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Presidente Jair Bolsonaro quer tornar filho embaixador

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Eliane Cantanhêde e Renato Onofre
Agência Estado

Brasília (AE) – Depois de avisar há meses que trocaria o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro finalmente deixou claro o porquê da demora: durante todo esse tempo, ele articulava a indicação do próprio filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para o posto diplomático mais importante e mais disputado não apenas no Brasil, mas em praticamente todos os países, a embaixada em Washington. Eduardo é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Eduardo Bolsonaro admitiu que aceita o convite, se o presidente oficializar a escolha


Eduardo Bolsonaro admitiu que aceita o convite, se o presidente oficializar a escolha

O presidente só anunciou a intenção publicamente nesta quinta-feira, 11, durante a solenidade de posse do novo presidente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ao ser indagado por jornalistas, o virtual futuro embaixador indicou que aceitará a missão. “Se for da vontade do presidente e ele realmente me entregar essa função de maneira oficial, eu aceitaria”, afirmou Eduardo, que, na quarta-feira, 10, completou 35 anos – idade mínima para um brasileiro assumir uma representação diplomática no exterior.

Ao falar no nome do filho, o presidente citou atributos que o credenciariam para a vaga, como inglês fluente e canais abertos nos Estados Unidos, inclusive na Casa Branca: “Ele é amigo dos filhos do (presidente dos EUA, Donald) Trump, fala inglês, fala espanhol, tem vivência muito grande de mundo. No meu entender poderia ser uma pessoa adequada e daria conta do recado perfeitamente”.

Para o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, no entanto, a indicação de Eduardo para o cargo poderá ser enquadrada como nepotismo. “Não tenho a menor dúvida (de que é nepotismo). Sob a minha ótica, não pode, é péssimo. Não acredito que o presidente Bolsonaro faça isso. Será um ato falho, um tiro no pé”, disse o ministro ao jornal O Estado de S. Paulo.

Em 2017, Marco Aurélio suspendeu a nomeação de Marcelo Hodge Crivella para o cargo de secretário da Casa Civil da gestão do pai, Marcelo Crivella (PRB), na Prefeitura do Rio, por entender que se tratava de nepotismo. Uma súmula vinculante do STF veda a nomeação de parentes em cargos públicos, mas ministros da Corte têm entendido que ela não alcança cargos políticos.

Nesta quinta-feira, ao ser questionado, Eduardo disse que a indicação é legítima. “A possibilidade (de se configurar nepotismo) pode ocorrer, mas a primeira análise que fizemos aqui é que não se enquadraria nisso. Seria uma indicação igual como de um presidente indicar um ministro. Estaria fora da súmula vinculante. Fora da questão do nepotismo”, afirmou.

Tanto o Itamaraty quanto a Embaixada dos EUA em Brasília reagiram com surpresa ao anúncio feito pelo presidente. Nos bastidores, as avaliações são semelhantes: nos dois locais, a versão é de que Eduardo tem uma grande vantagem, que é ter as portas abertas no Brasil e nos Estados Unidos, onde foi o único brasileiro a participar, inclusive, da audiência bilateral entre os presidentes Bolsonaro e Donald Trump. “Ele conhece todo mundo lá, isso ajuda muito na aproximação, nas relações”, resumiu um embaixador da cúpula do Itamaraty.

Imprevisibilidade
A própria equipe do ministério, porém, não arrisca um palpite sobre a reação de diplomatas de carreira, que há meses trabalham com a hipótese de o número dois da embaixada em Washington, Nestor Foster, assumir a vaga que, hoje, formalmente, ainda é do embaixador aposentado Sérgio Amaral. Foster, que aderiu desde cedo à campanha presidencial de Bolsonaro e é interlocutor do “guru” Olavo de Carvalho, foi recém-promovido, assumindo a condição de embaixador em exercício com a volta de Amaral para o Brasil, no mês passado.

Não é inédito, nem mesmo estranho, que uma personalidade fora da carreira assuma embaixadas no exterior ou mesmo o cargo de chanceler. Os exemplos de políticos e empresários que já exerceram o papel de embaixador são muitos ao longo da história. Entretanto, essa prática sempre foi menos comum em Washington, posto número um da diplomacia e, portanto, em geral reservado a diplomatas de carreira.

Eduardo admitiu a falta de experiência na diplomacia, mas citou vantagens que o fato de ser filho do presidente pode proporcionar caso assuma a embaixada em Washington. “Óbvio que não sou um diplomata de carreira, não fiz o concurso público. Mas depende da missão que o presidente vai passar. Eu acredito que a nomeação ou indicação de uma pessoa tão próxima do presidente seria visto com bons olhos pelo lado americano”, disse.

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