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Produtoras independentes de petróleo querem mais

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As empresas produtoras independentes de petróleo no Rio Grande do Norte também vão ter sua vez durante o seminário” Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte”, no próximo dia 4 de agosto próximo. A participação está assegurada pela presença do vice-presidente da Associação Brasileira da Produtores Independentes de Petróleo e Gás (ABPIP), Renato Darros. Nesta entrevista, ele antecipa em parte as questões que pretende levantar durante uma das mesas de debates do seminário que vai participar.

Entre alguns dos pontos a serem discutidos, Renato Darros apresenta as dificuldades que as empresas independentes enfrentam por viverem “à sombra” da Petrobras; e ainda apresenta argumentos que justificam a necessidade do Rio Grande do Norte começar a dar maior atenção e valor a estas empresas. O seminário Motores do RN é uma promoção da TRIBUNA DO NORTE, Rgarcia Consultoria & Investimentos, Fecomércio e Fiern.

Como está a situação dos produtores independentes no Rio Grande do Norte?
Eu acho que estamos vivendo um grande momento na indústria de petróleo nacional e um momento de crise na indústria internacional. O que a gente está vivendo — no caso das pequenas — é este desafio de conviver com o preço muito alto. Porque temos que conviver com aumento de custo em todos os níveis. Mas o grande momento que se vive no Brasil hoje são essas grandes descobertas em toda área sul do país. São resultados absolutamente expressivos.

Qual o impacto disso para o Rio Grande do Norte?
Na década de 80 quando a exploração da Bacia Potiguar se iniciou o Rio Grande do norte ganhou importância nacional porque passou a ser o primeiro na produção terrestre. Paralelamente a isso, no final dos anos 80, os campos marítimos da Bacia de Campos (RJ) se tornaram uma realidade e passaram a produção terrestre. Então, há muitos anos que a produção do Sul corresponde por 85, 90%. Nesse sentido há uma diminuição de importância da produção daqui com relação ao contexto nacional. E aí é necessário colocar isso dentro do cenário da quebra do monopólio e também é preciso falar um pouquinho sobre a indústria de petróleo. A indústria do petróleo é um tripé: ela é capital intensivo, altíssimo risco e prêmios elevados. Se você vencer esses desafios você vai ter muito lucro. A realidade de exploração em terra é completamente diferente da exploração de petróleo no mar. E a gente tem de colocar isso nesse seminário. Temos que focar o futuro da exploração em terra. As bacias têm um ciclo exploratório.  A maior parte dos volumes é descoberta no início da exploração.  Mas de uma maneira geral todas as bacias do Nordeste são consideradas maduras, o que significa que cada vez mais é mais difícil descobrir e manter a produção. A tendência das independentes e da Petrobras é ter que investir mais, aumenta o risco e o prêmio diminui. O que a Petrobras vem fazendo muito bem é tentar manter o nível da produção. O que ocorre é que estamos explorando uma bacia madura onde os volumes esperados são menores e os custos maiores.

Como se caracterizam as independentes?
É um conceito que vem dos Estados Unidos, da Europa e do Canadá. Existentes as empresas maiores que não vão se interessar por negócios pequenos e então passa isso para as menores. A independente é uma empresa que só fica no segmento de exploração e produção. Não faz refino. O nosso negócio termina quando entregamos para a refinaria. E nesse caso, eu tenho de vender a alguém, que é a Petrobras. A independente tem essa característica. Lá fora, a independente é protegida. Existe lá fora uma preocupação com o espaço que ela ocupa na cadeira produtiva. Aqui, não. Outra coisa que falta aqui é a possibilidade de levar a pequena empresa ao mercado de ações e captar recursos para alavancar a empresa. Isso no Brasil não existe ainda. Falta pra gente um mercado de compra e venda de ativos. Lá fora, você descobre um campo e se não tiver com dinheiro para desenvolver a produção, você chama outra empresa para associar-se ou vende aquela descoberta para outro explorar. O que acontece aqui no Brasil é que estamos tendo de abrir esse espaço na marra.

