanos e iniciar a implantação de um sistema maismoderno de administração. Ele entende que o modelo atual está ultrapassado e que o América não pode mais ficar tendo de se desfazer de patrimônio para manter os gastos com o futebol. Hermano fala também da relação com o ABC, ressaltando que a rivalidade deve ser mantida de forma inalterada apenas dentro de campo, mas que fora das quatro linhas deve existir uma relação civilizada, com as diretorias agindo juntas para resolver os problemas mais graves do futebol potiguar. Quanto a questão do mando de campo, ele defende que o América use o estádio de Goianinha para os jogos menores, mas na necessidade de participar de uma fase mais avançada do Brasileiro da série C ou qualquer outro grande espetáculo, que esses jogos sejam realizados no estádio Frasqueirão. O novo presidente também lamenta o estado lastimável do Juvenal Lamartine.

Hermano Moraes/candidato a presidência do AméricaHermano, a presidência do América está muito perto de você?

Ficamos honrados com a lembrança do nosso nome, tenho uma relação antiga com o clube, do qual além de torcedor sou um associado, que posteriormente fui convidado a fazer parte do conselho deliberativo. Tive o privilégio de ver esse clube ser campeão em 1969, no Juvenal Lamartine e desde então nunca mais deixei de prestigiar. O América é meu clube de coração e talvez por essa identificação fui convidado a ser conselheiro, a partir de então passei a contribuir mais diretamente, mesmo que de forma discreta, e agora surgiu esse convite para presidência. Uma ação inicial de um grupo de amigos e que acabou ganhando corpo não só dentro do próprio clube quanto nas ruas.

Você esperava ter o nome lembrado para o cargo neste momento?

O convite me causou surpresa, porém mais surpresa ainda me causou a repercussão, durante toda essa semana foi abordado por pessoas através do telefone, por e-mail, nas ruas também, no ambiente de trabalho, no meu circulo de amizade mais próximo, enfim a proporção foi gigantesca. Todos querendo que eu antecipasse a resposta que daria a essa convocação.

Como esse assunto chegou ao conselho do clube?

Através do ex-presidente Jussier Santos. Ele chegou sugerindo uma chapa onde eu pudesse sair como candidato a presidente e o conselheiro Carlos Theodorico, a vice. Fiquei de avaliar a situação por entender que talvez tivessem outros americanos, até mais habilitados que eu para poder assumir esse cargo. Será um grande desafio, porque o momento é de uma crise aguda.  Os problemas começam com a crise financeira, mas também passam por questões administrativas somados a resultados poucos expressivos no futebol, que é a grande paixão de qualquer americano.

Após saber que chegou a sua vez de assumir o clube, quais foram as suas preocupações?

Tenho procurado conhecer a realidade do América, os números principalmente, pela responsabilidade que teremos aceitando este convite. Estamos em reuniões quase constante no conselho deliberativo para tratar da questão patrimonial e algumas questões que precisam ser compartilhadas e decididas pelo conselho. Aceitando o cargo vou assumir com algumas preocupações, mas vou impor também algumas condições para ocupar um cargo de tamanha envergadura e responsabilidade.

Fazia parte do seu projeto de vida presidir o América?

Não. Sempre gostei de colaborar, participar, de me fazer presente a vida no clube e ele sempre esteve presente na minha vida. Sou o tipo de torcedor que acompanho o América nas vitórias e nas derrotas, em qualquer situação. Porém, nunca tive o objetivo e nem imaginei de que um dia pudesse ceder a um convite dessa natureza.

A tua experiência política pode te ajudar neste novo cargo?

Acredito que sim, porque há necessidade de se realizar um grande esforço  no sentido de reunir a família americana novamente. Os momentos de crise terminam contribuindo para o surgimento de dificuldade de relacionamento, nós temos divergências claras neste processo e que provocaram as renúncias de dois grandes americanos, com bons serviços prestados ao clube e que ainda nos poderão ajudar muito. Nós vamos precisar da ajuda de todos para inaugurar um novo momento positivo no América.

Será necessário realizar uma nova eleição?

Será, o pleito está marcado para o próximo dia 26, o estatuto do América determina isso e quem assumir vai ter incumbência de dirigir o clube até o final do ano, apenas completando o mandato da diretoria anterior. Uma das minhas imposições é esta, ficar no cargo só até o final do ano. Este também é o mesmo propósito de Carlos Theodorico, que se dispôs a compor a chapa comigo.

Por que você acha que  essa chapa foi escolhida?

Essa chapa partiu da sugestão de vários americanos e integrantes do conselho deliberativo, acreditando que nós somos capazes de ajudar na condução do América e conduzir esse processo de reunificação e de somas de esforços no sentindo de inverter esse quadro difícil. Já somos sabedores que o América  tem um valor bastante acentuado vencido e dividas que ainda se encontram em aberto e algumas grandes obrigações com a parte social do clube, com o futebol e com os trabalhos nas divisões de base e o esporte amador. Esses compromissos vão exigir um bom gerenciamento financeiro.

O América pode envolver parte do seu patrimônio no pagamento dessas dívidas?

Nós sabemos que o América negociou outra parte da sede social e estamos discutindo a administração desses recursos junto ao conselho deliberativo. Primeiro acho que devemos buscar equacionar, da melhor maneira possível, essa situação financeira. Devemos verificar dentro da realidade financeira do clube, a possibilidade de se montar uma equipe capaz de lutar pelo acesso à série B ainda este ano, isso também se configura num grande desafio para próxima diretoria, pois a série C será muito competitiva e onde teremos pela frente adversários poderosos e melhores estruturados atualmente. O América já teve conquistas importantes num passado recente, mas sabemos que essa não é a realidade atual. Temos de reconstruir a imagem vencedora com determinação, organização e contando com a ajuda de todos, inclusive a participação fundamental do nosso torcedor.

