A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, convocou uma reunião com os cinco governadores petistas para a semana que vem, em Brasília, com o objetivo de estancar o movimento a favor de um plano “B” na eleição presidencial.
Na quinta-feira, 17, pouco depois de visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, Gleisi telefonou para quatro dos cinco governadores petistas que estavam no Recife para uma reunião e mandou um recado direto do ex-presidente: Lula continua candidato.
Segundo fontes do PT, Fernando Pimentel (Minas Gerais), Tião Vianna (Acre), Rui Costa (Bahia) e Wellington Dias (Piauí) receberam o recado de Lula enviado por Gleisi. Camilo Santana (Ceará) também já foi comunicado sobre o posicionamento do ex-presidente.
Gleisi Rouffman insiste que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é candidato, apesar da prisão
A movimentação de Gleisi é uma reação à entrevista de Santana ao Estado na qual ele diz que o PT não pode “apostar no isolamento suicida” e deveria apoiar Ciro Gomes (PDT).
Nas últimas semanas, governadores petistas têm se movimentado no sentido contrário ao da direção partidária defendendo que o PT coloque em prática o quanto antes um plano “B” na eleição presidencial, sob o risco de ficar isolado no processo eleitoral e ver minguar tanto as bancadas no Congresso quanto o número de Estados governados pela legenda.
O movimento dos governadores conta com apoio de outras lideranças petistas que acusam, em conversas privadas, a direção de interditar o debate interno sobre cenários eleitorais sem Lula. A entrevista de Santana ao jornal O Estado de S. Paulo explicitou este movimento.
Na reunião dos governadores petistas, na sexta-feira, 18 no Recife, um dos cotados para ser o substituto de Lula na disputa presidencial, o ex-ministro Jaques Wagner, descartou de maneira cabal a pessoas próximas a possibilidade de ser o plano “B”. Segundo fontes, ele disse que não aceitaria a candidatura presidencial nem se recebesse um pedido direto de Lula.
Wagner, que não gostou de ser advertido por Gleisi quando defendeu publicamente que, sem Lula, o partido deveria apoiar Ciro, tem dito que a cúpula petista já se decidiu pelo nome de Fernando Haddad como opção eleitoral caso o ex-presidente, condenado e preso pela Lava Jato, seja barrado ela Justiça com base na Lei da Ficha Limpa.
Wagner afirmou a interlocutores que, para a direção do PT, o plano agora é “H”, de Fernando Haddad. O ex-governador da Bahia embasa sua tese no fato de Gleisi ter levado o ex-prefeito, coordenador do programa de governo do PT, para visitar o ex-presidente em Curitiba por ordem do próprio Lula.
Camilo Santana divergiu ao defender aliança com Ciro
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), deu declarações que contrariam a orientação que até agora prevalece na direção nacional petista. Ele afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, não conseguirá disputar a Presidência nas eleições deste ano. Por isso, Santana defendeu que seu partido apoie a candidatura presidencial do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), seu padrinho político, e indique o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) como vice.
Segundo ele, o PT “não pode apostar no isolamento suicida”. “Respeito a posição do partido. Sempre tenho colocado que Lula é vítima de uma grande injustiça, mas acho que o momento não é de radicalismo. Sei que o desejo de todos nós era o Lula poder ser candidato. Mas entre querer que ele seja candidato e a realidade atual existe uma ponte muito grande”, disse.
O governador do Ceará afirmou que parte do princípio de que o PT, sem dúvida nenhuma, é hoje o maior partido deste País. “Não acredito que vão deixar o Lula ser candidato. Isso é um fato. Não adianta a gente se enganar. Acho que ele poderá contribuir muito nesse processo eleitoral, mas não como candidato”, comentou.
Camilo Santana acrescentou considerar que o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) é hoje o principal nome para unir as esquerdas e garantir a continuidade de programa sociais alcançadas durante os 12 anos do PT no poder. “Ciro sempre foi um aliado fiel. Negar isso acho que seria injusto. Acho que o PT tem uma grande oportunidade de fazer esse debate. Não podemos nos isolar. O momento é de união, não de isolamento. O momento não é de radicalismos, isso não vai levar a nada”, comentou.
Para o governador petista o momento exige serenidade w desprendimento. “Quem pensa de verdade no partido, na sua história de luta, de conquista, não pode apostar no isolamento suicida”, destacou.
Par ele, o PT deve começar imediatamente o debate sobre o nome que poderá substituir Lula na corrida pela sucessão presidencial. “Independente do que vai acontecer, acho que precisa ter essa clareza. Pode ser que a decisão dos partidos de esquerda seja cada um lançar um candidato no primeiro turno e apostar no segundo turno. Mas acredito que isso seja um risco de insucesso de uma candidatura que possa representar uma visão progressista do País”, ressaltou.