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Quando o sol cura a pele

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Tádzio França
Repórter

O sol é geralmente tido como  um “vilão” para a saúde da pele, mas seus benefícios são reais e vão além de um bronze para exibir no verão. Se a exposição ao astro-rei preocupa – com razão – quem deseja evitar o câncer de pele, por outro lado, beneficia os portadores de psoríase, a doença  que causa vermelhidão, descamação e placas na pele; cerca de cinco milhões de brasileiros possuem esse problema. O sol também gera vitamina D para o organismo e, na hora certa, aumenta a disposição e o humor. Sol com moderação também é saúde.

Cerca de cinco milhões de brasileiros possuem psoríase, a doença que causa vermelhidão, descamação e placas na pele. A maioria das vezes escondidas entre mangas longas e calças, a enfermidade tem tratamento e o sol é um aliado, causando o processo de “queritinização”


Cerca de 5 milhões de brasileiros possuem psoríase, a doença que
causa vermelhidão, descamação e placas na pele. A maioria das vezes
escondidas entre mangas longas e calças, a enfermidade tem tratamento e o
sol é um aliado, causando o processo de “queritinização”

O dermatologista Arnóbio Pachêco, professor, e chefe do serviço de dermatologia do Hospital Universitário Onofre Lopes, criou há dez anos no local um ambulatório voltado para o tratamento de portadores de psoríase, doença que pode atingir até 3% da população mundial. É uma enfermidade crônica, autoimune – ou seja, em que o organismo ataca ele mesmo -, não contagiosa, e que pode ser recorrente. “O portador de psoríase se beneficia da exposição solar, mas ele precisa de um acompanhamento, de um tratamento mais complexo”, ressalta.

Alívio solar
O sol atua na psoríase como um anti-inflamatório. Isso acontece pelo fato de a doença promover uma aceleração na renovação de proteína corporal epidérmica, o processo de “queritinização” que provoca a descamação da pele. “O sol tem uma ação imunomoduladora na psoríase, o que consegue dar um equilibro no sistema imunológico”, explica.

Há um tratamento específico que combina a substância ‘psoraleno’ com a exposição solar: “Chama-se ‘puvasol’, em que a pessoa toma o medicamento e se expõe ao sol durante alguns minutos, de 15 a 30, dependendo da necessidade, e é de grande valia por trazer excelentes resultados. Mas não serve para todos os pacientes, depende do nível de gravidade”, explica. A psoríase varia de pessoa para pessoa, e o tratamento depende muito do tipo, da localidade, da gravidade e do histórico médico do paciente.

As causas da psoríase ainda não são totalmente conhecidas, mas acredita-se num componente genético hereditário não determinado. A doença afeta tanto homens quanto mulheres, e é mais frequente entre jovens adultos – antes dos 35 anos de idade. Arnóbio Pacheco ressalta que há vários graus da doença, de moderadas às mais graves. Por exemplo, a “vulgar” ou “em placas” é a mais comum, caracterizada por lesões de tamanhos variados, delimitadas e avermelhadas, com escamas secas  que surgem no couro cabeludo, joelhos e cotovelos. Nos casos  mais graves, a pele ao redor das articulações pode rachar e sangrar.

Entre as versões mais graves da doença estão a “eritrodérmica”, que causa lesões generalizadas em 75% do corpo (ou mais), com manchas vermelhas que podem coçar ou arder de forma intensa; e a “artropática”, caracterizada por fortes dores nas articulações que podem causar rigidez progressiva, daí também sendo chamada de “artrite psorisíaca”; o tipo “pustulosa” também é raro, atingindo áreas menores como pés e mãos e formando bolhas de pus pouco depois da pele se avermelhar.