E como as independentes são vistas pela Agência Nacional de Petróleo?
Ela tem de nos olhar de uma maneira diferente. Porque hoje a ANP fez um único leilão com as mesmas regras para exploração em terra, em mar e em águas profundas. Ou seja, a operação não está dimensionada para o nosso tamanho. Isso é uma luta que estamos tendo para mostrar essa realidade. 

Quais as outras dificuldades que as independentes enfrentam?
Começa no licenciamento ambiental. A gente enfrenta custos altos na área de licenciamento ambiental. Vivemos à sombra da Petrobras e então, os custos das empresas que prestam serviço para a gente vem no nível da Petrobras, que é bem elevado. Então, não temos um mercado de bens e serviços voltado para as empresas independentes. Estamos aos poucos conseguindo algumas que estão oferecendo um preço um pouco melhor, mantendo os padrões de segurança. Outro grande desafio é a questão de mão-de-obra. A procura no setor é altíssima. O Rio Grande do Norte tem que entender que foi muito beneficiado pela quebra do monopólio, com a volta dos royalties para educação. Temos contratado muita gente da UFRN. O que ocorre é que a gente contrata o recém-formado, passa um ano com ele, aí vem uma maior e leva. A gente fica fazendo o papel que não pode fazer, que é de treinar. E isso se traduz em risco operacional. Porque se eu me comprometo em perfurar “x” poços com a ANP — podendo ser multado ou perder a concessão — e se eu perco gente no meio do caminho, eu posso comprometer meu plano de trabalho. Existe uma visão míope da ANP e dos prestadores de serviço com relação ao nosso negócio. Outra coisa que o Rio Grande do Norte precisa entender é que já se criou uma forte indústria de base no Rio Grande do Norte, principalmente em Mossoró. E tem de estimular o crescimento desse setor. Acho que discutir isso nesse seminário é muito importante. Acho que os políticos, os principais agentes do governo têm de passar a ver a questão do petróleo de maneira correta.

Como assim?
Temos de deixar de ser ufanista. O Rio Grande do Norte é muito pequeno com relação ao mercado nacional. Dentro desse cenário pequeno temos de ocupar o nosso espaço.

Como as independentes vêem a refinaria?
Muito bem. O nosso maior desafio é a comercialização. Nas últimas décadas a Petrobras desenvolveu toda uma estrutura de dutos, tanques e inclusive um emissário submarino. Mas nós, que temos cerca de uma produção de 1%, não temos condições de construir uma estrutura como essa. Então, uma das questões principais é como diminuir o custo da entrega do óleo em Guamaré e depois tratar esse óleo. Então, temos de negociar com a Petrobras para que nos ajude a fazer isso. E a Petrobras nos olhar como parceiro e não concorrente. E ainda tem outro ponto que queremos aproveitar para discutir no seminário.

O quê?
A questão fiscal. Quando eu entrego o óleo em Guamaré, ele vai ser refinado na Bahia. E não incide ICMS para a gente. A Petrobras está oferecendo uma solução de entregar onde ela quiser. Quando isso ocorrer, vai ser uma operação interestadual, e teremos de pagar ICMS. Numa cadeia que já está estressada, um custo a mais como esse pode inviabilizar. Estamos no limiar da economicidade. Com a refinaria aqui não teremos isso. Importante é que os principais agentes do desenvolvimento entendam o papel das pequenas. É preciso parar de ver a gente como outra Petrobras. 

E por que é importante dar essa atenção às independentes?
Pelo potencial de crescimento que nós temos e pelo papel que temos no negócio do Petróleo. Temos que olhar o papel das independentes vão ter nas bacias menores. É natural que a Petrobras direcione seus recursos para as bacias maiores. O futuro de longo prazo é na mão das independentes. Isso é inevitável. O futuro das pequenas acumulações está nas mãos das independentes. E se matarmos esse mercado hoje vamos pagar lá na frente. A cadeia de empregos que foi gerada ficará órfã.

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