terça-feira, 16 de abril, 2024
25.1 C
Natal
terça-feira, 16 de abril, 2024

Quando a alegria era estar nas ruas

- Publicidade -

A cantora e compositora Valéria Oliveira nasceu nas Rocas, berço do samba potiguar, e hoje transita pelo mundo mostrando a sua música. No mês de julho, ela se apresenta no renomado Festival de Montreux. A mais tímida de uma família de seis irmãos, a caçula, nasceu no bairro onde guarda muitas lembranças das escolas de samba e das idas à Praia do Forte. Mudou para Candelária aos sete anos de idade, mas nunca deixou seu vínculo com as Rocas, onde tem muitos parentes até hoje, permanecendo numa espécie de transição entre os dois bairros.  Estudou na Escola Irmã Vitória – Ambulatório São José, próximo ao Canto do Mangue, e sempre frequentou a Rampa, quando era pequena e mais tarde, aos domingos, com um tio seu. Mesmo quando morava em Candelária, todos os domingos passava pelas Rocas para pegar o almoço, na volta da praia do Forte. No Minha Área deste domingo vamos saber o que Valéria guarda desses dois recantos da cidade.

“Eu morava na rua Expedicionário José Varela, que vem do colégio Isabel Gondim e vai dar em frente aquela igreja no alto. Morei ali o tempo todo, meus irmãos estudavam no Padre Monte, naquela região; tinha muitos tios que moravam na rua São João. Também ia muito para as praias, é uma lembrança que eu tenho muito forte, principalmente da Praia do Forte, que a gente frequentava bastante. Desde pequena que a gente ouvia falar nas escolas de samba. Isso é um marco no bairro”, conta, nesta entrevista:
Valéria Oliveira nasceu nas Rocas mas cresceu em Candelária. Em comum, tinham a vida festiva nas ruas que se perdeu com a insegurança
Valéria Oliveira nasceu nas Rocas mas cresceu em Candelária. Em comum, tinham a vida festiva nas ruas que se perdeu com a insegurança

Escolas de Samba e ABC

“Lembro muito da minha mãe e do meu pai, de toda família falar desse movimento das escolas de samba. Só que eu era muito pequena. O que eu lembro de fato são movimentações culturais durante o carnaval, tribos de índios. Eu acho que uma vez roqueira, sempre roqueira (risos). É tipo assim, quem mora em alguns bairros da cidade, eu percebo isso; tipo Cidade da Esperança; tem essa coisa muito forte, cultural. Eu sai, mas fiquei. Todos os meus primos, tios mais velhos que eu, falam nas Rocas. Tinha a questão do esporte. Lá se falava muito nos clubes, em ABC, América. Metade da minha família é abecedista. Um dos meus irmãos treinou e jogou no ABC. Até hoje tenho um primo que é do ABC. Inclusive eu cheguei a cantar no clube do ABC. Tenho até uma foto, bem novinha, encostada num Fusca, lá no clube do ABC quando se mudou para a Rota do Sol.”

Dunas de Candelária

“Meu pai trabalhava com mais dois tios meus com capotaria, ali naquela rua das oficinas. Depois papai se aposentou, juntou um dinheiro, e a gente foi para o bairro de Candelária, onde ele montou a oficina. Minha mãe tinha um armarinho nas Rocas e também levou pra Candelária. Mudou muito tudo. Fui estudar em escolas de lá, No Luiz Antônio, o primário; no Wafredo Gurgel, o científico. Lembro que nessa época não tinha calçamento em praticamente rua nenhuma. Eu acompanhei todo o desenvolvimento da Prudente de Morais, isso por volta de 1976. Era um deserto aquilo ali. Quando a gente chegou na Prudente, tínhamos pouquíssimos vizinhos. Digamos assim, inauguramos o bairro de Candelária! (risos). Brincava muito nas dunas. Era um paraíso. Na época que a gente podia brincar ainda. Descer rolando na areia… Mamãe era muito festeira. Quando chegamos em Candelária, ela fazia muitas festas. Adorava receber pessoas, a família toda convergia lá pra casa.”

Tempos  sem violência

“Vivi toda a minha adolescência em Candelária. Eu curti muito essa época, pois a gente se divertia muito, sem preocupações, sem receios. Uma coisa que marca muito, diferente daquela época, é a violência, a insegurança. É lamentável. Lembro de uma época também que era sensacional e marcou muito a minha adolescência, que eram aquelas festas de São João ali de Potilândia, na rua da Esmeralda. Então, eu tenho saudade da época em que a gente podia brincar na rua e que as festas eram muito fortes. A população se encontrava em determinadas épocas do ano pra brincar, no carnaval no São João. Sinto falta dessa naturalidade.” 

Música em família

“Foi em Candelária que a música surgiu. Além de um tio meu seresteiro, tio José, que não cheguei a conhecer, minha mãe minha uma veia artística muito forte e gostava muito de música. Tenho uma lembrança muito forte dessa coisa de mamãe dentro de casa. Ela trouxe muitas referências musicais pra mim. Ela ouvia muito samba. Eu passei a ouvir samba e a amar a obra de Clara Nunes por conta de minha mãe. Herdei muitos dela, inclusive; Clara Nunes, Alcione, Agepê, Benito de Paula. Todos lá em casa gostavam muito de música. Meu irmão mais velho e Marcos também gostavam mais dos Beatles; tinha outro irmão que me assemelhei muito a ele no gosto musical, que ouvia muito Edu Lobo. Aquilo pra mim era uma coisa do outro mundo. Ouvia Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Elis Regina, João Bosco.”

Das Rocas para a Suíça

“Já fui para a Suíça três vezes. Mas finalmente agora vamos com a banda. Vamos fazer um show dia 1º de julho, no espaço Brasil Boat, um barco cuja a programação faz parte da programação inteira do festival, que tem vários palcos. Acho que vai sr um bom começo pra chegar lá em Montreux. A gente está com um disco novo, o “Mirá”, trabalho que pretendo mostrar lá. Veio a calhar de Diogo Guanabara estar por lá, Camila Masiso, Jubileu está indo comigo. Estamos em contato com Marco Antônio, que está na Áustria, contato com Roberto Taufic, que está na Itália. Tem várias pessoas querendo que as coisas aconteçam. Tem Gilberto que está voltando daqui a pouco pra Itália. Tem Lygia Grança que está lá ainda.”

Fazer show em Natal

“Acho que estamos no momento de se reinventar. Tenho percebido que atravessando o momento como a gente está, o país está num momento muito delicado e, em particular nossa cidade está atravessando um momento complicado na questão dos teatros. Se a gente já tem poucas opções, se sempre teve poucas opções, hoje está bem difícil. Não está comportando a intensidade e a quantidade de produção. Se você for olhar em todas áreas musicais, você tem lugares pontuais que continuam na ativa. Tem a Casa da Ribeira, que a gente sabe que é uma dificuldade de manter; tem o TCP que funciona mas eu acho que poderia ser bem melhor, mas é bem localizado e acaba absorvendo boa parte da produção, antes tinha o Alberto Maranhão, que está fechado. Aí acho que a galera está começando a partir para espaços alternativos. Acho que estamos tirando leite de pedra.”    

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas