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Presidente da ONG Rio de Paz está em Natal para palestras

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Criada com o objetivo de dar voz a quem não tem voz e visibilidade aos invisíveis, a ONG Rio de Paz reúne cidadãos para atuar em intervenções urbanas de impacto e projetos sociais em comunidades pobres. A Rio de Paz é especializada em direitos humanos. Filiada ao Departamento de Informação Pública da ONU, não tem ligações religiosas. Com grande repercussão de seus trabalhos, a ONG com começa a espalhar ramificações pelo país. Em Natal a convite da Missão Evangélica Pentecostal, presidente da Rio de Paz, Antonio Carlos Costa, concedeu entrevista à TRIBUNA DO NORTE.

Como surgiu a ideia de criar a Rio de Paz?
No final de 2006, eu pirei. Em uma ação do tráfico, no dia 28 de dezembro de 2006, eles mataram 19 pessoas no Rio de Janeiro em um único dia e oito delas foram queimadas vivas dentro de um ônibus. Meu desejo era meter fogo no Rio de Janeiro. Aí eu pensei que isso não ia dar certo, que não seria bom, não seria cristão, que criaria uma cultura de guerra e eu queria vencer isso usando o caminho da paz. Aí eu decidi ir para a rua. Naquele dia eu falei: chega, não dá mais pra viver com essa vergonha de ser cidadão brasileiro, em pleno regime democrático, e ver tamanha violação dos direitos humanos de modo indiferente. Aí ocorreu a ideia de fazer um protesto em Copacabana. A gente montou um cemitério como se todos os mortos estivessem ali enterrados. Foi uma coisa tão inovadora que desde então a imprensa nunca mais parou de nos acompanhar e aí quando vimos que estávamos com esse privilégio nas mãos, passamos a usar isso o máximo possível em favor do pobre, do excluído, em favor de direitos que digam ao todo da população e desde então nunca mais paramos.

Qual o alcance desse movimento no país?
A base foram os membros da igreja, mas é um movimento inclusivo, que conta com a colaboração de todos independente de credo, de ideologia, desde que sejam pessoas comprometidas com a defesa dos direitos humanos e com a contribuição à vida. Hoje nós temos pessoas em várias capitais do Brasil. Vamos entrar na fase de organização dos estados. Eu acho que não tem um movimento social cujo trabalho repercuta tanto quanto o nosso.É legal não por estar na imprensa, mas porque a gente tem nela a nossa parceira.

Como vê os movimentos sociais que se espalham pelo Brasil?
O Brasil não pode sair das ruas. Nós temos que botar a classe governante para dormir de fralda, apavorada com a pressão popular. Nós temos que desconfiar do poder, que vigiar o poder e, quando esse poder não funcionar a favor do povo, trabalhar para que saia do poder quem o exerça em proveito próprio e não pensando no todo da população. A nossa crise no Brasil é um crise de representação política, isso é muito evidente. Nós olhamos para o congresso, olhamos para as câmaras e não vemos quem nos representa, com raríssimas exceções.

Qual a interferência política no trabalho da Rio de Paz?

Não aceitamos política na nossa diretoria, porque nossa ideia é manter a independência para bater, pedindo apenas das autoridades públicas o que foi pactuado, o que não é cumprido no Brasil. Nós vamos criar um grupo de lobistas. Lobistas do bem. Vamos ter uma turma que vai ser treinada para marcar por pressão esses caras. Ficar ali na cola. Nós temos que vigiar o congresso, temos que vigiar o executivo.

O que pensa sobre a política de pacificação das comunidades criada no Rio de Janeiro?
Pressionamos muito o governo para que quebrasse o domínio territorial armado exercido por facções criminosas. Havia áreas que o estado não podia entrar, que pessoas estavam sob regime de terror e o estado tomou essa decisão. Nós sempre cobramos. Não há esperança para a segurança pública enquanto nós tivermos uma polícia tão corrompida, tão divida. Você tem uma polícia civil, que faz o trabalho investigativo, e a militar que faz o trabalho ostensivo. São trabalhos que se complementam e essas polícias se odeiam, não dialogam, não interagem. É preciso valorizar o profissional da segurança publica, mas é preciso selecionar com muito critério e supervisionar. Você não pode dar um distintivo e uma pistola para um homem que tem a nossa natureza. É muito poder. Sem a reforma da policia e sem política publica a gente não tem esperança. Sem uma mudança na forma de se combater as drogas, saindo da repressão e passando para a prevenção, sem política publica nas favelas e comunidades pobres e sem reforma da polícia não tem esperança.

Qual a importância do trabalho das ONGs?
É um avanço da democracia. A sociedade deixando de depender do estado e de ver o estado como único o grande bem feitor. É uma forma das pessoas encontrarem sentido para a vida e de agirem de uma forma mais cirúrgica, fazendo aquilo que o estado tem dificuldade de fazer. Só lamento as ONGs que não tem transparência. Nós optamos por não receber verba publica. Vivemos com dificuldades, fazemos menos do que poderíamos fazer, mas temos autonomia e isso é impagável.

Como divide o tempo entre a igreja e a ONG?
Na verdade, não sou mais um pastor na acepção da palavra. Só vou à igreja uma vez por semana para ensinar. Dedico grande parte do meu tempo com palestras, entrevistas, manifestações, artigos para jornais através do Rio de Paz. Lamentavelmente, quando eu digo que sou pastor, o estereótipo logo é criado e eu tenho que lutar para mostrar que não sou o que as pessoas julgam.

Como está sendo o trabalho em Natal?
Aqui em Natal, cristãos estão nos chamando para falar de mobilização social, manifestação de rua, protesto e  isso pode ser o inicio de uma grande transformação social no Brasil. Estou impressionado com a resposta ao que está sendo falado aqui. Como as pessoas estão compreendendo que, se elas estivessem mais envolvidas com a cidade e com o estado, nós teríamos aqui um melhor nível social, uma maior distribuição de renda. Ficou muito claro para todos que o estádio (Arena das Dunas) só foi construído aqui porque a sociedade deixou. Nem Natal, nem o Rio de Janeiro poderiam ter investido em campo de futebol tendo as escolas, os hospitais, as estradas, os transporte públicos que têm. Nada contra o futebol, mas tudo contra uma inversão de valores em que você vê vontade política para investir em arenas esportivas e não vê política para investir nos necessitados. Aqui no Brasil nós não temos uma tradição da igreja se envolver com pressão política, com justiça social, com esse trabalho de você dar voz para o pobre e eles querem saber como é que foi essa transição que a gente acaba fazendo um trabalho que os cristãos em geral não fazem e nós estamos mostrando que é possível, não só possível como uma consciência lógica da fé cristã você estar ao lado do oprimido, ao lado do vulnerável, do que se encontra no estado de privação e exclusão. É uma essência do cristianismo.

Que mensagem final você gostaria de deixar para a sociedade?
Brasileiro não saia da rua. Não precisa quebrar as coisas, mas proteste. É seu direito. A nossa desigualdade social é humilhante, aviltante e ela deve contar com o repúdio completo da sociedade.

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