Em Santiago, confrontos violentos entre a polícia e manifestantes
Episódios de vandalismo e saques levaram o presidente chileno, Sebastián Piñera, a afirmar que o país estava “em guerra”. “Estamos em guerra contra um inimigo poderoso, implacável, que não respeita nada nem ninguém e está disposto a usar a violência e a delinquência sem nenhum limite”, declarou Piñera, após reunião com o general do Exército Javier Iturriaga.
A declaração acirrou ainda mais os ânimos, a ponto de Iturriaga, que é chefe da Defesa Nacional e responsável pela implementação do estado de emergência, contradizer o presidente. “Eu sou um homem feliz e não estou em guerra com ninguém”, disse o general
A oposição também reclamou do tom belicoso de Piñera. “Não existe guerra no Chile”, disse o líder do Senado, Jaime Quintana “Com todo o respeito, o que disse Piñera foi patético”, se queixou o também senador Francisco Huenchumilla. “Afirmar que estamos em guerra não resolve o problema da governabilidade. A frase ofende a democracia”, afirmou o socialista Alfonso de Urresti.
Desde sábado, o governo colocou em estado de emergência Santiago e outras províncias do Chile. Ontem, Piñera decretou um novo toque de recolher pelo terceiro dia consecutivo na capital, na região de Valparaíso, na Província de Concepción e nas cidades de Antofagasta, La Serena, Coquimbo, Rancagua, Talca e Valvídia. Mesmo assim, os protestos não pararam.
A segunda-feira foi caótica em Santiago. Poucas estações do metrô funcionaram e nas ruas era possível ver longas filas de pessoas que aguardavam para pegar ônibus. Nas ruas, os manifestantes gritava contra os militares em desafio à repressão da polícia.
Nos bairros, moradores se organizaram para evitar ataques a suas residências. Armados com pedaços de paus e com coletes amarelos, que popularizaram os recentes protestos na França, eles defenderam casas, supermercados e lojas.
Piñera já revogou o aumentou do transporte pública – medida também aprovada pela Câmara e pelo Senado. Mesmo assim, os protestos continuaram. A variação no preço da passagem do transporte público é, na verdade, pano de fundo de um descontentamento generalizado na população com a precariedade do sistema de saúde, educação e previdência.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, o economista Luis Eduardo Escobar disse que a situação econômica não é ruim, mas poderia ser melhor. “Na verdade, há uma série de aumento nos preços que foi aplicada nos últimos meses, como o custo da eletricidade. Esta é a quarta vez em dois anos que se aumenta o preço das tarifas de transporte, além do aumento regular nos preços de planos de saúde. O aumento dos salários também foi menor, passando para 1% ao ano”, disse Escobar.