O dermatologista Arnóbio Pachêco, chefe do serviço de dermatologia do Hospital Universitário Onofre Lopes, criou há dez anos no local um ambulatório voltado para o tratamento de portadores de psoríase. Sua pesquisa de quatro anos deu origem ao livro “Skin Feeling – Sentindo a Psoríase”


O dermatologista Arnóbio Pachêco, chefe do serviço de dermatologia do
Hospital Universitário Onofre Lopes, criou há dez anos no local um
ambulatório voltado para o tratamento de portadores de psoríase. Sua
pesquisa de quatro anos deu origem ao livro “Skin Feeling – Sentindo a
Psoríase”

A chegada ao mercado dos medicamentos imunobiológicos representou um avanço no tratamento da doença, segundo Arnóbio Pachêco. São remédios injetáveis, produzidos a partir de células vivas cultivadas em laboratório. Eles atuam diretamente sobre as moléculas inflamatórias que estão na origem das lesões cutâneas. A tecnologia dos biológicos começou a ser empregada no Brasil em 2006, sendo que as novas versões são mais precisas que as antigas. Os imunobiológicos foram aprovados recentemente para chegar às farmácias do país.

Sentindo na pele
O dermatologista atesta o fato de a psoríase levar um estigma muito forte de preconceito aos seus portadores. “É uma doença que afeta muito a qualidade de vida dos pacientes, eles precisam de uma atenção especial, que além do atendimento clínico inclui o psicológico”, afirma. Segundo o Estudo Beyond, realizado em nove centros de tratamento e pesquisa em psoríase no Brasil, 63,7% dos pacientes relataram algum tipo de dificuldade no seu cotidiano, associada à dor e a aspectos emocionais provocados pela psoríase. 

Durante quatro anos Arnóbio Pachêco ouviu depoimentos de pacientes do ambulatório do HUOL, que transcreveu no livro “Skin Feeling – Sentindo a Psoríase”, como parte de sua tese de doutorado. “O livro demonstra os sentimentos dessas pessoas, e há muitos depoimentos dramáticos, sobre gente que se isolou do mundo, entrou em depressão, abandonou o trabalho, se separou, desenvolveu ansiedade, e no caso mais extremo, tentou o suicídio”, diz. Os relatos também atestam a eficácia dos tratamentos e sempre encerram com mensagem de superação e apoio. “Os tratamentos modernos devolveram a qualidade de vida, suas atividades normais. É importante conscientizar, mas também passar a mensagem positiva”, diz.

Vitaminados ao sol
O mesmo sol que exige  proteção, também ajuda o organismo humano de várias formas. O astro-rei é responsável por cerca de 90% de aquisição de vitamina D pelo corpo humano (os demais 10% vêm de determinados alimentos). Essa mesma vitamina pode ajudar no tratamento de doenças reumáticas, autoimunes, diabetes e alguns tipos de câncer. Além de fixar o cálcio nos ossos e, com isso, evitar a osteoporose, a vitamina D mantém o equilíbrio, evita quedas e dá mais vigor aos músculos. Pessoas que não podem tomar sol com frequência são indicados a usar suplementos de vitamina D.

A dica é pegar sol no mínimo três vezes por semana, em média durante 15 a 20 minutos, sempre antes das 10 horas da manhã. Gente de pele muito branca deve tomar sol mais cedo e por cerca de cinco minutos, e os de pele escura podem ficar ao sol por um tempo pouco maior. A Sociedade Brasileira de Dermatologia aconselha que pessoas de pele muito clara – as mais vulneráveis ao câncer de pele – devem usar sempre protetor solar e, apenas três vezes por semana, tomar sol – só nos braços. Segundo a entidade, essa exposição já é suficiente para uma incorporação adequada de vitamina D.

“O sol traz alegria, é fonte de felicidade. Mas é importante ter a consciência de como se expor a ele devidamente. Principalmente  numa região como a nossa, que tem alto índice de radiação solar, e a principal fonte de lazer da população é a praia”, afirma Arnóbio Pacheco. Ele ressalta o uso de todo o tipo de proteção, desde a roupa com bloqueio solar, chapéu, boné, viseira, filtro solar, e nunca esquecendo da sombra da árvore, barraca, guarda sol. Arnóbio também defende o autoexame para identificar o câncer de pele. “Por incrível que pareça há pacientes que chegam com três, seis  meses até um ano de lesão pra procurar um médico.  Isso é preocupante”, conclui.  

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