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Projeto quer devolver vida à Ribeira

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ORDEM DE SERVIÇO - Carlos Eduardo autorizou as obras

Embora tenha recebido o título de corredor cultural de Natal, por seus prédios históricos e por abrigar os principais teatros e espaços de exposição de artes da cidade, o bairro da Ribeira, teve sua vida enfraquecida com o passar dos anos, e o movimento pela vizinhança restringiu-se a poucas pessoas que procuram algumas casas de comércio ainda presentes no local.

Sendo um dos bairros mais velhos da capital potiguar, a Ribeira já foi também mais importante. Nele se localizava o centro político e cultural da cidade, e foi ali que aconteceu o encontro do presidente americano Franklin Roosevelt e do brasileiro Getúlio Vargas durante a Segunda Guerra Mundial. Foi a Ribeira que recebeu os hidroaviões americanos e, dizem, de lá é que o chiclete e a Coca Cola se espalharam para as regiões adjacentes da cidade.

As praças da Ribeira eram cheias de gente que procuravam lazer no centro da cidade, até que o progresso exigiu a construção da rodoviária que cortou a praça Augusto Severo, no largo do teatro Alberto Maranhão, para dar lugar às ruas por onde passam os ônibus até hoje.

Hoje os prédios estão deteriorados e a rodoviária já foi transferida para o bairro de Cidade da Esperança. Além disso, a criação de novos centros como Ponta Negra e a Zona Norte deslocaram o comércio e as áreas de lazer dos natalenses, que não mais se propõem a cruzar a cidade para fazer compras ou procurar serviços, evitando a violência que se instalou no antigo centro comercial da cidade.

Numa primeira tentativa de recuperar a Ribeira, alguns prédios na rua Chile foram reformados, e hoje neles funcionam bares, restaurantes e casas de shows, sendo que as reformas não foram suficientes para devolver a vida ao bairro.

Pensando em aumentar o movimento tanto de natalenses quanto de turistas, a prefeitura de Natal anunciou na última quarta-feira o início de um projeto de revitalização da Ribeira, que reúne várias ações para a recuperação do bairro, incluindo iluminação, restauração e relocação de prédios, obras para aumentar a praça Augusto Severo e conseqüentes mudanças no trânsito.

Os trabalhos serão realizados por um grupo de órgãos: a Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), que fez o projeto, a Secretaria de Transporte e trânsito Urbano (STTU), responsável pelas mudanças no trânsito e restauração de ruas e paradas de ônibus, e pela Secretaria Municipal de Obras e Viação (Semov), responsável pela fiscalização. Para a realização do projeto, a ser finalizado até janeiro do ano que vem, foram disponibilizados R$ 8 milhões, dos quais 60% são provenientes da prefeitura e o restante do governo Federal.

Segundo Ana Míriam Machado, secretária de Meio Ambiente e Urbanismo, o retorno da população às praças deve ser incentivado por ser um hábito saudável. “A prefeitura tem preocupações em criar espaços para garantir a qualidade de vida”, diz. Já o técnico do setor de patrimônio da Semurb, João Galvão, opina que “nenhuma outra cidade vai contar a nossa história”, e por isso o espaço deve ser preservado.

A prefeitura de Natal está planejando uma agenda de eventos que devem acontecer na Praça Augusto Severo como shows, feiras e eventos culturais sugeridos pela população.

Resultado de estudo tem data para ser apresentado

A Fundação Norte-riograndense de Pesquisa e Cultura tem cinco meses para apresentar à população o resultado dos estudos que vem fazendo sobre os espaços que serão restaurados no projeto de revitalização da Ribeira em diversos aspectos.

Esse foi o prazo dado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) à empresa após contratá-la por meio do Plano de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais, do Ministério das Cidades. A verba repassada para o pagamento da empresa ganhadora da licitação, no caso a Funpec, foi de R$ 250 mil.

A área histórica da Ribeira será estudada sob diversos aspectos. Dentre eles está o urbanístico, através do levantamento de características de cada prédio, sendo observadas as condições em que se encontram, se estão abertos e qual atividade está sendo realizada. Sobre a infra-estrutura será analisada a drenagem e o saneamento do bairro que, embora já exista, pode estar velha e em más condições, ou até mesmo não ser suficiente para comportar o volume de pessoas que se espera após a realização dos projetos de revitalização.

Quanto ao transporte, juntamente com a  STTU, será analisado o transporte de passageiros do local. A Ribeira agrega na sua área estações ferroviária, rodoviária e fluvial, que lhe colocam em posição importante para o comércio da cidade. Estão sendo estudadas então as possibilidades de integração entre os trens, ônibus e barcos, sendo o primeiro passo a possibilidade da construção de um terminal intermodal unindo a estação de trem a uma estação de ônibus. “Mas ainda temos que ver se isso pode ser feito, porque pode não ser viável pelo preço da passagem, por exemplo”, explica Alexsandro Ferreira, do setor de planejamento.

