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Qualidade da água é questionada

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BARRAGEM - Altos índices de cianobactérias foram constatados na Armando Ribeiro Gonçalves

O departamento de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte divulgou os resultados de uma pesquisa iniciada em 2003 sobre a qualidade d´agua nos principais reservatórios públicos do Rio Grande do Norte. Segundo o relatório, a água oferecida em algumas cidades do estado está com índices elevados de cianobactérias. As informações já estão com a Caern.

O projeto CIANOTOX (cianobactérias tóxicas) começou a ser desenvolvido pela UFRN em 2003, através de coletas de amostras nos principais reservatórios e nas residências do Seridó. De acordo com a portaria nº 518 do Ministério da Saúde, o índice máximo permitido de cianobactérias é de 20 mil células por mililitro de água sem tratamento. Mas em casos críticos, o índice chegou a 70 mil células/ml em água tratada. Os estudos apontaram um alto índice nos reservatórios Armando Ribeiro Gonçalves, Gargalheiras, Pau dos Ferros e Passagem das Traíras.

De acordo com a professora Ivaneide Alves Soares da Costa, coordenadora do projeto, a presença de  cianobactérias é normal, mas o alto índice encontrado significa que algo não está bem. “Isto prova que a água não está sendo tratada com eficiência. É preciso descobrir uma forma mais eficiente de fazer o tratamento”. Segundo a coordenadora, o problema ainda não é motivo para pânico, mas o governo do estado precisa se movimentar. “Sei que a solução não é fácil e demanda muito dinheiro. Mas é necessário a preocupação dos governantes”.

Alguns fatores naturais são citados como causadores das florações,  como  a própria condição climática da região seridoense. Mas alguns outros são causados pelo homem, como a poluição dos rios e reservatórios através de despejo de esgotos domésticos e industriais e o excesso de ração utilizado na aqüicultura.

A contaminação no ser humano pelas cianotoxinas pode causar alergias, inchaços, diarréias e coceiras na pele. Os casos mais graves são de possíveis  ocorrências de doenças no estômago e intestino, até câncer no fígado.

O excesso de cianobactérias tem causadoum alto índice de mortandade dos peixes, já que ao serem decompostas, diminuem bruscamente a quantidade de oxigênio na água. Segundo a professora Ivaneide, a solução para o problema seria uma técnica adeqüada para o tratamento da água, o que ainda não existe nos reservatórios do RN. 

Uma outra atitude seria o monitoramento periódico da quantidade de cianobactérias nas águas. “A Caern até faz essa medição, mas de forma esporádica. O ideal seria um monitoramento sistemático”. A coordenadora dos estudos recomenda também que o índice medido mensalmente seja divulgado na conta de água, como acontece com o nitrato.

Secretário se preocupa com resultado do estudo

O secretário estadual de Recursos Hídricos, Josemá Azevedo, disse que após receber um ofício em que os estudiosos da UFRN comunicam o problema e recomendam providências, levou o assunto para ser discutido no Comitê Estadual de Recursos Hídricos.

“A importância do assunto é muito grande. Por isso na semana passada lancei o assunto na reunião do Comitê”, disse o secretário. Como providência inicial, o comitê marcou uma reunião extraordinária para o próximo dia 19. “Na ocasião a professora Ivaneide vai fazer uma exposição do estudo realizado por sua equipe, para que possamos ter detalhes dos problemas e darmos encaminhamento”, explicou Josemá Azevedo. Segundo o titular da pasta, o Instituto de Gestão das Águas do Estado do RN (Igarn) também vai apresentar números da região, baseados em estudos já realizados. 

O secretário reconheceu que o problema é de difícil solução, já que demanda uma mudança de atitude não só sobre o tratamento da água, mas também na não poluição dos rios e reservatórios. “Isso não será realizado a curtíssimo prazo. Seria impossível. Temos notícia, por exemplo, que na região de São Rafael há fossas sépticas que transbordam e lançam a sujeira no rio”.

 Mas no que diz respeito à recomendação sobre a informação do índice de cianobactérias na conta da Caern, Josemá Azevedo se mostrou contra. Segundo ele, a coordenadora dos estudos estaria valorizando  os dados e que tal providência não seria viável. “Não vejo necessidade para isso.

Diretor da Caern diz que o parecer definitivo sai amanhã

O diretor técnico da Caern, Marcelo Caetano Rosado, considera precipitado dizer, com base nos dados das análises recebidas da UFRN, que as águas dos reservatórios apresentam toxinas num grau prejudicial à saúde.

O parecer definitivo, segundo ele, só será dado depois de amanhã, quando a Caern recebe o resultado de exames mais detalhados das amostras. Marcelo informou que essa opinião foi consensual na reunião de ontem com os pesquisadores da UFRN responsáveis pelo primeiro estudo. “O aparecimento de células de algas nos reservatórios já aconteceu antes, mas os exames mostraram que as impurezas não causavam problemas à saúde”.

O diretor técnico da Caern explicou que o problema começou a ser alardeado a partir do aparecimento de casos de hepatite em Janduís. O prefeito do município  realizou audiência pública para discutir o assunto e muita informação precipitada e deturpada saiu daí, falou Rosado.    “Você pode falar em indício. Dizer algo de forma conclusiva, não. Nós estranhamos porque em outras cidades por onde a mesma adutora passa os exames rotineiros não apontaram nenhum problema”.

O resultado do estudo foi entregue ontem à Caern e mostrou em alguns municípios a presença de células de algas num nível muito abaixo do normal; em outros, encontrou cianobactérias num nível muito próximo do aceito, e, em outros, acima do admitido.

Prefeito tenta proteger a população

A divulgação do relatório do projeto CIANOTOX tem causado temor em algumas autoridades da região. O médico Salomão Gurgel, prefeito de Janduís, tem se apressado em ações na tentativa de proteger a população local. O pequeno município é abastecido pela barragem Armando Ribeiro Gonçalves e a água que chega através da adutora Deputado Arnóbio Abreu tem sido evitada. “A minha preocupação é como perfeito da cidade que tem uma população tomando água contaminada e como médico sei das consequências que essa contaminação pode causar no organismo”.

Salomão Gurgel tem incentivado a população a usar água mineral para beber e cozinhar, o que já está sendo feito nas instituições públicas da cidade. “Nas escolas, creches, hospitais e outras unidades de saúde só estamos usando água mineral”. O prefeito destaca os vinte casos de hepatite ocorridos neste ano, além de algumas ocorrências de doenças do trato urinário, registrados em Janduís. “Não temos dados seguros que comprovem a causas, mas agora com esses resultados da UFRN, temos que suspeitar dessa contaminação”.

O prefeito de Janduís já solicitou à Caern que reative algumas cacimbas existentes no município e o projeto de dessalinização da água. Salomão Gurgel disse ainda que só está esperando a confirmação dos laudos da UFRN para decretar estado de calamidade pública em toda a cidade – isso já foi feito para alguns distritos em função da falta d’água.

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