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Que Saudade!…

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Confesso Senhor Redator, agora que ainda trago o cansaço no corpo e velhos frevos nos ouvidos: foi bom ter saído na Bandagália. Foi Rejane que insistiu quando improvisou a fantasia que embora discreta, como é do seu espírito, derramava alegria nas fitas coloridas que caiam dos seus ombros. Saudade da juventude que já dobrou a esquina, como um bolero antigo, quando o mundo era pequeno e a alegria de viver só dependia da gente, só da gente.

Máscara de carnaval

Outro dia, quando o ânimo parecia mais velho do que nunca – naqueles dias em que o dia, por alguma razão, nos envelhece ainda mais – li num texto que a memória já cansada não guardou a autoria: há um sol na solidão e um mel na melancolia. Leitor diário da poesia de Manuel Bandeira, como se fosse um velho Adoremus que mora no criado mudo e encardido pelo manuseio dos anos, ninguém foge da tristeza, daquele jeito triste, triste, de não ter jeito.
O que muda, e o inesperado também pode ser uma forma de renovação, é esse sol que se levanta e esse mel que adoça a boca. E logo alguma coisa mágica que parecia tão longe vai acordando com a força antiga do gerúndio que, se de um lado apascenta, do outro, aceita o ritmo mais lento. O passo curto, vencendo a distância, subindo as ruas, ainda que não se ande na direção de lugar nenhum, se a alegria – ora! – é só repetir os caminhos tão conhecidos.

É a vida que parece de repente fugir do álbum de fotografias guardado na cômoda da família. E vai, como uma fugitiva, alegre com a liberdade, feita de sua ousadia mansa, de uma coragem serena, sem heroísmos feitos de heróis mambembes, bêbados de poder. Há os que se embriagam de vinho, cachaça, cerveja, sonhos. São os bons. E há os outros, os embriagados de poder, aqueles que tentam subjugar a vida com a sola dos borzeguins e suas grosserias.

Há os que duvidam da alegria e tentam carimbar com as marcas do medo, como se a alegria não fizesse parte das revoltas, por tão alegremente soberana. São uns tolos. Desde Roma vive na boca do povo há séculos – Ridendo castigat mores! Sim, o riso castiga os costumes. Se maus, é bom ter cuidado. O alegre não precisa renegar o passado, exorcizá-lo como diabólico. A alegria é sagrada e é profana, são os anjos e demônios da própria vida.

Por isso foi bom. Só o riso tem a força capaz de dessacralizar a falsa sagração que esconde nas cores patrióticas a ameaça e o medo, a dor e a opressão. Há um bom acervo sobre o riso na literatura brasileira, desde as conferências de Carlos Maul, em 1913, e Procópio Ferreira, em 1933. E uma vasta e erudita bibliografia já traduzida no Brasil. Mas é carnaval. Não fica bem citar livros velhos e novos, logo agora que o riso vai castigar em nome de todos. 

OLHO – Há anos que o fornecimento de quentinhas ao sistema prisional é uma caixa preta. Ainda que nada venha a se constatar, a glosa de R$ 6,4 milhões já é boa como transparência.

INCRÍVEL – Enquanto Natal parece relegada como um dos points turísticos no Nordeste, seus executivos estatais tiram férias, viajam, e, de volta das férias, viajam de novo. Genial.

VIRTUDE – Para quem duvida do nacionalismo como modelo saiu no Brasil “A Virtude do Nacionalismo”, de Yoram Hazony. Um israelense pós-graduado na área de ciência política.

AMOR – Para um circunstante impressionado com o fim do amor nas cumeadas do Jet set natalense e nem terminou o verão: o amor acaba. Já avisou o grande Paulo Mendes Campos.  

TIRO – De um deputado com muitos anos de janela, do alto do Poder Legislativo, ouvindo os tiros: “Desconfie de quem usa sua metralhadora para atirar contra o passado. É lamentável”.

HUMOR – O presidente Jair Bolsonaro virou personagem de folheto de cordel: “O cara que só diz o que não presta”. Na capa, em traje de demônio, serpente na cabeça e cheio de fuzis.

LUTA – De um professor de filosofia lembrando Pascal ao olhar uma mulher grandalhona, toda suada, a máscara de demônio: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”.

SAUDADE – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, a alma sob o mormaço do uísque “Saudade das mulheres mascaradas quando o desejo, consentido, fugia pelos olhos”.

PAIXÃO – Esta coluna avisa a quem, via e-mail, desafiou este cronista já passado em anos: não é deste pobre ofício o destino de revelar amores proibidos. E por uma razão simples, se não chega a ser prosaica: a paixão súbita é da natureza humana e vive do outro lado da lua.

DEPOIS – A ninguém se deve negar o amor, se vem como um grito de desespero e toma conta da vida. Se nos mais vividos vence as sentinelas e certamente tem a força dos que não temem os versos da canção popular quando avisa que amar, às vezes, é sofrer muito mais.

ALIÁS – Se outro mister mais nobre não lhe coubesse a justificar esse dar de ombros de não  noticiar um amor proibido, bastariam os versos do poeta Carlos Drummond de Andrade que viveu um amor tão assim a vida inteira: “O que se passa na cama / é segredo de quem ama”.

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