Como você pensa sua gestão?

Será uma gestão participativa, delegando responsabilidade em diversos setores com um propósito comum: o de soerguer o América a um patamar onde ele já esteve antes e deverá regressar com a ajuda de todos. Não diria que isso vai ocorrer nos próximos meses, mas  sim com um trabalho bem planejado nos próximos anos. Queremos recuperar a sua capacidade financeira e o patrimônio a partir de estudos e negociações que possam ser realizados em benefício da instituição. Seja qual for a diretoria, ela irá necessitar do respaldo do conselho deliberativo, de todos os americanos e a participação efetiva da torcida na campanha do sócio-torcedor para garantir uma quantia mínima de investimentos.

O futebol onerou muito o clube?

Futebol é uma atividade muito cara, podemos atribuir a ele o sacrifício de parte do patrimônio do América sim. Ao longo do tempo as diretorias tiveram que fazer investimentos no sentido de  manter a equipe numa posição de destaque no cenário estadual e no nacional, mas com custo financeiro. Além das contribuições que os conselheiros sempre deram ao clube, devemos reconhecer que elas apenas não são suficientes e parte do patrimônio, de alguma maneira acabou sendo investida para manter essa tradição. Não podemos viver nesse sistema eternamente, até porque, está provado que é deficitário. Ou trabalhamos de uma forma mais adequada e moderna, com os pés no chão, aplicando recursos dentro da realidade que enfrentamos, ou estaremos fadados ao fracasso, correndo o risco, inclusive, de apagar uma história tão bonita. Não é isso que nós queremos. Quero um América forte e glorioso!

Qual seria o seu grande desafio na administração do América?

  Primeiro na convocação dos americanos a participar desse mutirão, no sentido de equacionar os problemas  e colocar o América no rumo certo. Depois, a responsabilidade imediata de colocar o América na série C com objetivo de realizar um grande campeonato, no sentido de brigar pela série B.

Com o clamor existente você não está sentindo como um salvador da pátria?

Eu já tenho dado algumas declarações dizendo que a tarefa de dirigir o América neste momento não está reservada a nenhum salvador da pátria. Eu não tenho essa pretensão, nem quero ser confundido com alguém que a tenha. Na realidade eu só vejo um caminho para o América: trabalhar para superar essa crise e se reorganizar melhor para o futuro. Isso vai requerer um trabalho de equipe, que terá de ser construído a muitas mãos e com inteligência. Só assim poderemos inaugurar um novo momento para o clube. Nós teremos de instalar um novo tipo de gestão, que passa pela contribuição de todos de forma permanente.

Seu discurso é exatamente o mesmo dos demais presidentes que assumiram o América: de união. Sete meses de trabalho serão suficientes para o trabalho que você deseja realizar?

Acredito que nós poderemos pavimentar esse caminho, que é longo, para ser trilhado. Vamos realizar um grande esforço para conseguir o saneamento ou então  o equacionamento financeiro do América. Vamos ter um trabalho planejado de recuperação patrimonial, vamos contar também com um grupo forte e competente gerenciando o futebol dentro da realidade do clube, mas sem perder de vista os anseios dos americanos. Acredito que em sete meses, com  a ajuda de todos, nos  seriam suficientes para deixarmos o América em situação administrável. Mas é humanamente impossível em tão pouco tempo você realizar essa mudança tão radical. Ou faremos essa mudança ou eu e Carlos Theodorico seremos apenas mais um passageiro dessa agonia.

Na administração anterior a relação com ABC era de rivalidade dentro e fora de campo. Com você, como será tratada essa questão?

A rivalidade dentro de campo sempre vai existir e é bom que ela permaneça, pois faz parte do futebol, isso mantém a chama acesa. Mas acredito que a relação institucional deve ser mais civilizada, temos de implantar uma cultura nova com mudanças nessa relação. Se num ambiente de extrema dificuldade para os dois clubes, naquilo que é possível somarmos, naquilo que é possível unirmos esforços, não fomos capazes de faze-lo o desafio de gerenciar esses clubes irá se tornar ainda mais difícil. A relação pode ser respeitosa, nós estamos num mundo civilizado onde as relações devem ser aperfeiçoadas sem prejuízo da rivalidade no campo esportivo, que alimenta a paixão e  continua levando massas aos estádio.

O homem público Hermano acompanha como a questão do Juvenal Lamartine?

Natal está para abrigar uma Copa do Mundo, por causa disso veio à tona um problema de abandono de um estádio que é patrimônio público, parte da história do futebol do RN e que durante décadas foi esquecido. Agora é lembrado como solução para o problema de América e Alecrim, mas pelo que soubemos, o JL não terá condições de ficar pronto num período curto, devendo ficar pronto junto com a Arena das Dunas. Como nossa necessidade é imediata, esperamos que o governo, que se mostrou sensível ao problema, encontre outra solução. Jogar em Goianinha é uma alternativa, porém vai requer mais investimentos dos clube e dos torcedores. Quem sabe através de algum patrocínio nas camisas dos clubes, a governadora não possa garantir uma renda mínima para América e Alecrim, as maiores vítimas desse processo para fazer de Natal uma sub-sede da Copa de 2014.

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