Fred Carvalho, editor do TN Online e Andrey Ricardo, repórter do Jornal de Fato
O MP está disposto a oferecer os benefícios de “delação premiada” ao ex-detento João Francisco dos Santos, conhecido como Dão, se ele revelar o mandante da morte do jornalista e radialista Francisco Gomes de Medeiros, o F. Gomes. O crime foi cometido por Dão na segunda-feira à noite. Preso na terça-feira, ele disse que matou para se vingar da divulgação que F. Gomes fez da prisão dele por assalto e tráfico de drogas.
A versão do assassino foi considerada, desde o primeiro momento, “muito simples” para o delegado Ronaldo Gomes, titular da Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor), que comandou as investigações sobre o crime. “Esse é um motivo insuficiente, fútil mesmo, para se cometer um assassinato como este”, avaliou o delegado. O promotor criminal de Caicó, Geraldo Rufino de Araújo Júnior, é da mesma opinião e também pensa que Dão agiu a mando de outra pessoa e está tentando desviar as investigações.
Para incentivar a denúncia por parte do criminoso, o delegado Ronaldo Gomes e o promotor Geraldo Rufino já ofereceram a delação premiada ao assassino. Para confessar, João Francisco já havia negociado a possibilidade de permanecer preso em Caicó, mas no presídio estadual e não em uma delegacia. Segundo disse ao promotor e ao delegado, Dão tem medo de ser morto se ficar em uma cela com presos comuns. “No presídio, ele acredita que estão outros presos que também não gostavam de F. Gomes”. A forma como o crime foi planejado e executado já está confirmada pela polícia. Devido às características de “execução”, agindo de forma premeditada, por motivo fútil e sem chances de defesa para a vítima, o promotor Geraldo Rufino disse que vai pedir a pena máxima para Dão. A possibilidade de atenuar a pena é se o criminoso aceitar a oferta de delação premiada e revelar se houve um mandante.
Durante as oitivas com o criminoso, o delegado Ronaldo Gomes e o promotor Geraldo Rufino ofereceram ao advogado Rivaldo Dantas, que defende Dão, a possibilidade de que o acusado faça a delação premiada. Na manhã de terça-feira (19), com o cliente preso ainda como suspeito, o advogado Rivaldo Dantas garantiu que “ele (Dão) não vai confessar um crime que não cometeu”. Mais tarde, depois da confissão, o advogado não comentou nem respondeu à oferta de delação premiada.
O delegado Ronaldo Gomes foi questionado pela imprensa sobre as convicções que tem quanto ao assassinato de F. Gomes ter sido um “crime encomendado”. Extra-oficialmente, círculos policiais comentam que o traficante – condenado ainda por assalto e receptação – Valdir Souza do Nascimento, que está recolhido no Presídio Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, seria o mandante por trás do assassino.
O delegado disse apenas que não vai se pronunciar sobre isso, mas fontes ligadas ao processo investigativo confirmam que são fortes os indícios que ligam Valdir à morte de F. Gomes, como mentor intelectual. Nas rádios da região do Seridó, o assunto já está sendo debatido abertamente. Os radialistas estão associando a participação indireta de Valdir, que inclusive teria ameaçado F. Gomes de morte. O criminoso é natural de Caicó e já esteve recolhido no Presídio Estadual do Seridó, o “Pereirão”, sediado em Caicó. De lá, Valdir e seu irmão, Valdigley Souza do Nascimento, o “Gueguei”, condenado também por assalto, receptação e tráfico de drogas, foram mandados para o Presídio Estadual de Alcaçuz.
A ligação de Valdir com a morte do jornalista e radialista F. Gomes é acentuada ainda mais pela forte ligação que ele teria com João Francisco dos Santos, o “Dão”, que confessa o assassinato. “Eles tinham uma forte ligação. Isso é fato. Não tem como negar”, disse uma fonte, que pediu anonimato.
Irmãos: longa ficha criminal
Condenados por tráfico de entorpecentes, receptação e assaltos, os irmãos Valdir e Valdigley, são apontados como os mais perigosos do Sistema Penitenciário Estadual (SPE). Foi justamente por isso que os dois foram mandados do Presídio Estadual de Alcaçuz, que é apontado como o mais seguro do Sistema potiguar, para o Presídio Federal de Mossoró, que é de segurança máxima.
Segundo dados obtidos pela reportagem junto ao Departamento de Informações Penitenciárias do Rio Grande do Norte, os dois são considerados extremamente perigosos.
Na ficha de Valdir, que é investigado como possível mandante na morte de F. Gomes, constam participações em planos de fuga. No dia 12 de outubro de 2009, foi realizada uma busca em Alcaçuz e com ele foi apreendido um telefone celular que seria usado pelo preso para continuar comandando o tráfico de entorpecentes na região Seridó. Na agenda do telefone de Valdir, havia nomes de várias pessoas e contas poupança da Caixa Econômica Federal (CEF), inclusive com várias movimentações financeiras.
Na época, ainda segundo o Departamento de Informações Penitenciárias do Sistema Penitenciário Estadual do RN, foi feita uma operação que resultou na apreensão de um carregamento de drogas que faria parte do esquema dele.
Já Valdigley, irmão de Valdir, também se envolveu em várias tentativas de fuga. Com ele, a polícia já chegou a apreender materiais explosivos. Valdigley também é apontado como autor de tentativas de assassinatos contra internos no Presídio de Alcaçuz. Em 2009, o criminoso conseguiu fugir, mas foi recapturado.