Após realizar os estudos, a Funpec poderá também sugerir projetos a serem feitos para melhorar as condições e a qualidade de vida do bairro da Ribeira.

As principais mudanças

As obras de restauração da Ribeira, que incluem também parte do bairro das Rocas, serão responsáveis por grandes mudanças no local.

Espaços bastante populares como o mercado do peixe, o canto do mangue, a rodoviária velha e a praça Augusto Severo sofrerão modificações intensas. Além disso, o trânsito irá mudar drasticamente.

Mercado do Peixe

O atual mercado do peixe, no canto do mangue, será deslocado para um prédio próximo onde funcionava uma fábrica de gelo. O local onde está atualmente instalado virará uma praça para que natalenses e visitantes voltem a ter o privilégio da visão do pôr-do-sol no rio Potengi. Os boxes onde os frutos do mar são vendidos estarão concentrados no piso térreo, e no primeiro andar será montada uma área para alimentação. Para os vendedores de peixe essa é uma idéia que deve dar certo. Lúcio Rodrigues de Miranda, comerciante do Mercado do Peixe, está otimista com a mudança, que vai melhorar a higiene e a conservação dos produtos. “Vai ficar bem melhor, até para a gente comercializar”.  As lanchonetes serão  administradas pelos donos das barracas que servem peixes no canto do mangue. A única que não será deslocada é o “Bar do Pernambuco”, famosa pela ginga com tapioca que vende há 45 anos no mesmo local. O proprietário venderá os lanches em um quiosque que será montado na praça.

Trânsito

Com a construção da praça tomando o prolongamento da rua Duque de Caxias, o  trânsito circulará por trás da Rodoviária Velha, sendo que uma das faixas desta rua será apenas para carros. O semáforo da rua Sachet, que liga a avenida Rio Branco ao teatro, deixará de existir e a rua Henrique Castriciano, ao lado do colégio Salesiano, vai deixar de ser uma “mão inglesa”, sendo que o fluxo seguirá apenas o sentido Rio Branco – Duque de Caxias. O semáforo de três tempos da avenida Junqueira Aires também não existirá mais.

As paradas serão escalonadas por toda a avenida que será construída e estações de transferência serão instaladas em frente à Companhia Brasileira de Trens Urbanos (Cbtu), na parada metropolitana e na avenida Rio Branco.

Todas as calçadas desde as Rocas terão rampas e pisos táteis para deficientes físicos e visuais.

Rocas

O terminal rodoviário das Rocas será remodelado para comportar o número de usuários de ônibus que aumentará após as mudanças na rodoviária velha da Ribeira (que não será mais terminal rodoviário). O antigo mercado das Rocas também será reformado. “É o mais antigo da cidade e nunca recebeu reforma”, explica Ana Míriam Machado, secretária de meio ambiente e urbanismo.As paradas de ônibus serão maiores e cobrirão a calçada até parte do teto dos ônibus, protegendo com mais eficiência os usuários em dias de chuva.

Prédios residenciais

Segundo o arquiteto do setor de patrimônio da Semurb, João Galvão, “não há no mundo história de projeto de revitalização sem população habitante no local”. Por isso o interesse em restaurar alguns prédios da Ribeira, que darão lugar a apartamentos residenciais ou pontos comerciais, através do projeto Rehabitar. Pelo fato de a Ribeira ser considerada uma Zona Especial de Preservação Histórica (ZEPH), a sua arquitetura não pode ser modificada, e as obras respeitarão a fachada original das casas. O projeto é uma parceria da Semurb com a CEF que financiará os imóveis, e com o governo francês. Há cerca de dois anos a Semurb vem discutindo o processo de avaliação e viabilidade da reabilitação. Após uma seleção, cinco prédios foram identificados como próprios para as restaurações. Uma provável forma de negociação dos imóveis é pelo Programa de Arrendamento Residencial (Par), da Caixa Econômica. Com ele o imóvel fica arrendado por 15 anos até que o proprietário tenha posse plena.

Praça Augusto Severo

O espaço entre a praça, o teatro, a Rodoviária Velha e o Largo Dom Bosco será ampliado, formando um grande complexo. Para isso as ruas que passam em frente à estação de ônibus serão desfeitas, resultando em modificação na rota dos ônibus. Algumas árvores precisarão ser deslocadas e serão replantadas, e as que estão doentes serão substituídas.

Rodoviária velha

O espaço será totalmente restaurado. Os boxes de lanches e serviços continuarão a existir, sendo que mais padronizados e organizados, e no primeiro andar do prédio acontecerão as aulas do balé municipal, consolidando a vocação sócio-cultural daquela parte. Já as barracas que não possuem autorização legal terão de ser deslocadas. A Semurb, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) e a Procuradoria Geral do Município, estarão reunidas no início dessa semana para definir a implantação do projeto, e os donos dos boxes, que alegaram não terem sido avisados formalmente das mudanças, serão convocados posteriormente.

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