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Quais os seus valores?

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Jemima Morais Veras
Psicóloga

Numa tarde de outono, estavam todos no pátio da escola. Todos adolescentes entre 14 e 18 anos. O clima estava ameno até que, de repente… Um tumulto foi gerado – Correria e gritos.
Com 17 anos, Marcelo, um rapaz maromba e de pouca conversa, deu um soco no olho de Luís, um  garoto frágil de 15 anos.
O fato teve grande repercussão. Os defensores de Luís foram apoiá-lo, embora tivessem o mesmo biotipo do amigo, eram seis. Talvez movidos pelo senso de justiça, Marcelo ganhou seus defensores também. Antes que a coisa ficasse feia, chegou o coordenador e levou os envolvidos e mais uns interessados na questão até uma sala, lá o professor de filosofia organizou a discussão.
Laura de 16 anos, encabeçou a discussão:
– Acho muita sacanagem Marcelo ter batido em Luís. Pô, olhe esse boy!
Falou apontado para o garoto com o olho esquerdo bastante vermelho, como falei antes – Marcelo é bem forte.
O professor fez sua primeira intervenção:
– Laura, você parece está bem chateada, por quê?
– Não gosto de injustiça, apanhei muito dos meus irmãos mais velhos.
Continua o professor:
– Marcelo, por que você deu um soco em Luís?
– Professor, eu nem queria expor o boy, mas já que o senhor tá perguntando. Então… ele postou uma foto íntima da minha irmã.
João diz:
– Viu aí Laurinha, esse cara é fraco mas não é santo não!
– Calma galera! Luís, é verdade o que Marcelo está dizendo?
 Pronunciou-se Antônio, ah! Antônio é o nome do professor.
– Mais ou menos, eu mostrei a um amigo e ele enviou pro WhatsApp. Jurou que se atrapalhou, que não queria fazer isso.
Duda, disse:
– Caramba! não foi Luís, o cara apanhou de graça
Carol, pontua:
– Ele não deveria ter mostrado, foi maior otário.
Rafa impulsivamente, grita:
– E bater tá certo? É essa a melhor maneira de resolver as coisas?
O professor fala:
– Meninos, por que será que vocês têm pontos de vista diferentes, já que presenciaram a mesma cena?
Cada um olhou para a situação e fez sua avaliação com base nos seus valores, nas suas atitudes, nas suas crenças, nas suas exigências e nas regras que estabeleceu para lidar melhor com a vida.
Devemos considerar que ao longo da vida vivenciamos situações nas quais precisamos resolver problemas, tomar decisões ou assumir posturas. Na busca dessas resoluções recorremos a ajuda de normas que reconhecemos e aceitamos internamente. É a internalização do bem e do mal que cada um constrói – é a nossa autonomia moral; que é construída desde a infância.
Continua o professor, só que entre os pontos extremos do negativo e do positivo, existem as nuances.
Para Laura o mais forte não pode bater no mais fraco, esse parece ser um valor importante pra ela. Acredito que ela também entenda que postar fotos íntimas não é legal. Duda interpreta que a culpa é do amigo de Luís que enviou a foto. Já Carol, entende que se Luís não tivesse mostrado nada disso teria acontecido.
Fechando essa história, os meninos com a ajuda do professor, chegaram a um consenso. Luís foi otário mesmo. Marcelo vacilou muito e o garoto que enviou as fotos tá na mira da galera, será chamado para uma conversa. A irmã de Marcelo fará terapia. Entenderam, também  que essa coisa de quem é mais forte e mais fraco, pode não significar nada. Concluíram que numa discussão cada um coloca suas próprias concepções, por isso é importante considerar que muitas vezes não existe o lado certo e o lado errado. Existem aqueles que têm motivos para ficar de um lado e aqueles que têm seus motivos  para ficar do outro lado.
Percebo que o professor estava explicando para a galera que, avaliamos eventos em função do que acreditamos ser certo ou errado.
Não é por que alguém briga por lealdade que o outro é desleal, o primeiro somente deve dar um valor maior A lealdade. Importante colocar, que estamos aqui falando de pessoas dentro de um padrão normal de capacidade de fazer julgamentos. 
Quando alguém se posiciona em uma discussão, está colocando ali sua história, seus aprendizados, suas dores, seus medos… Às  vezes bater de frente não resolve. É pertinente repensar sobre os próprios valores e buscar uma avaliação mais aproximada do fato em si.
O que é mais importante para um, pode ser menos importante para o outro, mas não quer dizer que o segundo  desconsidere totalmente o argumento do primeiro.

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