Caicó retoma aos poucos as atividades do cotidiano
Um dia após a comoção pelo sepultamento de F. Gomes e pela prisão e confissão do assassino dele, Caicó amanheceu calma na quarta-feira. A cidade, que parou na terça-feira para o adeus ao radialista, aos poucos vai retomando as atividades do cotidiano.
O crime ainda é assunto nas rodas de conversas nas praças, calçadas, bares e principalmente nas emissoras de rádio da região. Ninguém, nestas conversas e debates, acredita que o assassino agiu movido apenas por vingança. A convicção popular é de que a polícia está certa em investigar a existência de um plano contra a vida de F. Gomes e de que João Francisco, o assassino, agiu a mando de alguém.
No cemitério Campo Jorge, onde F. Gomes foi sepultado, várias coroas de flores estavam o ontem sobre o túmulo do comunicador. A 13 dias do Dia de Finados, os moradores de Caicó acreditam que o túmulo de F. Gomes será o mais visitado na cidade no dia 2 de novembro, data em que são feitas as homenagens aos mortos.
Equipe da Deicor realiza buscas nas margens do Itans
Policias da Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor) realizaram buscas nas margens do açude Itans na tentativa de encontrar o revólver calibre 38 usado para matar o radialista F. Gomes. O assassino confesso João Francisco dos Santos, o Dão, participou das buscas.
O delegado Ronaldo Gomes acredita que a arma esteja realmente no açude conforme depoimento do próprio assassino. Não há previsão de quando essas buscas serão encerradas. Ontem, elas se mostraram infrutíferas e o Corpo de Bombeiros foi acionado para fazer buscas subaquáticas a partir de hoje no açude. O revólver calibre 38 usado na morte de F. Gomes foi comprado por João Francisco em um mercado clandestino de Caicó, o “Beco da Troca”, por R$ 550,00. A informação foi repassada por João Francisco dos Santos.
A importância da arma está relacionada a possibilidade de se localizar a origem do 38 e para o exame de balística. O assassino disparou contra F. Gomes todos os cinco tiros do revólver.
Carta
“A dor é inexplicável”
Familiares de F. Gomes divulgaram ontem uma carta que relata o sofrimento que eles têm passado após seu assassinato. Leia o depoimento emocionado feito pela filha de F. Gomes, em nome da família:
Minha alegria acabou. Tiraram minha maior alegria de todos os dias, da minha mãe, dos meus avós, dos meus irmãos, dos meus tios, dos colegas de trabalho… Tenho certeza de quem tirou ele de nós nunca teve pai, ou sequer foi filho, ou tem uma esposa dedicada, pois ninguém imagina a dor que cada um de nós está sentindo! Não tenho como ter ele de volta, infelizmente. Pois, era tudo que nós mais queríamos.
Vou sentir falta de dizer: Painho, estou chegando sexta, to com saudades de casa. Ele adorava saber que eu sentia falta de casa e que logo em breve eu iria chegar, e lá estaria ele deitado no sofá da sala, esperando para me dar um abraço forte de saudade.
A dor que estamos sentindo é uma dor inexplicável, é uma dor infinita que não tem fim. Foram muitos momentos, muitos planos, sonhos… Que acabaram, pois a principal força que nos fazia sonhar se foi. No momento não penso em nada, estamos sem chão, sem rumo! Meu pai se foi …
A saudade esta matando, acordar e não vê-lo, não ir mais deixar o almoço, não ouvir mais o programa dele, e passar o dia esperando meu telefone tocar. Apenas para perguntar se esta tudo bem! Se eu já tinha me alimentado, bebido água, como tinha sido minha aula, se eu estava estudando, ate a hora de ir dormir, até mesmo ele só iria dormir quando eu dizia que já tinha tomado meu banho e estava deitada, desejava-me um boa noite e iria dormir.
Acordar os meninos pela manhã com a paciência que só ele tinha, infinitas coisas a qual ele fazia por nós. Um pai no qual não existe, pois igual a ele não tem, quem sempre nos acompanhou sabe como ele era um excelente pai, um maravilhoso marido, filho, irmão, tio, amigo …
Por mais que a dor esteja intensa, e que não passa por nada. Eu posso gritar para o mundo ouvir: ELE É O MELHOR PAI DO MUNDO!
Até mesmo esse final de semana parecia uma despedida, ele dizendo que quando mainha engravidou primeiro ele queria uma menina, e logo após 4 anos outra gravidez, e ele dizia que não queria uma menina, e sim um menino pois não queria que eu ficasse no canto.. Mas deus o presenteou, nos presenteou, nos deu logo dois de uma vez só. Formamos uma família, uma família linda, invejável. Que todos ficavam olhando admirando quando nós passávamos, ele tinha um orgulho da família dele, como todos sabem!
Espero que a justiça seja feita, pois é a única coisa a qual podemos fazer agora.
Queria agradecer em nome de toda minha família, obrigada pela força, email, mensagens, obrigado á todos. Obrigado também aos policiais, bombeiros, amigos, aos fãs a multidão que tinha nas ruas, aos admiradores e ouvintes. A todos que nos apoiaram e estiveram do nosso lado neste momento. Aos que estavam longe também.
Obrigado de coração a todos que sempre o admiraram.
Érika, Ewerton, Esley, Eliene, Rita e toda a família.
