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Quanto à idade de Canguaretama

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Francisco Alves Galvão Neto
Sócio do IHGRN
Em Canguaretama criou-se uma tradição curiosa de comemorar o aniversário da cidade na data de 16 de abril. Essa tradição alicerçou-se nas décadas finais do século passado e criou um hiato na linha do tempo do município, já que fez desaparecer 27 anos preciosos de sua história. Na verdade, comemorar essa data como “emancipação política” é um ato de ignomínia.
O município de Canguaretama foi fundado como vila em 1858 e qualquer historiador raso, com acesso às fontes, vai chagar essa conclusão. Sua “certidão de nascimento” é a resolução 367, decretada e sancionada pela Assembleia Provincial em 19 de julho de 1858. Tempos depois, em 16 de abril de 1885, em reconhecimento ao seu desenvolvimento, a mesma assembleia adjetivou o município como cidade. 
Os municípios brasileiros, desde o período colonial até o advento do Estado Novo, poderiam se enquadrar nessas duas categorias: os menores eram vilas e os maiores eram cidades, fruto da legislação do século XVI. Em Portugal essa legislação ainda possui resquícios.
Canguaretama nasceu da retomada econômica local, em meados do século XIX, com o súbito crescimento da atividade agrícola ocorrida da província do Rio Grande do Norte. Nessa época, os Relatórios Provinciais mostram esse crescimento rápido do município que, em 1860, já possuía 11 engenhos, surgidos, fatalmente, no vácuo deixado pela decadência do Cunhaú e dos Albuquerque Maranhão “autóctones”, decrepitada depois da “Revolução de 1817”.
Canguaretama já existia, como município, desde 1858 e, por esse motivo, precisamos “resgatar” essa história perdida. Neste ano de 2020, estão comemorando 135 anos, mas o sensato seria comemorarmos os 162 (em julho). Os documentos estão aí, são o testemunho da história, provas concretas da memória, um escudo contra a ignorância de quem acredita que os fatos foram construídos a partir de uma vontade particular imutável.
Na verdade, o passado não se muda, o que ocorreu não tem como ser retificado, ficará imóvel em suas brumas amareladas visitadas apenas pela memória. Podemos retificar um erro, retificar um engano, retificar uma informação. O passado e seus fatos ficaram no lugar a que pertencem, no pretérito, não retornam mais. Já a História tem o poder ratificador, pois podemos contar uma nova história com o mesmo passado.
Canguaretama merece mais, muitos mais do que os 27 anos que lhes “roubaram”. Ela é herdeira legítima da história de Vila Flor, uma das primeiras vilas do Rio Grande do Norte, fundada em meados do século XVIII, com qual poderíamos comemorar no mínimo 251 anos. Ficou em Canguaretama a herança incontestável do Cunhaú, fundado no início do século XVII, onde comemoraríamos no mínimo 416 anos. 
Canguaretama também é herdeira do Fortim da Barra, construído pelos franceses, de onde se contaria 465 anos.
Em seu território está guardado um valioso patrimônio arqueológico para o Rio Grande do Norte como o primeiro engenho, a primeira usina, a primeira salina, a primeira mina, a mais remota construção colonial, a imagem sacra mais antiga, os primeiros santos e tantas outras coisas.
Entretanto, vem do seu povo miscigenado a grande contribuição. Um povo alegre e acolhedor numa vivência transitória, mas que guardou suas reminiscências. Um povo que criou seus motes para cantar alegrias e tristezas numa terra onde surgiu a primeira oligarquia e o primeiro sindicato. Com esse povo eu grito: “Viva Canguaretama, que se refaça sua história!” 
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