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Quando o corpo fala

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Tádzio França – repórter

O artista de performance faz do próprio corpo o meio e a mensagem. Seus gestos e expressões captam tensões, contextos e ideias do ambiente ao redor. Ambientar-se é justamente o que procura a plataforma Descontrole Remoto, um projeto da Rede Nacional Funarte Artes Visuais que está em Natal na figura do paranaense Ângelo Luz. Ele ficará na cidade até 17 de julho com a função de  mapear, mostrar, documentar e debater os trabalhos próprios e os locais. A primeira edição do programa compreende o eixo de ligação entre Curitiba (PR) e Natal, que resultará num vídeo – em formato documentário – que será exibido simultaneamente nas duas cidades no dia 10 de setembro.
Angelo Luz está em Natal para integrar projeto ao lado do Coletivo ES3, com apresentações no Gira Dança e debates na Casa da Ribeira.
Angelo Luz está conduzindo uma série de ações junto aos seus anfitriões locais, o coletivo natalense ES3 – cujo I Circuito BodeArte possibilitou o convite da Descontrole Remoto para integrar esse registro nacional entre Sul e Nordeste. Nesta sexta-feira, às 20h, o espaço Gira Dança (Ribeira)  receberá a performance de Ângelo Luz, chamada “OVNINVO: discursos alterados”, e a do performer local André Bezerra, com “Coisas inomináveis que nos habitam por dentro”. No sábado, às 19h, haverá um bate-papo com artistas da plataforma na Casa da Ribeira, sobre o andamento da  ‘performance art’ no Sul e Nordeste do Brasil. Todos os encontros têm entrada franca.

“Performance art não é exatamente uma novidade, mas é impressionante como se mantém jovem através da renovação. O mapeamento e registro que estamos fazendo são uma prova disso”, afirma Angelo Luz, em entrevista ao VIVER. Ele considera que há uma cena atual fervilhante no Brasil – e no mundo -, mais tradicional em Curitiba, e cheia de sangue novo em Natal. “Hoje temos 47 artistas registrados em nossa plataforma, seja de forma presencial ou em vídeo. São pessoas que pensam a crítica de arte de uma forma alternativa”, diz. Em Natal, Angelo tem 11 artistas locais a serem registrados e entrevistados, incluindo performances com intervenções urbanas em diversos pontos da cidade.

Interpretação do tempo e do espaço

Há dez anos atuando na área de performance, Angelo acredita que sua arte ainda mantém relação direta com o contemporâneo. “O que torna qualquer tipo de arte relevante é a forma como ela se relaciona com o contexto que a cerca. A performance é uma arte presencial que trabalha com o corpo e não se fecha em si própria. O tempo e o espaço devem estar sempre relacionados com o agora”, explica.

Segundo Angelo, não cabe mais comparar a performance de hoje como a que se fazia em décadas passadas. “Nos anos 60 e 70, por exemplo, havia um contexto de repressão mais evidente. E a performance sempre foi uma prática de resistência política, ética e estética. Hoje, o circuito da arte se desenvolveu de uma maneira tão profissional, que exige uma postura diferente do artista. A tal  ‘luta contra o sistema’ possui outros sentidos”, afirma.

POSTURA

A postura combativa do performer não raro gera polêmica e interpretações variadas. Imagens ligadas a nudez, sexo e religião formam, na cabeça de muita gente, atos recorrentes na performance artística. Angelo refuta esse pensamento da obrigatoriedade do choque como algo gratuito. “O choque não é uma regra. Há performances com muitas nuances diferentes. É possível fazer um trabalho suave e delicado, assim como aquele mais agressivo. Percebi que em Natal o estilo mais forte é o favorito. Talvez seja o diagnóstico de um momento em que a cidade vive. A arte sempre reflete isso”, analisa.

Linguagens que se cruzam

Ainda é cedo para lançar uma conclusão sobre o estado da performance em Natal, mas Angelo Luz sabe que o meio é incipiente. “Há muito mais gente fazendo. Outro ponto, é que várias linguagens conversam com a performance, entre teatro,  música, pintura, literatura e cinema. É uma zona de convergência que as pessoas estão mais aberta para entender. O que alguns artistas precisam é se assumir como performer. O objetivo maior da plataforma é revelar essa prática contemporânea no Brasil”, explica.

Angelo acredita que o tamanho e a miscigenação do Brasil contribuem para a existência de um cenário diverso, que adquire a cara dos contextos em que ele está incluído. “A performance é a verdade do artista. Não é como interpretar Shakespeare, com todas as falas e marcações prontas. A performance nasce do rompimento com os dogmas. É interpretar livremente sua visão interior e a exterior”, diz.

Em “OVNINVO: Discursos Alterados”, que ele apresentará em Natal, é resultado de uma pesquisa sobre hibridação na arte realizada em residência artística na Staedelschule de Frankfurt am Main, na Alemanha. A performance audiovisual fala de assuntos como identidade social e política na cultura contemporânea, em busca de uma linguagem distorcida que surge do cruzamento de linguagens das artes visuais, cênicas e filosóficas. Será a primeira apresentação integral dessa performance no Brasil.

Serviço: Mostra Descontrole Remoto. Sexta às 20h, no Espaço Gira Dança (Rua Frei Miguelinho) e sábado, às 19h, na Casa da Ribeira. Acesso gratuito. Tel.: 3211-7710. 

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