Brasília (AE) – Três dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que não tem medo de vaias e de ruas, o Cerimonial da Presidência usou ontem uma solenidade de repasse de recursos para saneamento básico, no Palácio do Planalto, para promover um ato de apoio ao governo. Da lista de convidados, que incluía prefeitos e governadores aliados e da oposição, o Cerimonial escolheu dois petistas para reclamar da “elite” e dizer que o povo “aplaude” Lula.
A administração federal quer minimizar o impacto político das manifestações que surgiram no rastro da crise do setor aéreo, segundo confidenciaram assessores. Em conversas reservadas, o presidente afirmou que a oposição e a mídia não iriam emparedá-lo e prendê-lo no Palácio do Planalto. Na terça-feira (31), em Cuiabá, o presidente ressaltou que “ninguém” no País punha mais gente na rua do que ele. Em meio à crise no setor aéreo, no entanto, o Poder Executivo está cauteloso em marcar novos eventos em cidades com mais de 150 mil habitantes. Com a cerimônia de ontem, Lula não terá obrigação de ir, a curto prazo, em 12 capitais para anunciar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Saneamento.
O Executivo tomou o cuidado, porém, de não incluir no evento de ontem os acordos com as prefeituras do Rio Grande do Sul e do Paraná. É que, após o acidente com o vôo JJ 3054 da TAM, no dia 17, Lula teve de cancelar a visita que faria a Porto Alegre, cidade de grande parte das vítimas da tragédia, e Curitiba. Depois do acidente, o presidente esteve no Nordeste para anunciar recursos do PAC do Saneamento. A viagem para o Sul deve ocorrer só depois do dia 10, quando ele retorna de um giro pela América do Sul.
Encarregados de falar bem do governo e reclamar dos movimentos oposicionistas, a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, e o prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, usaram bordões típicos de Lula. “As elites não colocam em prática uma campanha para reverter a miséria”, disse Ana Júlia, diante de uma platéia de autoridades de partidos aliados e de oposição. Ao comentar, indiretamente, o Movimento Cívico pelo Direito do Brasileiro (Cansei), que protestou nas ruas contra o presidente, ela disse que o grupo não representa a maioria da população. “Todos sabem que falamos em nome do nosso povo, e o nosso povo te aplaude”, disse.
Críticas ao antecessores e promessa de R$ 6,9 bilhões
No discurso na solenidade de ontem, Lula destacou os investimentos feitos pela União na área de saneamento. Os recursos anunciados ontem estão contemplados no PAC e eqüivalem a um total de R$ 6,9 bilhões – R$ 5,9 bilhões da administração federal em obras em cidades com mais de 150 mil habitantes. Lula criticou, mais uma vez, os antecessores, pela falta de investimentos na área e disse que o Tesouro Nacional usava esses recursos para fazer superávit.
Lula também criticou prefeitos que não priorizam obras de saneamento nos municípios. “Saneamento básico não faz parte da cultura administrativa do nosso país.” Ele ironizou: “Não há prefeito que consiga colocar o nome de um parente na manilha”, referindo-se à prioridade dada pelas prefeituras a obras mais visíveis.
O presidente brincou também com a política de contenção de despesas adotada por alguns governos, até mesmo o dele. Foi uma forma, segundo assessores, de pedir empenho aos prefeitos e governadores para gastar as verbas da área de saneamento. “Se vocês não gastarem bem esse dinheiro, daqui a pouco, é tudo o que o Tesouro quer, que não se gaste”, disse. “Não é culpa do Tesouro, é que todo tesoureiro é assim”, completou.
Oposição convoca ‘fora Lulla’ pela internet para 11 Estados
São Paulo (AE) – A oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao orkut, site de relacionamentos da internet. Uma corrente virtual em vários sites e blogs convoca a população para um ato nacional, que deve ocorrer às 14 horas de hoje (04), contra a corrupção e o governo Lula. A mais numerosa dessas comunidades do orkut, a “Passeata da Grande Vaia, fora Lula”, tem cadastrados quase dois mil integrantes.
Em São Paulo, a concentração está marcada para a esquina da Avenida Paulista com a Rua Pamplona, nos Jardins. No Rio, a manifestação está programada para Copacabana, numa área em frente ao Forte do Leme. Em Brasília, será no Aeroporto Juscelino Kubistchek e em Belo Horizonte na Praça da Liberdade. Em Porto Alegre, será na Aeroporto Salgado Filho, exatamente de onde saiu o Airbus da TAM que se chocou contra um edifício da mesma empresa e matou 199 pessoas, em São Paulo, no dia 17 de julho. Os organizadores afirmam também que atos foram organizados em Curitiba, Belém, Vitória, Fortaleza, Natal e Maceió. O movimento tem uma coordenação virtual, em vários blogs, nos quais jovens fazem críticas ao presidente e a seu governo. Os grupos estão divulgando pela internet um manifesto sem assinatura que traz várias críticas ao presidente.
