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Projetos e objetivos de vida

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Ivan Maciel de Andrade                                                                                                           
Procurador de Justiça e professor da UFRN (inativo)                      

Há uma essência do tempo que, apesar de imaterial, nos deixa marcas físicas e psicológicas. Sem conseguirmos apreender, contudo, o sentido real, misterioso e profundo do que nos acontece. É verdade que o esquecimento nos ajuda a viver ao apagar amarguras e frustrações que pareciam irremovíveis da memória. Mas não poderemos abrir mão de certos projetos e objetivos de vida, ainda que esquecidos e abandonados por desânimo e desesperança. Sem eles, que sentido teria a vida?

São muitos os projetos e objetivos que podem se transformar em essencial e insubstituível razão de viver. Como a realização de uma vocação artística ou a construção de uma relação amorosa feliz. As ideologias tiveram grande importância em épocas passadas. Hoje, perderam a sua força e o apelo emocional. Ficaram restritas a pensadores que elaboram controversas teses acadêmicas ou a escassos e eventuais ativistas sobreviventes de períodos históricos ultrapassados. Em contrapartida, adquiriu importância nos dias atuais um fenômeno tão vinculante quanto as ideologias, apesar do aumento do ateísmo: o fanatismo religioso, que é levado muitas vezes, em algumas partes do mundo, a extremos e excessos irracionais, que descambam para a violência, quando não para a barbárie.

Algumas vezes a religião adquire aspas, pois perde o seu caráter metafísico e se materializa nas cores e tradições de um clube de futebol. As imensas torcidas polarizadas pelo futebol vivem em função da glória das vitórias e dos traumas das derrotas. Sobrepondo-se às divisões político-partidárias, às paixões bairristas e diferenças de classe. E superando preconceitos de cor e sexo, bem como, nos casos de maior exagero, o próprio amor patriótico. Pois várias pesquisas demonstram que contingentes expressivos de torcedores, colocados diante de uma opção dramática, entre preferir vitórias e derrotas de seus times ou da seleção nacional, optam pelas vitórias de seus times e derrotas da seleção. Afinal, as “torcidas organizadas” se atacam, se agridem e se matam como inimigos ferozes e inconciliáveis. Não só em países emergentes, como o nosso, mas em nações do “primeiro mundo”.

E se eu dissesse que a leitura pode constituir um poderoso “leitmotiv” existencial? Haveria, sem dúvida, surpresas e (quem sabe?) até mesmo espantos. Como se lê pouco ou muito pouco no Brasil, essa afirmação poderia parecer, à primeira vista, tão despropositada que ficaria num limite próximo da blasfêmia ou, na melhor das hipóteses, da utopia, atribuíveis ao artificialismo de posturas teóricas.

Ora, como acentua Alberto Manguel, há várias formas de leitura, que realizamos a cada passo: lemos a fisionomia dos outros, as obras de arte, os acontecimentos políticos, os fatos históricos, os nossos próprios atos e os atos alheios. Mas há uma leitura específica: a leitura de livros. O ensaísta argentino, naturalizado canadense, chega a dizer que “a palavra impressa dá coerência ao mundo”.

A leitura cria novas formas de ver e sentir a vida. Aperfeiçoa ou modela concepções e convicções. Refina o gume do raciocínio crítico. Ensina a questionar. Subverte a mesmice do cotidiano. Ilumina e aprofunda a compreensão da história humana. Preenche carências e vazios existenciais. 

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