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Presente de Natal para Natal

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Ney Lopes
Jornalista, ex-deputado federal e advogado

O tempo passa tão rápido, que já é Natal de novo. As comemorações típicas conduzem a reflexões humanas. Imagino o drama de quem enxerga as próprias mãos inúteis, por não ter trabalho honrado e fica impedido de uma “ceia de Natal” digna. Imagino como é difícil construir os caminhos do amanhã, em face das incertezas de hoje.

Alguns indagam a si próprios, se vale a pena ainda ter fé. Crer que os filhos e netos poderão chegar ao final da estrada da vida, sem sangrarem os pés com as marcas da desilusão, da perfídia, da injustiça, do ódio, que levam aos conflitos. Talvez, a resposta esteja no exemplo do aniversariante de 25 de dezembro. Ele nasceu numa estrebaria, onde se colocava comida para os animais. Poderia ter nascido num palácio. Preferiu assemelhar-se ao desalento dos sofridos. Tornou-se adulto, deixou sementes e lições. Ao final, imolou-se numa Cruz para salvar a Humanidade.

Neste clima natalino, considero privilégio viver numa cidade chamada Natal.  Além da nossa, mais duas cidades têm esse nome no mundo. A “Natal da Indonésia”, na província de Sumatra é conhecida pela indústria de lapidação de ouro. Na África do Sul, “outra Natal”, assim denominada pelo navegador português Vasco da Gama, que no dia 25 de dezembro identificou no seu litoral o caminho de volta às Índias.

Sempre fui – e serei – inconformado com o fato da “Natal brasileira” não ser um centro de comemoração natalina, para atrair turistas de todo o hemisfério sul, pela sua posição geográfica privilegiada, em relação à Europa, África, Caribe e Estados Unidos.

A proposta seria um “presente de Natal para Natal”, através da instalação de presépio multicor (luzes, cores, imagens, raios laser e som), com recursos eletrônicos de alta tecnologia, na parte superior do Forte dos Reis Magos, transformado em palco de shows, espetáculos rítmicos e pirotécnicos ímpares. Não há melhor cenário para simbolizar a luminosidade daquela estrela, que orientou os três reis magos do Oriente. Um espetáculo no modelo da Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém (PE).

O intelectual e amigo Manoel Onofre Jr, considera o nosso Forte verdadeira relíquia nacional e recomenda que os natalenses devam visitá-lo periodicamente, como os muçulmanos vão à Meca.

Na presidência do PARLATINO fiz encontro em Natal (2003), com a presença de deputados do Parlamento Europeu. Um deles, holandês, conhecia Natal pela presença holandesa (1633/1634) na cidade, que chegou a ser chamada de Nova Amsterdam. Encantado com o Forte dos Reis Magos, o parlamentar sugeriu que fosse proposto à Holanda (governo, fundações culturais e empresas) uma “parceria” de conservação e ampliação, para simbolizar a presença holandesa em nossa terra. Falei da ideia do “presépio multicor” no Forte dos Reis Magos. Ele se entusiasmou e admitiu que a Philips – a gigante holandesa das mídias – poderia montar esse “presépio”, pela notoriedade que despertaria em todo o mundo, divulgando a marca da empresa.

Fiz, à época, a proposta aos governos estadual e municipal. Ambos deram “calado por resposta” (!!!!). Governar não é apenas dispor de dinheiro, mas sobretudo ter visão de futuro para inovar, o que tem faltado ao RN. Enquanto isto, a cidade de Gramados (RS) tomou o lugar de Natal e, mesmo sem dispor de condições naturais, já é a maior atração natalina brasileira.  Enfim, essa é a realidade do nosso Estado, consentida pela população, ao eleger os seus administradores.

A Natal iluminada de 2018, não significa apenas o que é percebido a olho nu. Revejo na lembrança, quase em devaneio, os “Natais em Natal”. Tipos, pessoas, situações, imagens espontâneas, nascidas da relação direta com os anos aqui vividos. Andava-se nas ruas de madrugada, voltando da “missa do galo”, sem nenhum temor de violência.  A “missa” transformava-se no ponto de encontro das festas natalinas em Natal, nos anos sessenta. Na Igreja de São Pedro, na Catedral velha, na Igreja de Lagoa Seca, nas capelas da Policlínica e da Maternidade Januário Cicco, todos se encontravam, até não católicos. Para esses locais convergiam romarias a pé. Era mínimo o uso de viaturas. Escasseavam os ônibus, por ser tradição liberar os motoristas e cobradores.

Clarice Palma, a conterrânea ilustre, eternizou o “Natal em Natal”, com o seu poema “Minha cidade-luz!”: “Já vem chegando o Natal, nascimento de Jesus; e Natal, cidade-luz; é o Presépio Iluminado; sob um céu azulado; junto ao mar sereno e lindo; como um lençol verde e infindo; ornado de brancas rendas; feitas de brancas espumas!”. Feliz Natal amigo (a) leitor.

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