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Queda da natalidade gera temores

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Bernard Condon
Associated Press

Nova York (AE) – Nancy Strumwasser, professora de escola secundária em Mountain Lakes, New Jersey, sempre imaginou que teria dois filhos. Mas as demissões que varreram a economia dos Estados Unidos, mais ou menos na época em que seu filho nasceu, a fizeram mudar de ideia. Embora ela e o marido, um pesquisador de mercado, tenham conseguido manter seus empregos, Nancy teme que eles talvez não tenham tanta sorte na próxima vez. “Depois que tivemos um filho, em 2009, pensei: ‘isso não vai voltar a acontecer’”, disse Nancy, de 41 anos.

A crise financeira que se seguiu à falência do banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, em 2008, fez mais do que dizimar bilhões de dólares em riqueza e milhões de postos de trabalho. Causou também a forte queda das taxas de natalidade em todo o mundo, à medida que os casais se viram com pouco dinheiro e ficaram demasiadamente temerosos com sua situação financeira para terem filhos. Seis anos depois, as taxas de natalidade ainda não se recuperaram. Para um planeta com excesso de habitantes, a notícia é boa. Para a economia, nem tanto.

O senso comum diz que o crescimento econômico é fruto do trabalho duro e mais racional. Economistas, porém, afirmam que um terço do aumento do Produto Interno Bruto (PIB) depende da ampliação da força do trabalho. Agora, esse combustível secreto da economia, que dificilmente é escasso e ao qual pouco se dá atenção, está chegando ao fim. “Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, não estamos mais tendo ventos favoráveis”, comenta Russ Koesterich, estrategista chefe de investimentos da BlackRock, a maior gestora de fundos do mundo.

#SAIBAMAIS#O número de nascimentos está caindo na China, no Japão, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Itália e em quase todos os outros países europeus. Estudos mostram que a taxa de natalidade diminui quando o desemprego aumenta, como ocorreu durante a Grande Depressão da década de 1930. A queda é mais pronunciada em algumas regiões mais afetadas pela crise financeira. Nos EUA, três quartos dos entrevistados pelo instituto Gallup no ano passado disseram que o principal motivo para os casais não terem mais filhos é a falta de recursos e temores em relação à economia.

A tendência ganha força à medida que uma importante medida da futura saúde econômica – o crescimento do grupo de trabalhadores em potencial, com idades entre 20 e 64 anos – dá sinais de problemas mais adiante. Esse grupo vinha crescendo há várias décadas, graças à ampla geração de baby-boomers (pessoas nascidas entre 1945 e 1964). Com a aposentadoria dos baby-boomers, porém, quase não há gente nova para substituí-los, muito menos para ampliar a força de trabalho.

De modo geral, o crescimento da população em idade de trabalhar se estagnou nos países desenvolvidos. Mesmo na França e no Reino Unido, que têm taxas de natalidade relativamente saudáveis, a expansão da força de trabalho se desacelerou drasticamente. No Japão, na Alemanha e na Itália, esse grupo está diminuindo.

“É como saúde: você só se dá conta que existe quando já não a tem mais”, comentou Alejandro Macarron Larumbe, diretor-gerente de uma entidade com foco em demografia, de Madri.

O recuo nas taxas de natalidade teve início na década de 1960, quando muitas mulheres entraram no mercado de trabalho pela primeira vez e os casais decidiram formar famílias menores. No novo milênio, o número de nascimentos voltou a crescer em muitos países. Até que veio a crise financeira. Os preços das ações e dos imóveis despencaram, causando um rombo nos orçamentos familiares, e dezenas de milhões de pessoas perderam seus empregos. Muitos casais adiaram – ou cancelaram – planos de ter filhos.

Nas cinco maiores economias desenvolvidas do mundo – EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido -, os casais tiveram 350 mil menos bebês em 2012 que em 2008, uma queda de quase 5%. A Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que as mulheres desses países terão em média 1,7 filhos durante a vida. Já demógrafos dizem que a taxa de fertilidade precisa chegar a 2,1 apenas para substituir os mortos e manter a população constante.

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