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Professor da UFRN questiona fiscalização

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UFRN - Aristotelino diz que há uma falta de controle sobre o que acontece com o meio ambiente

O elevado número de viveiros de camarões ao longo do rio Potengi, pode ter contribuído para o  maior acidente ecológico que já aconteceu no Rio Grande do Norte. A possibilidade foi levantada pelo coordenador do curso de Ecologia da UFRN, Aristotelino Monteiro.

Segundo o professor, o cultivo de camarão é feito em duas etapas: na primeira,  a água retirada do rio é levada para os tanques, e num segundo momento, essa água contendo produtos químicos, como cal e antibióticos, utilizados para o cuidado dos crustáceos e os seus dejetos é jogada no rio.

“Tudo isso que é jogado de volta no rio é material orgânico com nutrientes, que na quantidade adequada, são importantes para o meio ambiente. Mas quando a concentração desses nutrientes cresce provoca o aumento de microorganismos, como bactérias e algas, que consomem mais oxigênio da água. Enquanto isso, organismos maiores como peixes, siris, acabam morrendo por falta de oxigênio ou contaminados”.

Já com os camarões não acontece a mesma coisa. A retirada e a devolução da água são feitas em tempos diferentes e os viveiros nem sempre são contaminados. Durante o momento da repovoação e reprodução dos crustáceos é feita a retirada da água, quando já estão crescidos a água volta para o rio. Os tanques são higienizados e depois de alguns meses, os produtores retiram a água novamente. “Eu duvido que algum carcinicultor vá pegar água do rio neste momento”. Ele disse ainda que podemos chegar em um momento em que toda a água estará contaminada.

A hipótese de que as águas do Potengi estão poluídas por substâncias tóxicas também não está descartada. Segundo Aristotelino, cerca de 90% do material jogado no rio é orgânico, mas também existe a presença de detritos industriais lançados, indiretamente, no  Rio Potengi. “Eu realmente não confio na fiscalização do IDEMA. Algumas indústrias jogam detrito industrial no Rio Golandim, que desemboca suas águas no Potengi”.

Para o professor, a falta de controle sobre o que acontece com o meio ambiente do Estado e o não cumprimento das leis ambientais são as principais causas desse e de outros desastres ecológicos que vem acontecendo. “Se não for feito um acompanhamento sério e o cumprimento das leis, daqui a alguns meses ninguém vai lembrar da morte das 40 toneladas de peixes porque estaremos anunciando outro desastre”, concluiu o professor.

Ministério Público vai abrir inquérito policial

A promotora de defesa do Meio Ambiente, Gilka da Mata, explicou que o Ministério Público (MP) precisa aguardar o resultado dos laudos técnicos para começar as investigações sobre as causas da mortandade dos peixes no rio Potengi. De acordo com ela, um inquérito civil já foi instaurado e assim que o resultado dos laudos for liberado, o MP vai solicitar a abertura de um inquérito policial. “Vamos apurar isso como um crime ambiental, inclusive escutando testemunhas e avaliando os resultados dos laudos”, explicou.

De acordo com Gilka da Mata, o resultado do laudo é fundamental para direcionar as investigações. Ela disse que a partir de hoje, com o resultado em mãos, o MP vai começar a trabalhar no inquérito. “Já conversei com o delegado do Meio Ambiente, Robson Aranha e estamos acompanhando esse problema”.

Em resposta às críticas feitas ontem pela bióloga Rose Dantas, a promotora esclareceu que no domingo fez uma visita ao local onde os peixes estavam concentrados. ‘Foi o MP que acionou o Idema e solicitou os laudos”. De acordo com ela, não há necessidade de uma nova visita do Ministério Público. “Não é porque o MP não está dentro do rio, que não está cuidando dele”, comentou. Ontem em uma emissora de televisão, Rose Dantas criticou o MP por não ter feito uma visita ao local do desastre ambiental (a promotora apenas sobrevoou a área).

Gilka da Mata disse que o trabalho do MP está restrito às investigações das causas do desastre ambiental e por isso não houve nenhuma recomendação para a população, quanto ao consumo de peixe do rio Potengi. “Estamos restritos às investigações, por isso não pensamos em recomendar nada com relação à saúde. Mas é até uma coisa a se pensar”, disse a promotora. Segundo ela, as medidas que serão tomadas pelo MP vão variar de acordo com o resultado dos laudos. “Só com os resultados poderemos definir algo”, afirmou.

Idema quer começar a limpeza do rio

O Instituto de Defesa do Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema-RN) pretende começar hoje a limpeza do rio Potengi em relação aos peixes e crustáceos mortos em função do acidente ambiental do último final de semana. O diretor geral do Idema-RN, o geólogo Eugênio Marcos Soares Cunha, não acredita que a mortandade tenha chegado a 40 toneladas conforme a estimativa feita pela pesquisadora Rose Dantas.

“Nossos técnicos calculam algo em torno de cinco toneladas”, disse o diretor referindo-se à quantidade de animais mortos naquele que é apontado por especialistas e ambientalistas como o maior acidente ambiental no Rio Grande do Norte. Eugênio Cunha se disse bastante irritado com as denúncias da bióloga Rose Dantas, na opinião dele infundadas, quando acusa o Idema de ser negligente.

“Foi um fato pontual. Não existe motivo para pânico. Isso não ocorre todo dia e todo ano”, minimizou o diretor geral do Idema-RN. Eugênio Cunha destacou as ações do órgão estadual em relação ao rio Potengi, onde mantém projetos de monitoramento, limpeza e educação ambiental permanentes.

Na manhã de ontem, técnicos do Idema deram continuidade à coleta de amostras de efluentes junto às empresas, em geral indústrias, instaladas ao longo do estuário. Eugênio Cunha prefere não arriscar as causas do acidente, mas não descarta a possibilidade de eutrofização — é quando um ecossistema aquático é enriquecido por nutrientes diversos, principalmente composto nitrogenados e fosforados (presente, por exemplo, em esgotos domésticos). O processo consome rapidamente o oxigênio da água.

Cooperativa defende a carcinicultura

Presidente da Cooperativa dos Carcinicultores do Potengi, José Bandeira da Câmara negou a possibilidade de as fazendas de camarão terem sido responsáveis pelo desastre ambiental e assegurou que as lagoas de criação, pelo menos as próximas à ponte de Igapó, se encontram protegidas. “Não temos captado água do rio e só voltaremos a fazer isso depois que tudo for esclarecido”, apontou. Ele agradeceu a Deus pelo problema ter ocorrido durante “marés grandes”, o que impediu que o produto responsável pela morte dos peixes se espalhasse ainda mais, pois a renovação da água foi intensa. “Tem umas 300 famílias que dependem dessa produção e ficariam passando fome, não fosse isso”, diz. Segundo o criador, os peixes que conseguiram chegar ao trecho do rio abaixo da ponte de Igapó conseguiram sobreviver. “Para nossa atividade, precisamos de água limpa, de primeira qualidade, por isso não poluímos”, destacou.

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